quinta-feira, 16 de maio de 2024

Favo de Teu Nome




 Amoráveis os dias, assim colhidos

Como pétalas em teu regaço

E a doçura de teus olhos

Onde aportam todas as viagens


Deixemos, sim, que o tempo se faça solstício

E do momento guardemos a doce espera

E o favo de teu nome. E desfolhemos

Os dedos numa carícia breve

Como se fora a brisa

Sobre a pele.

Manuel Veiga

In: Coreografia dos Sentidos
pg.46


Nasceu em Matela, concelho de Vimioso, Trás-os-Montes. É licenciado pela Faculdade de Direito da Universidade Clássica de Lisboa. Exerceu advocacia alguns anos no início de carreira, que depois prosseguiu como consultor Jurídico em Municípios da Área Metropolitana de Lisboa e, mais tarde, como Inspetor Superior da Inspeção Geral da Educação, onde desempenhou funções no respetivo Gabinete Jurídico. 
Veja mais aqui, inclusivamente as 
obras publicadas


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Blogue do Autor:




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Imagem: pixabay

domingo, 12 de maio de 2024

Terra das Acácias

 Para a Ana Tapadas - Rara Avis





Presença Africana

E apesar de tudo,
ainda sou a mesma!
Livre esguia,
filha eterna de quanta rebeldia
me sagrou.
Mãe-África!
Mãe forte da floresta e do deserto,
ainda sou,
a Irmã-Mulher
de tudo o que em ti vibra
puro e incerto...

A dos coqueiros,
de cabeleiras verdes
e corpos arrojados
sobre o azul...
A do dendém
nascendo dos abraços das palmeiras...

A do sol bom, mordendo
o chão das Ingombotas...
A das acácias rubras,
salpicando de sangue as avenidas,
longas e floridas...

Sim!, ainda sou a mesma.
A do amor transbordando
pelos carregadores do cais
suados e confusos,
pelos bairros imundos e dormentes
(Rua 11!...Rua 11!...)
pelos meninos
de barriga inchada e olhos fundos...

Sem dores nem alegrias,
de tronco nu e musculoso,
a raça escreve a prumo,
a força destes dias...

E eu revendo ainda, e sempre, nela,
aquela
longa história inconsequente...

Minha terra...
Minha, eternamente...

Terra das acácias, dos dongos,
dos colios baloiçando, mansamente...
Terra!
Ainda sou a mesma.
Ainda sou a que num canto novo
pura e livre,
me levanto,
ao aceno do teu povo!




Alda Pires Barreto de Lara e Albuquerque, mais conhecida por Alda Lara, nasceu a 9 de junho de 1930, Benguela, Angola e faleceu a 30 de janeiro de 1962, em Cambambe, Angola. Foi uma poetisa e médica angolana com origem portuguesa.  aqui


Sebastião Antunes e Luís Represas


No dia em que nos 
vamos encontrar


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Hoje comemora-se o Dia das Mães no Brasil. Os meus Parabéns
e Votos de felicidades a Todas as Mães.







Olá, Ana

O motivo da dedicatória está contido no comentário a este post:

Eu pensei, de imediato, nalguns poemas de Alda Lara.

E então, lembrei-me de revisitar os seus poemas e trazer este.

Outra coisa: 
Fiquei a conhecer Sebastião Antunes na tua penúltima publicação.
E gostei.

Desejo bom fim-de-semana a todos os amigos que por aqui passarem.

Abraços
Olinda


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quarta-feira, 8 de maio de 2024

Autos de Gil Vicente

   Se, no Auto da Alma, a dominante são os sentimentos piedosos e a vitória tranquila do Bem sobre o Mal, não será essa a tónica geral das peças. No Auto da Barca do Inferno (1517), a mais importante da Trilogia das Barcas (Inferno, Purgatório e Glória), os critérios de selecção serão mais mordazes e exigentes. Nela, o Fidalgo é condenado por ter levado uma vida dissoluta de luxúria. O Onzeneiro (agiota) perde-se pela ganância, usura e avareza. O Sapateiro vai para a Barca do Inferno por roubar o povo no seu ofício e por falsidade religiosa. O Frade e a Amante não vão para o Paraíso pelo seu falso moralismo. Brísida Vaz, feiticeira e alcoviteira, vai para o Inferno por essas práticas e ainda a da prostituição. O Judeu, que se faz acompanhar de um bode, é condenado por desrespeitar a religião cristã. O Corregedor e o Procurador não têm salvação por terem usado o poder judicial em proveito próprio. O Enforcado, que cometeu crimes ao serviço de Garcia Moniz, também é condenado.

