domingo, 14 de abril de 2013

'Sabias que uma baleia pode se afogar se estiver debaixo de água mais de 30 minutos?'

A criança que existe em mim parou para ler estas palavras num painel, num centro comercial. Nele também uma grande baleia pintada com pequenotes em volta, num mar azul. Nem vou confirmar esta informação/pergunta, vou confiar que é mesmo assim, porque a minha ideia aqui é ajuizar da fragilidade das baleias, minhas irmãs. Eu consigo permanecer debaixo de água uns míseros segundos e elas, tão possantes, trinta minutos ou pouco mais. Pelas minhas  contas elas estarão em desvantagem. E digo porquê: Em condições normais, só lá vou quando quero, ao passo que elas têm de lá viver, é o seu habitat natural, é o seu meio ambiente. Também posso ajuizar da sua aflição quando são encurraladas e caçadas, não tendo para onde fugir. Lembro-me da sua força imensa nos mares da minha infância, dos jactos de água atirados contra os céus e a delícia que era para mim e para os meus irmãos presenciar toda aquela explosão de vida. 
Neste mês de todas as leituras e perante a pergunta acima apontada, lembrei-me de trazer um conto de António Sérgio, 'A história da baleia'. Pode ser que alguma criancinha passe por aqui...




'A história da baleia

Há muito, muito, muito tempo, vivia no mar a baleia, que comia peixes. Ainda ela, nesse tempo, podia comer peixes. Comia sardinhas e tainhas, gorazes e roazes, bugios e safios, pescadas e douradas, bacalhaus e carapaus. Todos os peixes que ia encontrando deitava-lhes a boca, - ão! Por fim, só havia no mar um salmonete vermelhete, que nadava sempre atrás da orelha esquerda da baleia, para ela lhe não fazer mal. Um dia, a baleia pôs-se a pensar muito séria, e disse assim :
- Tenho fome !
E o salmonete vermelhete, com a sua voz muito agudita, disse à baleia :
- Nobre e generoso cetáceo : já experimentou comer homens?
- Não - respondeu a baleia. - A que sabe? como é?
- Bom, mas traquinas - respondeu o salmonete vermelhete.
- Então, vai-me buscar três dúzias deles - ordenou a baleia.
- Basta um de cada vez - disse o salmonete vermelhete. - Se for à latitude 60 graus norte e longitude 40 graus oeste (isto, amigos, são umas palavras mágicas que o salmonete lá sabia) encontrará uma jangada feita de tábuas, e sobre a jangada um marinheiro náufrago de calças de ganga azul, uma faca de ponta aguda, e suspensórios encarnados (não se esqueçam dos suspensórios!). O marinheiro, devo dizer-lhe, é arguto, astuto, e resoluto.
A baleia, então, foi aonde lhe disse o salmonete vermelhete, e encontrou a jangada e o marinheiro. Aproximou-se, abriu a bocarra imensa, e engoliu a jangada e o marinheiro, com as calças de ganga azul, com a faca de ponta aguda e com os suspensórios encarnados (nunca se esqueçam dos suspensórios!). E assim a baleia arrecadou tudo na despensa escura, quentinha e fofazinha, que tinha lá dentro do seu corpanzão. E como gostou, deu três estalos com a língua e três voltas sobre a cauda, levantando muita espuma.



O marinheiro (que era arguto, astuto, e resoluto) mal se viu dentro da baleia. na despensa escura, quentinha e fofazinha, pulou, saltou, rebolou, cambaleou, espinoteou, dançou, sapateou, fandangueou, esperneou, gritou, berrou, cantou, estrondeou tanto, tanto, tanto, que a baleia se sentiu com enjoos, engulhos e soluços (já se esqueceram dos suspensórios?). E disse a baleia ao salmonete vermelhete :
- O teu homem é muito traquinas, e dá-me engulhos. Que hei-de eu fazer?
- Diga-lhe que saia cá para fora - respondeu o salmonete vermelhete.
E a baleia gritou pela garganta abaixo:
- Saia cá para fora, homenzinho, e veja se tem juízo!
- Isso é que eu não saio- respondeu o homem. - Leve-me primeiro para a minha terra, e depois veremos o que se poderá fazer.
E pôs-se outra vez a saltar, a pular, a espinotear e a rebolar.
- O melhor é levá-lo para casa- aconselhou o salmonete vermelhete. - Eu já tinha prevenido a senhora baleia de que o marinheiro era arguto, astuto e resoluto.
E a baleia nadou, nadou, nadou, dando à cauda e às barbatanas, mas sempre com soluços e muito enjoada. Quando avistou a terra do marinheiro, nadou para a praia, pôs a boca sobre a areia, abriu-a muito, e disse:
- Cá chegámos à sua terra!




