Vive, dizes, no presente;
Vive só no presente.Mas eu não quero o presente, quero a realidade;
Quero as coisas que existem, não o tempo que as mede.
O que é o presente?
É uma coisa relativa ao passado e ao futuro.
É uma coisa que existe em virtude de outras coisas existirem.
Eu quero só a realidade, as coisas sem presente.
Não quero incluir o tempo no meu esquema.
Não quero pensar nas coisas como presentes; quero pensar nelas como coisas.
Não quero separá-las de si-próprias, tratando-as por presentes.
Eu nem por reais as devia tratar.
Eu não as devia tratar por nada.
Eu devia vê-las, apenas vê-las;
Vê-las até não poder pensar nelas,
Vê-las sem tempo, nem espaço,
Ver podendo dispensar tudo menos o que se vê.
É esta a ciência de ver, que não é nenhuma.
Alberto Caeiro
(1889-1915)
(1889-1915)
Alberto Caeiro, heterónimo criado por Fernando Pessoa, sendo considerado o Mestre Ingénuo dos heterónimos Álvaro de Campos e Ricardo Reis e também de seu próprio autor, Fernando Pessoa.
É um poeta de completa simplicidade, e considera que a sensação é a única realidade. Suas principais obras são O Guardador de Rebanhos, O Pastor Amoroso e Poemas Inconjuntos. aqui
Descrito pelo heterónimo Álvaro de Campos assim:
"Vejo-o diante de mim, vê-lo-ei talvez eternamente como primeiro o vi. Primeiro, os olhos azuis de criança que não têm medo; depois, os malares já um pouco salientes, a cor um pouco pálida, e o estranho ar grego, que vinha de dentro e era uma calma, e não de fora, porque não era expressão nem feições. O cabelo, quase abundante, era louro, mas, se faltava luz, acastanhava-se. A estatura era média, tendendo para mais alta, mas curvada, sem ombros altos. O gesto era branco, o sorriso era como era, a voz era igual, lançada num tom de quem não procura senão dizer o que está dizendo-nem alta, nem baixa, clara, livre de intenções, de hesitações, de timidezas. O olhar azul não sabia deixar de fitar. Se a nossa observação estranhava qualquer coisa, encontrava-a: a testa, sem ser alta, era poderosamente branca. Repito: era pela sua brancura, que parecia maior que a da cara pálida, que tinha majestade. As mãos um pouco delgadas, mas não muito; a palma era larga. A expressão da boca, a última coisa em que se reparava — como se falar fosse, para este homem, menos que existir — era a de um sorriso como o que se atribui em verso às coisas inanimadas belas, só porque nos agradam — flores, campos largos, águas com sol — um sorriso de existir, e não de nos falar." aqui
É um poeta de completa simplicidade, e considera que a sensação é a única realidade. Suas principais obras são O Guardador de Rebanhos, O Pastor Amoroso e Poemas Inconjuntos. aqui
Descrito pelo heterónimo Álvaro de Campos assim:
"Vejo-o diante de mim, vê-lo-ei talvez eternamente como primeiro o vi. Primeiro, os olhos azuis de criança que não têm medo; depois, os malares já um pouco salientes, a cor um pouco pálida, e o estranho ar grego, que vinha de dentro e era uma calma, e não de fora, porque não era expressão nem feições. O cabelo, quase abundante, era louro, mas, se faltava luz, acastanhava-se. A estatura era média, tendendo para mais alta, mas curvada, sem ombros altos. O gesto era branco, o sorriso era como era, a voz era igual, lançada num tom de quem não procura senão dizer o que está dizendo-nem alta, nem baixa, clara, livre de intenções, de hesitações, de timidezas. O olhar azul não sabia deixar de fitar. Se a nossa observação estranhava qualquer coisa, encontrava-a: a testa, sem ser alta, era poderosamente branca. Repito: era pela sua brancura, que parecia maior que a da cara pálida, que tinha majestade. As mãos um pouco delgadas, mas não muito; a palma era larga. A expressão da boca, a última coisa em que se reparava — como se falar fosse, para este homem, menos que existir — era a de um sorriso como o que se atribui em verso às coisas inanimadas belas, só porque nos agradam — flores, campos largos, águas com sol — um sorriso de existir, e não de nos falar." aqui
"não fora o tempo, as coisas seriam Eternas - e nós com elas..."
ResponderEliminarassim parece falar-nos Caeiro, em seu "gesto branco" e no seu sorriso "que era como era" ...
muito bom ler pela manhã, amiga Olinda
sentindo "o perfume das flores, como se visse uma coisa nova"...
abraço
Gastei bastante da publicação :))
ResponderEliminarHoje : Faz do meu corpo, o violino.
Bjos
Votos de uma óptima Segunda - Feira
Não associar as coisas ao tempo. Que bom seria, já que tudo é tão breve.
ResponderEliminarAlberto Caeiro. Que gosto lê-lo aqui…
Uma boa semana, minha Amiga Olinda.
Um beijo.
Gostei de ler. De todos os heterónimos, o Alberto Caeiro é aquele que mais me emociona.
ResponderEliminarHoje na aula de poesia ouvimos João Villaret a dizer "A Tabacaria" de Álvaro de Campos.
Abraço
"Vive, dizes, no presente;
ResponderEliminarVive só no presente."
Que bom seria, mas não sabemos como fazê-lo!
Gostei da escolha do poema.
Beijo, minha amiga Olinda.
Apenas vê-las, as coisas, sem inconstância. Que bom seria!
ResponderEliminarBelo e profundo poema de Alberto Caeiro, de alguém que "tem um sorriso de existir, não de nos falar."
Beijos, querida amiga Olinda.
Beijo, amiga.
Magnífico post.
ResponderEliminarPela boa abordagem a Alberto Caeiro / Fernando Pessoa.
E pelo vídeo da magnífica Cremilda Medina.
Olinda, continuação de boa semana.
Beijo.
Alberto Caeiro/ Fernando Pessoa lindo demais, seria ótimo se não vivêssemos nem no passado e nem no futuro, mas penso... no entanto me pego pensando no futuro, O que Caeiro diz,
ResponderEliminar"Não quero incluir o tempo no meu esquema" gostei imenso, a contagem do tempo é amarga. É meio infeliz.
Postagem linda, querida Olinda. Faz pensar. O vídeo de Cremilda Medina está ótimo, voz aveludada e a canção linda.
beijo!
Boa noite de quinzena natalina, querida amiga Olinda!
ResponderEliminarViver o momemto atual é sabedoria. Tantas alegrias são desperdiçadas por nao darmos valor ao que acontece.
Vibro muito com cada fato.
De momento feliz a momento feliz, vamos construindo uma felicidade maior como uma teia linda
Tenha dias abençoados e felizes!
Bjm carinhoso e fraterno de pazne bem