   Só têm acesso à Barca do Paraíso o Parvo, pela sua simplicidade e modéstia, e os Quatro Cavaleiros que morreram nas Cruzadas pela vitória do cristianismo.

   Testemunha de um tempo de mudança e de rápida riqueza trazida pelas caravelas - bem como milhares de escravos -, Gil Vicente não se deixa embalar na vertigem do presente. Pelo contrário, denuncia-a a cada passo, cara a cara com a realeza, a fidalguia do paço, o clero e os altos funcionários. (Excerto) *



Gil Vicente (c. 1465 – c. 1536) é considerado o primeiro grande dramaturgo português, além de poeta de renome. Enquanto homem de teatro, parece ter também desempenhado as tarefas de músico, ator e encenador. É considerado o pai do teatro português, ou mesmo do teatro ibérico, já que também escreveu em castelhano — partilhando a paternidade da dramaturgia espanhola com Juan del Encina. Mais aqui

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Avançando no tempo. 
A 9ª Sinfonia de Beethoven, completa 200 anos. Foi apresentada pela primeira vez em 7 de maio de 1824, no Kärntnertortheater, em Viena, na Áustria.

O regente foi Michael Umlauf, diretor musical do teatro, e Beethoven — dissuadido da regência pelo estágio avançado de sua surdez — teve direito a um lugar especial no palco, junto ao maestro. 





O Hino da Alegria, ou Ode à Alegria, poema escrito por Friedrich Schiller em 1785 e tocado no quarto movimento da 9.ª sinfonia de Ludwig van Beethoven, foi adoptado como Hino da União Europeia.

Neste poema Schiller expressa uma visão idealista da raça humana como irmandade, uma visão que tanto este como Beethoven partilhavam.



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*Excerto: Livros- Tudo o que é preciso ler - 
Christiane Zschirnt, pg.339
Imagem: Net

domingo, 5 de maio de 2024

MÃE




Em Tudo o que Fiz Bem Pus um Pouco de Ti


Eis o teu rosto iluminado por esta hora de maio.
Ao filho autêntico, basta fechar os olhos para encontrar o rosto da sua mãe.
A fronteira que separa o dentro do fora é vaga de propósito, mais exata é a fronteira dos meses.

Mãe, as tardes de maio não são um acaso.
Pus um pouco de ti naquilo que fiz de mais importante.
Onde existir terra estás tu, dás força e horizonte.

O ar não permitiria respiração se não te contivesse.
A água não seria capaz de alimentar sem a tua presença líquida.
O fogo não chegaria a acender se não incluísse o teu mistério no seu mistério.
Estavas já no primeiro início do firmamento, nesse rugido que encheu a superfície do céu e da terra, que rasgou as trevas; da mesma maneira, estarás no seu último fim.

Estás antes e depois.
Estás na lenta passagem da eternidade.
Mãe, atravessas a vida e a morte como a verdade atravessa o tempo, como os nomes atravessam aquilo que nomeiam.
Sabes que criei tudo o que há e sabes também que não criei tudo o que poderia haver.

Entre as faltas evidentes, estão palavras capazes de dizer a tua beleza.
Indistintas do silêncio, essas palavras esperam por um tempo que não chegará e, assim, fazem com que a tua beleza seja impossível.
Essa é a natureza do divino, existe e é impossível.

Mãe, a falta de palavras para dizer a tua beleza não é um acaso.
A tua beleza não quer ser dita, prefere ser contemplada.
Os olhos não têm a ambição de possuir.

A tua beleza é a tua liberdade.
Por isso, mãe, por amor e respeito, pus um pouco de ti em tudo o que fiz.
Não se pode olhar para qualquer ponto desta obra sem te ver.
Mãe, este instante não é um acaso.
Em tudo o que fiz bem pus um pouco de ti.

José Luís Peixoto, 
in 'Em Teu Ventre'


Antigamente o Dia da Mãe festejava-se no dia 8 de Dezembro, um feriado da Igreja Católica. Depois foi definido como sendo o primeiro domingo do mês de Maio. Mas não nos incomoda pois não é preciso um dia específico para se falar da nossa Mãe, não é verdade? Ou das Mães em geral. Aproveitemo-lo mesmo assim...

Como vêem, trago para assinalá-lo as palavras de um lindo texto de 
José Luís Peixoto, escritor que admiro.