O marinheiro, que era na verdade arguto, astuto e resoluto, tinha durante a viagem puxado da sua faca de ponta aguda, e cortado as tábuas da jangada em fasquiazinhas muito estreitas, que ligou muito bem com tiras dos suspensórios (bem lhes dizia eu que não se esquecessem dos suspensórios!) e fez com elas uma grade que empurrou, ao sair, contra a garganta da baleia. E, deixando a grade bem presa na garganta da baleia, saltou para terra e foi ter com a mãe, com a qual viveu muito contente.
A baleia foi-se embora também muito contente, assim como o salmonete vermelhete; mas a grade é que nunca mais saiu da garganta da baleia. E por isso é que a baleia nunca mais pôde comer homens, nem meninos, nem peixes - nem sardinhas nem tainhas, nem gorazes nem roazes, nem bugios nem safios, nem pescadas nem douradas -, porque os peixes não podem passar pelas grades da garganta, mas só bichinhos pequeninos, como, por exemplo, as pulgas-do-mar.
Pouco depois, o marinheiro casou e viveu muito feliz; tinha em casa as calças de ganga azul e a navalha de ponta aguda; mas não tinha os suspensórios, porque esses ficaram a atar a grade, muito apertada que só deixa passar bichinhos pequeninos - como as pulguinhas-do-mar - na garganta da baleia.'





Texto retirado de:Aqui
Imagens internet

5 comentários:

  1. Cara amiga!
    Também desconhecia esse "por maior". Realmente deve ser terrível para um mamífero colossal ficar prisioneiro para além do limite...
    Lendo e aprendendo: Maravilhoso o conto de António Sérgio.
    Como já estou na 2ª infância...gostei imenso.
    Beijos .
    M. Emília

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  2. Quero acreditar que história seja verdadeira! Costumo assistir a documentários quando o foco principal são esses animais maravilhosos, colossais, como a baleia, tubarão, elefantes...
    Vibro com a campanha para salvar as baleias, as "ararinhas azuis" ou ou o "mico leão dourado", que povoaram as histórias que ouvia ou lia, quando criança.
    Para completar a interessante história, você nos traz Roberto Carlos, em seu belo Iate, nos mares da Urca (Bairro onde mora no Rio), a cantar As Baleias. Que belo tempo eu passei, nesta ensolarada manhã de domingo.
    Obrigada, Olinda, bom domingo!
    Beijos,
    da Lúcia

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  3. Não passa por aqui nenhuma criança, mas passamos nós adultos que também gostamos de histórias e deveríamos gostar ainda mais de baleias e de todos os outros peixinhos. Não as respeitamos o que é uma pena. Gostamos de vê-las...fazemos viagens de barco propositadamente para admirar essa maravilha, mas, o mesmo homem que as considera como tal é o mesmo que tenta dar cabo delas. Linda história, Olinda! E vamos lá...fazer a nossa parte para que as baleias sobrevivam e não sejam obrigadas a engasgarem-se com as " porcarias " que lançamos ao mar. Um beijinho e uma bela semana
    Emília

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  4. Interessante e educativo o post sobre as baleias. A canção do Roberto Carlos esteve no Sexta quando ele tinha música.
    Um abraço e uma boa semana

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  5. Um poste com a sua marca, sempre necessário, belo, pertinente, reflexivo! E como se não bastasse, com uma música que não é recente, mas cuja temática é mais atual que nunca!

    Um beijo, Olinda e um ótimo domingo!

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