sexta-feira, 10 de abril de 2020

Dores e desaires dos caminhantes




Que palavras
poderão espelhar este desaire
ensinaram-me o abc
deram-me a conhecer
letras e sílabas
sentenças e provérbios
ditos e cantigas

Ensinaram-me
que as letras
que as palavras
traduzem
reproduzem
encantam
contam
pensamentos
intentos
devaneios
e sonhos


Para tanta aflição expressar
esta dor queimando
a minha alma
o nosso infortúnio

Este punhal...
cravado no meu chão
maldição de que deuses
para dilacerar
as estranhas da gente?
como aplacar tanta
e tamanha dor
ninguém me desvendou
tal segredo.
-



Maria Odete da Costa Soares Semedo nasceu em Bissau, a 7 de Novembro de 1959. Aos 18 anos iniciou as suas atividades como professora. Licenciou-se em Línguas e Literaturas Modernas (Estudos Portugueses) pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (1989/1990). Assumiu, ao regressar à Guiné-Bissau, a Coordenação Nacional do Projeto de Língua Portuguesa no Ensino Secundário, financiada pela Fundação Gulbenkian. Foi Diretora da Escola Normal Superior Tchico-Té; exerceu ali ao mesmo tempo suas atividades de professora. A partir de 1995 passou a desempenhar as funções de Diretora Geral do Ensino. Foi Presidente da Comissão Nacional para a UNESCO - Bissau. Assumiu as funções de Ministra da Saúde e de Ministra da Cultura. Doutorou-se em Letras pela PUC Minas, Brasil.



Eneida Marta : Guiné-Bissau

Traduziu para crioulo o guião do filme Olhos Azuis de Yonta do cineasta Flora Gomes e participou na rodagem do mesmo filme como assistente de realização.

Participou na Anthologie de Literatures Francophones de l'Afrique de l'Ouest, Éditions Nathan, Paris, 1994. Foi co-fundadora e é membro do Conselho de Redacção da Tcholona, Revista de Letras, Artes e Cultura. Mais: aqui


Leia, se interessar:

O que é feito da Guiné-Bissau?
    Um paraíso (quase) perdido
   Reportagem da TVI24


=====

Poema: No fundo do canto.Odete Semedo, Belo Horizonte: Nandyala, 2007.

Veja posts, desta série, sobre:
Amílcar Cabral
Vasco Cabral
António Baticã Ferreira

Agnelo Regalla

Hélder Proença

.A Literatura Guineense: Contribuição para a identidade da Nação, de Joaquim Eduardo Bessa da Costa Leite (Tese de doutoramento, 2014 - Coimbra) - pg 10


Imagem: daqui

7 comentários:

  1. Poema deslumbrante. Existem ilustres poetas e poetisas em todos os cantos do mundo.
    .
    Dentro do possível
    Uma Páscoa muito feliz

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  2. Lindo poema,gostei muito! Desejo desde já, Feliz Páscoa! bjs, chica

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  3. Publicação com poema magistrais! Parabéns!
    -
    Pode um coração ser pequeno e tão grande
    -
    Beijo e uma excelente Sexta - Feira Santa

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  4. Boa Noite de Sexta da Paixão, querida amiga Olinda!
    Vídeo bonito, delicado e alegre.
    "... Como aplacar tanta
    e tamanha dor
    ninguém me desvendou
    tal segredo"
    Só nos resta orar para atenuar um pouco...
    Vamos vencer, minha amiga!
    Tenha dias abençoados!
    A caminho da Páscoa.
    Bjm carinhoso e fraterno de paz e bem

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  5. ... entretanto as águas do rio da minha aldeia
    transportam memórias mas têm sempre um caminho
    até o mar as receber num abraço de limos

    Bj

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  6. Maravilhoso poema, veio lá do fundo de sua alma!
    Bela publicação, querida Olinda.
    Beijo, cuide-se.

    "Para tanta aflição expressar
    esta dor queimando
    a minha alma
    o nosso infortúnio"

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  7. Poema vivo. Expressa bem as agruras da gente boa e simples, como a conheci.
    Lindo.

    Parabéns e desejos de Páscoa Feliz quanto possível.

    Beijo
    SOL

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