invade-me uma grande calma quando penso em ti. sinto-me bem, disposto para as mais difíceis tarefas, para os mais complicados e demorados trabalhos. já não é na turbulência das noites (vividas na pressa) que encontro a vontade de escrever. as noites cansaram-me, ia acabando comigo de vez na desordem e na ânsia de viver. claro que continuo a sair à noite e a amar esse espaço fantástico que é a cidade. esta cidade que amo, mas tu estás nela também. a cidade mudou desde o instante em que nela entraste. já não percorro a noite numa angústia que se esquece e anula na bebedeira, ao nascer do dia. desde que te conheço tenho levado uma vida bastante regrada. deixei de beber. deixei de andar por aí a ver se alguém me pega ou se eu pego em alguém. acabou. tenho-te e sinto uma felicidade estranha a dominar-me. trabalho calmamente, com vagar, e avanço sem ser aos tropeções. leio e releio o que escrevo. tudo se torna, de texto em texto, mais preciso, mais próximo do que penso. escrevo somente (como de resto sempre fiz) o que me dá gozo e ao mesmo tempo me perturba. por isso odeio tanto reler-me. sinto-me perturbado. o que ficou escrito foge-me, parece já não me pertencer. no entanto, sei que estou ali, por trás de cada texto escrito. sinto que são ainda parte integrante de mim - raramente me consigo desligar (friamente) do que escrevi, mesmo que o tempo tenha tentado apagar as motivações que me levaram, na altura, a escrever o que ficou escrito.
Al Berto, pseudónimo de Alberto Raposo Pidwell Tavares (1948 -1997), foi um poeta, pintor, editor e animador cultural português. Mais aqui
Le temps des cerises
Desejo-vos boa semana, meus amigos.
Abraços
Olinda
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Excerto:
Imagem: net
Lindo trecho do diário!
ResponderEliminarQue tua semana seja linda também,Olinda! beijos, chica
Um texto maravilhoso de um autor que infelizmente conheço muito pouco.
ResponderEliminarA minha gratidão por esta partilha.
Abraço, saúde e Paz
Muito interessante sem dúvida. Gostei de ler.
ResponderEliminarCumprimentos
É sempre um prazer enorme ler Al Berto. Sou grande admiradora de tudo quanto ele escreveu, desde o primeiro livro. Gostei tanto de o encontrar aqui, minha Amiga Olinda.
ResponderEliminarContinue a cuida-se bem.
Uma boa semana.
Um beijo.
Al Berto era assim, sempre disposto a desnudar a alma!
ResponderEliminarAbraço
Um excelente texto, Olinda, amei ler, mas não conhecia o autor.
ResponderEliminarTenha uma boa semana com muitas alegrias.
Beijinhos
Uma publicação enriquecedora! Obrigada
ResponderEliminar.
Quanto vale a presença d'uma criança
Beijos e uma excelente semana
"calmamente, com vagar, e avanço sem ser aos tropeções. leio e releio o que escrevo".
ResponderEliminarBom começo de dia, querida amiga Olinda!
Um texto muito realista. Entretanto, com a consciência de quem se conhece bem.
Um escritor precisa se conhecer e ter ciência do que escreve se fica em consonância com seu sentir.
Gostei muito de saber do autor que não sabia.
Vídeo bem bonito.
Linda escolha!
Tenha dias Pascais abençoados!
Beijinhos carinhosos e fraternos
Bom dia Olinda,
ResponderEliminarInfelizmente não conheço a obra de Al Berto e foi com muito prazer que li este excerto do seu diário.
Muito obrigada por partilhar e assim me ter despertado o interesse pela sua obra.
Gostei de recordar Yves Montand.
Um beijinho e uma boa semana.
Ailime
Uma boa publicação.
ResponderEliminarIsabel Sá
Brilhos da Moda
P0rventura a bela canção "Le Temps des Cérises" justifique o publicação do texto, um tanto ou quanto "frágil"
ResponderEliminarabraço
beautiful post
ResponderEliminarParabéns por compartilhar. Uma noite de paz
ResponderEliminarNão conhecia Al Berto, achei o texto muito comovente, li a sua biografia no link da Wikipédia, faleceu cedo demais, amiga! Pena isso.
ResponderEliminarUm feliz fim de semana que está chegando, querida Olinda,
muita saúde e paz!
Um beijinho!