Encontrou-o à entrada do deserto,
absorto, como se conhecesse
todas as invocações do silêncio.
Lia-se nos olhos dele a atracção pelo vento,
pelas areias, pelo espaço imenso, pela solidão.
Ela saía do deserto. O mesmo deserto.
Trazia um cacto murcho em cada mão
e um rio seco a escamar-lhe a pele.
Olharam-se. Ela contou-lhe.
Contou-lhe das vezes que se afogou no chão
pensando que era água;
como rebentaram seus lábios pela sede interminável.
Disse-lhe que quase morreu com saudades do mar;
que bebeu o próprio sangue
para curar a febre e o delírio.
Falou-lhe do medo e do cansaço
que venceu cambaleando, rastejando,
dormindo agarrada à noite.
Ele hesitou.
Depois, com uma quietude
que nos prodígios acontece,
pegou-lhe na mão e foi com ela até ao mar.
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Quinzena do Amor
Post 1-Só o amor; Post 2-Alastrar Paz e Amor; Post 3-Ouça as vozes; Post 4-Estética da Vida; Post 5-Quando o Amor chora de sede; Post 6-Um gosto antigo de alfazema
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In: A solidão é como o vento, de Graça Pires
pg.61
Citação: Rio de Infinitos, pg162
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