Poética do Eremita
No deserto estão secas as pedras que
no mar
se molhavam. A semelhança confunde
o eremita que solitário de mais passou
o tempo entregando-o à isolada memória.
Aqui, a pedra seca, para o eremita,
não perdeu a qualidade húmida
de poder ter estado ao pé do mar.
Fiama Hasse Pais Brandão
(1939-2007)
Obra Breve
Estado da Nação
Agora que os carros molhavam a berma
afilados os deveres
quem nos bloqueou as rodas por falta de triângulo?
Que língua nos abriu a mala do carro
na nossa ausência?
Havemos de ir sempre de férias?
Devemos sempre um quinto do que gostamos?
Nada se dá nada se tira
a mala vazia é um mau prenúncio.
Quem atirou fora, na pressa,
a minha primeira caligrafia, como é que eu sei?
Parei porque tinha que ali parar.
Qual de vocês é da mesma patente que eu?
É meu, o desgoverno?
Osso por osso, é a mala vazia
a minha radiografia não sei se foram vocês
selvagem é o vosso estacionamento.
Sérgio Godinho
(1945)
O Sangue por um Fio
=====
In: Poemário- Assírio & Alvim
2012
======
Daqui vos saúdo, meus amigos.
Trago, hoje, estes dois poemas, de Fiama Brandão e de Sérgio Godinho, tão-somente como belos poemas que são, sem a intenção de os projectar na vida real.
Estamos, de resto, a viver momentos da vida nacional muito interessantes, uns mais que outros, momentos esses que ficarão na História. Caberá aos historiadores a tarefa de fazer a sua análise, com o distanciamento devido.
Envio uma palavra de carinho a todas as Mães que por aqui passarem.
Um abraço.
Estamos, de resto, a viver momentos da vida nacional muito interessantes, uns mais que outros, momentos esses que ficarão na História. Caberá aos historiadores a tarefa de fazer a sua análise, com o distanciamento devido.
Envio uma palavra de carinho a todas as Mães que por aqui passarem.
Um abraço.
Continua em viagem?
ResponderEliminarGostei dos poemas.
Como mãe, fico grata pelos seus desejos que retribuo.
Um abraço
As pedras que se molhavam estão secas. Parece a vida, não?
ResponderEliminarbj amg