domingo, 1 de maio de 2016

Poética do Eremita e Estado da Nação




Poética do Eremita

No deserto estão secas as pedras que
                              no mar
se molhavam. A semelhança confunde
o eremita que solitário de mais passou
o tempo entregando-o à isolada memória.
Aqui, a pedra seca, para o eremita,
não perdeu a qualidade húmida
de poder ter estado ao pé do mar.

Fiama Hasse Pais Brandão 
(1939-2007)
Obra Breve






Estado da Nação

Agora que os carros molhavam a berma
afilados os deveres
quem nos bloqueou as rodas por falta de triângulo?
Que língua nos abriu a mala do carro
na nossa ausência?
Havemos de ir sempre de férias?
Devemos sempre um quinto do que gostamos?
Nada se dá nada se tira
a mala vazia é um mau prenúncio.

Quem atirou fora, na pressa,
a minha primeira caligrafia, como é que eu sei?

Parei porque tinha que ali parar.
Qual de vocês é da mesma patente que eu?
É meu, o desgoverno?
Osso por osso, é a mala vazia
a minha radiografia não sei se foram vocês
selvagem é o vosso estacionamento.

Sérgio Godinho
(1945)
O Sangue por um Fio

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In: Poemário- Assírio & Alvim
2012


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Daqui vos saúdo, meus amigos.
Trago, hoje, estes dois poemas, de Fiama Brandão e de Sérgio Godinho, tão-somente como belos poemas que são, sem a intenção de os projectar na vida real. 
Estamos, de resto, a viver momentos da vida nacional muito interessantes, uns mais que outros, momentos esses que ficarão na História. Caberá aos historiadores a tarefa de fazer a sua análise, com o distanciamento devido.

Envio uma palavra de carinho a todas as Mães que por aqui passarem.

Um abraço.

2 comentários:

  1. Continua em viagem?
    Gostei dos poemas.
    Como mãe, fico grata pelos seus desejos que retribuo.
    Um abraço

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  2. As pedras que se molhavam estão secas. Parece a vida, não?

    bj amg

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