A minha filha quando era miúda vinha do colégio com uma cantiguinha que começava assim: "Pinheirinho, pinheirinho / de ramos verdinhos/ P'ra enfeitar, p'ra enfeitar/Bolas bonequinhos..." e insistindo para que se armasse a árvore ainda em pleno Novembro. Com o correr do tempo já é normalíssimo vermos montras e lojas em Outubro com sugestões natalícias. Ainda hoje sinto que começarmos a realizar esses enfeites muito cedo tira um pouco da magia daquilo que se quer transmitir.
Assim, a árvore era montada em princípios de Dezembro, a par com o presépio, e contava-lhe o seu significado para não nos perdermos completamente da história ou da ideia de Francisco de Assis: o presépio representando o menino Jesus, Maria e São José e os pastores, mais os animais e, já agora, os Reis Magos; a árvore de Natal uma representação que foge da nossa realidade levando-nos para as terras frias e trazendo de lá a ideia de um ser mágico que pode cumprir os nossos mais caros desejos.
Aqui para nós: As árvores, as bolas, as guirlandas, as luzes, os presentes, os laços, as fitas, a afobação, a angústia que toma conta de nós (ai que é que eu vou oferecer a A, B ou C), o tempo que se escoa até à data fatal que deveria ser de alegria e felicidade se realmente quiséssemos festejar momentos com a família, já são coisas que não conseguimos controlar porque abarcam a sociedade e envolvem um grande negócio. Promovemos essa ilusão, deixamo-nos levar por ela e, conscientemente, adoramos transmiti-la às crianças até que elas próprias descobrem que foram burladas. Essa descoberta causa-lhes quase sempre uma grande decepção e a primeira certeza de que os adultos não são de fiar.
Um aparte que se impõe: estou para aqui a falar, criticando, no entanto, adoro toda essa envolvência que o Natal produz. Uma contradição...
Mas, continuando.
Ao fim e ao cabo tudo tem um princípio, embora as situações e a maneira de pensar evoluam. É o que acontece com isso da árvore de Natal. Diz-se que civilizações antiquíssimas, 3º milénio a.C, consideravam as árvores como um símbolo divino, ligando-as a entidades mitológicas. A sua verticalidade, das raízes à copa, marcava uma aliança entre o céu e a terra. Povos pagãos da região dos bálticos cortavam pinheiros que enfeitavam quase como se faz na actualidade.
No início do século VIII, o monge beneditino São Bonifácio tentou acabar com essa crença pagã que havia na Turíngia, para onde fora como missionário. Com um machado cortou um pinheiro sagrado, que os locais adoravam no alto de um monte, e como teve insucesso na erradicação da crença, decidiu associar o formato triangular do pinheiro à Santíssima Trindade e suas folhas resistentes e perenes à eternidade de Jesus. Nascia aí a Árvore de Natal. * Até Martinho Lutero, o homem da Reforma, gostava de enfeitar pinheiros na floresta, segundo consta.
Por isso, nós, pobres mortais desta era não fazemos nada por aí além na nossa adoração aos pinheiros, especialmente na quadra do Natal. Até porque temos ou tínhamos um motivo bastante válido nesse sentido que nos vem do tempo de D. Dinis que mandou plantar o Pinhal de Leiria, como é voz corrente. Contudo, li há pouco tempo que foi D. Afonso III quem tomou essa iniciativa. Será?
Tenho de reler o livro de Cristina Torrão, "Dom Dinis - a quem chamaram o Lavrador", para ver se diz alguma coisa sobre isso. Cristina Torrão é uma escritora que faz de temas da História de Portugal, Idade Média, excelentes romances sem esquecer o rigor histórico.
Infelizmente, o Pinhal de Leiria que veio do Sec. XIII ou XIV foi praticamente devorado pelas chamas nos incêndios de 17 de Outubro de 2017. Faço votos para que mulheres e homens de boa vontade, todos nós, trabalhemos no sentido de recuperar esse património.
Um pinheirinho, um pinheiro, um Pinhal e um texto extemporâneo. Mas como diz o poeta, mais precisamente José Carlos Ary dos Santos, Natal... é quando um homem quiser, no caso, é quando uma mulher quiser.
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Ao fim e ao cabo tudo tem um princípio, embora as situações e a maneira de pensar evoluam. É o que acontece com isso da árvore de Natal. Diz-se que civilizações antiquíssimas, 3º milénio a.C, consideravam as árvores como um símbolo divino, ligando-as a entidades mitológicas. A sua verticalidade, das raízes à copa, marcava uma aliança entre o céu e a terra. Povos pagãos da região dos bálticos cortavam pinheiros que enfeitavam quase como se faz na actualidade.
No início do século VIII, o monge beneditino São Bonifácio tentou acabar com essa crença pagã que havia na Turíngia, para onde fora como missionário. Com um machado cortou um pinheiro sagrado, que os locais adoravam no alto de um monte, e como teve insucesso na erradicação da crença, decidiu associar o formato triangular do pinheiro à Santíssima Trindade e suas folhas resistentes e perenes à eternidade de Jesus. Nascia aí a Árvore de Natal. * Até Martinho Lutero, o homem da Reforma, gostava de enfeitar pinheiros na floresta, segundo consta.
Por isso, nós, pobres mortais desta era não fazemos nada por aí além na nossa adoração aos pinheiros, especialmente na quadra do Natal. Até porque temos ou tínhamos um motivo bastante válido nesse sentido que nos vem do tempo de D. Dinis que mandou plantar o Pinhal de Leiria, como é voz corrente. Contudo, li há pouco tempo que foi D. Afonso III quem tomou essa iniciativa. Será?
Tenho de reler o livro de Cristina Torrão, "Dom Dinis - a quem chamaram o Lavrador", para ver se diz alguma coisa sobre isso. Cristina Torrão é uma escritora que faz de temas da História de Portugal, Idade Média, excelentes romances sem esquecer o rigor histórico.
Infelizmente, o Pinhal de Leiria que veio do Sec. XIII ou XIV foi praticamente devorado pelas chamas nos incêndios de 17 de Outubro de 2017. Faço votos para que mulheres e homens de boa vontade, todos nós, trabalhemos no sentido de recuperar esse património.
Um pinheirinho, um pinheiro, um Pinhal e um texto extemporâneo. Mas como diz o poeta, mais precisamente José Carlos Ary dos Santos, Natal... é quando um homem quiser, no caso, é quando uma mulher quiser.
DESEJO-VOS UM BOM ANO
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