quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

Fui quase todas as mulheres de Modigliani

Em tempos, ilustrei dois poemas sobre a mulher* com uma pintura de Modigliani. Por isso, o  título do livro de poemas de Graça Pires chamou-me logo a atenção. Isso e os belos poemas que a autora nos tem oferecido no seu blogue, retirados do mesmo. Daí a minha vontade de o adquirir e tê-lo aproveitado como uma parte da primeira experiência que apresentei à minha filha.

Resolvi publicar um dos seus poemas e quem já tiver lido o livro ou lido os poemas de que falei acima concordará que a dificuldade está na escolha. Mas até nisso tive sorte, porque no livro está contido um poema, adivinhem lá o tema. Nem será preciso grande esforço porque vou apresentá-lo a seguir:




Mulher com xaile vermelho

Uma brisa fria vem roçar-me a cara
nesta primavera desabrigada,
onde os pássaros rodopiam
uma valsa estremecida,
como se temessem o vento.

Falo pouco nestes dias,
em que me cobre
uma luz lívida e muda.

Cubro os pulsos com os folhos da blusa
para jurar silêncio, quando a mancha
do luar atingir o peitoril da janela.

Na borda da cadeira em que me sento
poiso, ao de leve, as minhas mãos
frias, quase de pedra.

Tenho a cingir-me o peito
um xaile de merino para abafar
as batidas desoladas do coração. 

in: Fui quase todas as mulheres de Modigliani
pg 43


No início, página 6, encontramos estas palavras de Maria Teresa Horta:



  
Voamos a lua,
menstruadas
Os homens gritam:
     - são as bruxas
As mulheres pensam:
     - são os anjos
  As crianças dizem:
     - são as fadas

Maria Teresa Horta
              Os Anjos





=====

Obra referenciada:
Fui quase todas as mulheres de Modigliani
Poesia - Graça Pires, Ed. Poética Edições
Maio 2017

======

7 comentários:

  1. Dois belíssimos poemas. Não conhecia nenhum dos dois. Obrigada pela partilha.

    Amanhã vou para Lagos. As histórias de Natal no Sexta continuarão a sair porque estão programadas.
    Porque em Lagos só terei o Smartphone, e não sei andar pelos blogues nele, despeço-me desejando um Santo e feliz Natal, com saúde e muito amor.
    Abraço

    ResponderEliminar
  2. excelentes escolhas do belíssimo livro de Graça Pires.
    fosse outro o panorama literário e cultural do País e a Graça Pires seria uma referência obrigatória da actual Poesia portuguesa

    fico feliz por ver a poesia da minha amiga Graça, neste espaço de inteligência e bom gosto.

    abraço

    ResponderEliminar
  3. Esse xale de merino
    Tocou-me a imaginação
    Pela heráldica, a tradição
    Da nobreza, e seu destino.

    O amarelo citrino
    Só quem tinha permissão
    Do uso, era o cidadão
    Nobre, por ser muito fino.

    Hoje a pele é proibida
    E o merino já sem vida
    Representa do animal,

    A cor real, e o antigo
    Modelo. Concordo contigo,
    Olinda, é sensacional!

    Belíssimo poema! A pele do merino me tocou sobremaneira. Grande abraço. Laerte.


    ResponderEliminar
  4. Fico-te obrigado pelas maravilhas que partilhas comigo. O Poema de Graça Pires é Divino.
    Parabéns a ambas e os desejos dum Santo Natal.


    Beijo
    SOL

    ResponderEliminar
  5. Poemas muito belos... a ideia da Graça foi genial.
    Também já publiquei sobre o pintor.
    Na seleção, muito bom gosto.
    Beijinhos, cara Amiga.
    ~~~~~~~~~~

    ResponderEliminar
  6. A verdade é que ambos os poemas são muito femininos, o que me recorda a questão sobre se se trata de poetas ou poetisas!
    Beijinhos

    ResponderEliminar
  7. Graça Pires, felizmente, também está ao alcance de nós, brasileiros, que
    admiramos sua obra. Posso assegurar que é marcante sua obra, também deste lado do Atlântico.

    ResponderEliminar