Além disso, também se comemora hoje o 
Dia Mundial da Língua Portuguesa,
data criada pela CPLP. 



D.A.M.A.


 MÃE



Desejo a Todas as Mães um dia Feliz.

Grande abraço
Olinda


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Poema: Citador

sexta-feira, 3 de maio de 2024

Painéis fotovoltaicos

Na ensolarada Califórnia parece que há luz a mais. Os telhados estão pejados de painéis solares. Foi dado tanto incentivo para que as pessoas os adoptassem que agora são tantos que brigam com a rede eléctrica. Não há fome que não dê em fartura.

Por cá também o Sol não se faz rogado, em certos dias. No Verão vai ser em maior quantidade. Tenho visto alguma publicidade por cá em o que João imita o Manuel que imita o Joaquim que imita a Maria...

Qualquer dia estaremos com o mesmo problema da Califórnia. Mas até chegar ao ponto de termos luz barata vamos ter muito que penar.




Ora veja esta notícia.


Boa sexta-feira, meus amigos.

Abraços

Olinda

quarta-feira, 1 de maio de 2024

Dia do Trabalhador

É a primeira vez que assinalo, aqui, o 1º de Maio. Nestes 50 anos da Revolução achei por bem mencioná-lo. Foi graças a esse acontecimento, que nos trouxe a liberdade de expressão e de estar, que se tem podido festejar o Dia do Trabalhador, como é designado.

Hoje há que festejar o Dia e relembrar uma vez mais o país que tínhamos. E nada melhor do que Ary dos Santos, com a sua verve poética e declamação inspiradora para nos transmitir todos os detalhes.


Era uma vez um País
....onde entre o mar e a guerra,
 vivia o mais infeliz 
dos povos à beira-terra...



Ary dos Santos 
As Portas que Abril Abriu

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E Graça Pires, neste belo poema, fala na mudança operada nas gentes depois da Revolução de Abril de 1974:


O país não parecia o mesmo,

Antes tinha um povo tristonho,

cabisbaixo, desacertado com a esperança.

Agora dava gosto ver e ouvir as pessoas,

mais leves, mais jovens, com braçadas

de flores a intuir alegrias futuras.

Não havia mágoas neste dia prodigioso

em que tudo era novo outra vez.

Alta noite iriam todos para casa

porque a febre dos corpos lhes apetecia.

in: Era madrugada em Lisboa
pg 31


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Fernando Tordo


-Adeus Tristeza-


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Esta data tem origem na primeira manifestação de 500 mil trabalhadores nas ruas de Chicago, e numa greve geral em todos os Estados Unidos, em 1886.

Três anos depois, em 1891, o Congresso Operário Internacional convocou, em França, uma manifestação anual, em homenagem às lutas sindicais de Chicago. A primeira acabou com 10 mortos, em consequência da intervenção policial.

Foram os factos históricos que transformaram o 1 de maio no Dia do Trabalhador. Até 1886, os trabalhadores jamais pensaram exigir os seus direitos, apenas trabalhavam.  (
Veja mais aqui)


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Os meus agradecimentos a todos quantos me acompanharam durante o último mês, em que se versou, aqui, sobre a Liberdade.

Abraços

Olinda 

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Querida Olinda,

Fica-me um sorriso nos lábios
Nem sei se sobe ou desce
Digo que me inunda
Somos povo liberto e libertário
Cravos rubros e abertos
Como abraços fraternos
E quando a inquietação nos dominar
Lembremos que somos "filhos da madrugada"
Felizes por vivermos uma revolução
Perfumada de sentimentos de união
E acreditarmos que viver é lutar
Por um poema maior
Feito de vida, sangue e lágrimas
Lágrimas que vertem a comoção
De dignificar o mundo do trabalho
E honrar o campo, a enxada, o arado
A caneta, o papel e o livro
Saído das mãos do trabalhador.

Um abraço imenso.

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Querida Teresa

Emocionada com o seu gesto tão lindo.
Um poema que nos toca o coração.
Uma homenagem ao 25 de Abril e ao
Dia do Trabalhador. 
Uma surpresa muito muito agradável. 
:)
Beijinhos
Olinda


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José Carlos Pereira Ary dos Santos
(Lisboa, São Sebastião da Pedreira, 7 de Dezembro de 1937– Lisboa, Santiago, 18 de Janeiro de 1984) foi um poeta e declamador português.

Graça Pires - Do seu Livro mais recente:
 "Era madrugada em Lisboa - Louvor a um dia com tantos dias dentro"