Em tempos, ilustrei dois poemas sobre a mulher* com uma pintura de Modigliani. Por isso, o título do livro de poemas de Graça Pires chamou-me logo a atenção. Isso e os belos poemas que a autora nos tem oferecido no seu blogue, retirados do mesmo. Daí a minha vontade de o adquirir e tê-lo aproveitado como uma parte da primeira experiência que apresentei à minha filha.
Resolvi publicar um dos seus poemas e quem já tiver lido o livro ou lido os poemas de que falei acima concordará que a dificuldade está na escolha. Mas até nisso tive sorte, porque no livro está contido um poema, adivinhem lá o tema. Nem será preciso grande esforço porque vou apresentá-lo a seguir:
Mulher com xaile vermelho
Uma brisa fria vem roçar-me a cara
nesta primavera desabrigada,
onde os pássaros rodopiam
uma valsa estremecida,
como se temessem o vento.
Falo pouco nestes dias,
em que me cobre
uma luz lívida e muda.
Cubro os pulsos com os folhos da blusa
para jurar silêncio, quando a mancha
do luar atingir o peitoril da janela.
Na borda da cadeira em que me sento
poiso, ao de leve, as minhas mãos
frias, quase de pedra.
Tenho a cingir-me o peito
um xaile de merino para abafar
as batidas desoladas do coração.
in: Fui quase todas as mulheres de Modigliani
pg 43
No início, página 6, encontramos estas palavras de Maria Teresa Horta:
Voamos a lua,
menstruadas
Os homens gritam:
- são as bruxas
As mulheres pensam:
- são os anjos
As crianças dizem:
- são as fadas
Maria Teresa Horta
Os Anjos
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Obra referenciada:
Fui quase todas as mulheres de Modigliani
Poesia - Graça Pires, Ed. Poética Edições
Maio 2017
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Dois belíssimos poemas. Não conhecia nenhum dos dois. Obrigada pela partilha.
ResponderEliminarAmanhã vou para Lagos. As histórias de Natal no Sexta continuarão a sair porque estão programadas.
Porque em Lagos só terei o Smartphone, e não sei andar pelos blogues nele, despeço-me desejando um Santo e feliz Natal, com saúde e muito amor.
Abraço
excelentes escolhas do belíssimo livro de Graça Pires.
ResponderEliminarfosse outro o panorama literário e cultural do País e a Graça Pires seria uma referência obrigatória da actual Poesia portuguesa
fico feliz por ver a poesia da minha amiga Graça, neste espaço de inteligência e bom gosto.
abraço
Esse xale de merino
ResponderEliminarTocou-me a imaginação
Pela heráldica, a tradição
Da nobreza, e seu destino.
O amarelo citrino
Só quem tinha permissão
Do uso, era o cidadão
Nobre, por ser muito fino.
Hoje a pele é proibida
E o merino já sem vida
Representa do animal,
A cor real, e o antigo
Modelo. Concordo contigo,
Olinda, é sensacional!
Belíssimo poema! A pele do merino me tocou sobremaneira. Grande abraço. Laerte.
Fico-te obrigado pelas maravilhas que partilhas comigo. O Poema de Graça Pires é Divino.
ResponderEliminarParabéns a ambas e os desejos dum Santo Natal.
Beijo
SOL
Poemas muito belos... a ideia da Graça foi genial.
ResponderEliminarTambém já publiquei sobre o pintor.
Na seleção, muito bom gosto.
Beijinhos, cara Amiga.
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A verdade é que ambos os poemas são muito femininos, o que me recorda a questão sobre se se trata de poetas ou poetisas!
ResponderEliminarBeijinhos
Graça Pires, felizmente, também está ao alcance de nós, brasileiros, que
ResponderEliminaradmiramos sua obra. Posso assegurar que é marcante sua obra, também deste lado do Atlântico.