Busque amor novas artes, novo engenho,
para matar-me, e novas esquivanças;
que não tirar-me as esperanças,
que mal me tirará o que eu não tenho.
Olhai de que esperanças me mantenho!
Vede que perigosas seguranças:
que não temo contastes nem mudanças,
andando em bravo mar, perdido o lenho.
Mas, conquanto não pode haver desgosto
onde esperança falta, lá me esconde
amor um mal, que mata e não se vê;
Que dias há que na alma me tem posto
um não sei quê, que nasce não sei onde,
vem não sei como, e dói e não sei porquê.
Dizia com razão Faria e Sousa que os 11 primeiros versos deste soneto eram dignos do seu mestre, Camões, mas que o último terceto era digníssimo de Apolo, o deus que presidia à inspiração poética.
Efectivamente, o soneto versa de modo engenhoso e subtil as vicissitudes do amor e o papel da esperança nesse jogo arriscado, que o poeta compara ao naufrágio dum mar temprestuoso. Às esquivanças do amor o namorado opunha, ou fingia opor, um certo desprendimento, vizinho da indiferença.
Pura ilusão: era uma "perigosa segurança", que o amor, avesso à indiferença, se encarregava de desfazer, instilando-lhe na alma os germes do sofrimento.
In Líricas, Selecção prefácio e notas de Rodrigues Lapa
Pg.46
- Miragem -
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Lembro-me desta canção numa telenovela brasileira...Gosto muito dela.
. Comemoração, neste ano, dos 500 anos do nascimento de Luís de Camões
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