domingo, 9 de fevereiro de 2020

Nun sei... se l tiempo trairá de buolta la poesie, se inda bestirei de spráncia


...talvez o tempo seja amigo e traga 
vestes floridas de esperança. 



CHOVE NA PRAÇA

Não sei se chove na praça, meu amor,
se o vento desnuda as árvores da confiança
que nos fustigam o caminho
e nos atiram cascalhos de mudança.
Uma a uma vão caindo as certezas.
os cabelos branqueando
e o sorriso amarelecendo.
As horas arrastam-se lentas e tardias
sem nos devolverem o tempo das cerejas
e as rosas que no peito me trazias.
Não sei se chove na praça, meu amor,
não sei se logo veremos as estrelas
e se o nosso olhar se cruzará entre elas.
Não sei se chove na praça, meu amor,
se o tempo trará de volta a poesia,
se ainda me vestirei de esperança
e se encontrarei
a melodia que a aurora em nós escrevia.
pg 110


CHUOBE NA PRAÇA

Nun sei se chuobe na praça, miu amor,
se l aire znuda las arbles de la cunfiança
que mos fustígan l camino
i mos atíran chinicas de mudança.
Ua a ua ban caendo las certezas,
ls pelos branquiando
i l sonriso amarelhecendo.
Las horas arrástran-se debagarosas e tardies
sien mos debolbéren l tiempo de las cereijas
e las rosas que ne l peito me trazies.
Nun sei se chuobe na praça, miu amor,
nun sei se lhougo beremos las streilhas
i se l nuosso mirar se cruzará antre eilhas.
Nun sei se chuobe na praça, miu amor,
se l tiempo trairá de buolta la poesie,
se inda bestirei de spráncia
i s'ancuntrarei
la melodie que l'ourora an nós screbie.
pg 111

Teresa Almeida Subtil
in: Rio de Infinitos/Riu d'Anfenitos
Livro em português e mirandês

Teresa Almeida Subtil, (Miranda do Douro, Trás-os-Montes, Portugal) - através das palavras desafia o tempo, solidifica o tempo, apura a sensibilidade e revive os estados de alma que na sua vida foram chama, luz e caminho. A poesia, a pintura e a dança são actividades que a apaixonam.





Sobre o Mirandês, Teresa diz-nos, entre outras considerações
Sempre senti a sonoridade e o encanto desta língua. Ser raiano no planalto mirandês é andar abraçado a três línguas: o Português, o Castelhano e o Mirandês. A mistura é quase inevitável. Diversos fatores se conjugaram para que o mirandês mantivesse a sua autenticidade e em 1998 a Língua Mirandesa (património linguístico notável) foi oficializada na Assembleia da República. 

Veja mais nesta entrevista em: Memórias...e outras coisas

Blog da autora: O perfume do verso

Nota:
Não me tendo sido possível encontrar listagem da sua bibliografia,
remeto-vos para o seu blog, onde encontrareis referências preciosas.

In Rio de Infinitos/Riu d'Anfenitos:

Teresa Almeida Subtil escreve em tom de desafio, movimento e emoção. Inseriada no sacrário da língua mirandesa, deixa-se seduzir pela sonoridade e riqueza vocabular desta língua, soltando na palavra o seu jeito de raiana, como se cantasse e dançasse os sons da terra. Apelidada de "filha de Torga" (Conceição Lima), a sua geografia é de amor (Amadeu Ferreira) e a poesia é o seu traje de madrugar (Alfredo Cameirão). 

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Poema :in Rio de Infinitos/Riu d'Anfenitos pgs 110 e 111
Imagem : pixabay

Quinzena do amor
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9 comentários:

  1. Um belíssimo poema de uma poeta que desconhecia.
    Abraço e bom domingo

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  2. Também sou admiradora da poesia da Teresa Subtil,
    das suas imagens telúricas ou deliciosamente bucólicas
    permeadas da doce, mas fecunda e arguta sensibilidade.

    A ambas, o meu terno abraço, votos de ótima tarde e
    excelente semana.
    ~~~~~

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  3. Querida Olinda,
    Que bom ler a Teresa Almeida aqui no teu blog, também!

    "Uma a uma vão caindo as certezas.
    os cabelos branqueando
    e o sorriso amarelecendo."

    Nesse seu belo poema, na medida em que bebia das verdades tão claras, fui olhando meu caminho, meu andar... A poesia só vale quando deixa em nós pontos de reflexão, de felicidade, de agonia, de dúvidas. Quando possibilita abrirmos nossa alma.
    Um beijo a vocês duas, queridas, uma ótima semana a ambas.

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  4. Mais uma bela escolha. Parece-me retratar o amor com o avançar dos anos ou talvez um amor ausente com a ainda esperança de um reencontro.

    Abraço e bom início de semana

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  5. Olinda, minha amiga

    um belo poema, dolente e melodioso, da talentosa Poeta, Teresa Almeida Subtil, minha conterrânea e amiga, que apreciei muito ter lido neste espaço de cultura e inteligência.

    quando duas mulheres, talentosas e sensíveis, se encontram sob o signo do amor e da poesia, o resultado apenas poderia ser o que é - excelente e muito gratificante para o leitor.

    gostei muito
    abraço



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  6. Boa noite de domingo, querida amiga Olinda!
    Gostei do poema que não conhecia.
    Confiança, mudança... esperança... Belos notes numa vida plena.
    Tenha uma nova semana abençoada e feliz!
    Bjm carinhoso e fraterno de paz e bem

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  7. Ao passar o cursor, reconheci, de imediato, palavras minhas. Acontece-me identificá-las em qualquer lado.
    Calcule a minha felicidade, querida Olinda, quando vi- no seu valioso blogue - que chovia na praça. Gosto de me enquadrar no tema do amor.

    Tenho andado perturbada com trabalhos e problemas de computador, mas tinha a certeza que passaria por aqui e leria tudo. Sei que não posso perder nada.

    Num apertado abraço de amizade deixo o meu reconhecimento.

    A minha biografia está no fim do livro "Rio de Infinitos"

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  8. Dedicar-me a "andorinha" de Madredeus é de enorme sensibilidade e bom gosto. É um grupo e um tema que me são íntimos e me transmitem bem-estar e elevação.

    Meu terno abraço, querida Olinda.

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  9. Nestas maravilhosas flores, abrilhantadas pela chuva, colho e devolvo - em dobro - o carinho que me dedicaram.

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