"Olha a pastiiiilha! Não me entres nas aulas com a pastilha na boca". De entre as várias recomendações diárias do encarregado de educação* esta é sacramental. Mas o quintanista despreocupadamente:"Oh!Oh! Tenho cá uma técnica que ninguém me apanha". "Não quero saber de técnicas. Pastilha fora da boca, já."
Contudo, naquele dia, a pastilha elástica, esquecendo cumplicidades passadas, obedeceu apenas à força da gravidade. No preciso momento em que o professor dizia ao quintanista para intervir na aula, a pastilha descola-se-lhe do céu da boca e espeta-se-lhe num canino. Ir lá com o dedo é impensável. O melhor é começar a dizer alguma coisa antes que o professor desconfie.
Mas este, olhos experientes de algumas décadas nessas andanças, verifica que há ali qualquer coisa de estranho. Embora o quintanista esteja ainda na idade, quase, da mudança dos dentes de leite, não se lhe ia crescer um assim de repente e com características draculianas. Pois, não havia dúvidas. Uma pastilha!!!
E o nosso quintanista, mastigador entendido e especializado de pastilhas elásticas lá teve de interiorizar, escrevendo cinquenta vezes que não podia comer nas aulas. Bom, aquilo era um eufemisno. Não estava propriamente a comer e nem era essa a sua intenção. Mas, enfim, bem lá no íntimo sempre soube que poderia ser apanhado.
E agora era só esperar pela pastilha. Além da tal interiorização que lhe deixou uma cãibra nos três dedos com que segura a esferográfica, tinha de se haver com o "Não te disse???!!!..." do encarregado de educação, com o sinalzinho de mau agoiro inscrito na sua ficha e esperar ainda pela pancada no final do período lectivo. Nem o facto de ter seguido uma técnica vivamente recomendada presentemente que é o de utilizar, reutilizar e reciclar, lhe poderia valer. Sim, porque a ideia era recuperar a dita no final da aula.
Olinda
(1998)
Continua amanhã ( 2ª e última parte)
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Texto, na pele do "quintanista", interpretando um pouco as experiências da minha filha, nessa idade.
imagem: pixabay
caimbra - não consegui pôr o til no i
Interessante, aguardo o próximo capítulo.
ResponderEliminarUm abraço.
Bem interessante conto que vamos seguir para ver como se sai o artista da pastilha.
ResponderEliminarAbraços Olinda.
Me gusto te mando un beso.
ResponderEliminarrsssssssssss...Quem nunca passou por isso?
ResponderEliminarGostei de ler!
beijos, tudo de bom,chica