"Desapareceu tudo...
saíram todos,
faleceram os meus pais...
fiquei eu"
O último habitante de Casas da Serra, aldeia na serra do Barroso, em Boticas.
A casa do último habitante fica mesmo em frente, o estábulo faz parte da construção de granito. Está frio e vento; a chuva em breve será neve; por entre carreiros finos do chão que parece forrado de pedra que o tempo gastou, escorre acelerada a água da chuva que desliza da encosta. O cenário, ainda que de abandono, porque sabemos que mais ninguém ali mora, é o que Torga descreve, em parte, em Um Reino Maravilhoso (Trás-os-Montes): "Embora muitas pessoas digam que não, sempre houve e haverá reinos maravilhosos neste mundo. O que é preciso, para os ver, é que os olhos não percam a virgindade original diante da realidade e o coração, depois, não hesite."
Oiçamos, entretanto, o saudoso Roberto Leal que canta a sua Aldeia:
Minha Aldeia
Minha aldeia é todo o mundo.
Todo o mundo me pertence.
Aqui me encontro e confundo
com gente de todo o mundo
que a todo o mundo pertence.
Bate o sol na minha aldeia
com várias inclinações.
Ângulo novo, nova ideia;
outros graus, outras razões.
Que os homens da minha aldeia
são centenas de milhões.
Os homens da minha aldeia
divergem por natureza.
O mesmo sonho os separa,
a mesma fria certeza
os afasta e desampara,
rumorejante seara
onde se odeia em beleza.
Os homens da minha aldeia
formigam raivosamente
com os pés colados ao chão.
Nessa prisão permanente
cada qual é seu irmão.
Valências de fora e dentro
ligam tudo ao mesmo centro
numa inquebrável cadeia.
Longas raízes que emergem,
todos os homens convergem
no centro da minha aldeia.
Minha Aldeia é todo o mundo
Todo o mundo me pertence.
Boa semana, meus amigos.
Abraços.
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Leia aqui o artigo, no DN
Poema de António Gedeão - aqui
Que lindo post, triste relato. Pena ver as aldeias ficando desertas, abandonadas assim! beijos, feliz 2022! chica
ResponderEliminarFiquei impressionada com a sua história mas, como dizes, muita gente só haverá por este reino maravilhoso ou nem por isso!
ResponderEliminarAbraço
Que beleza o 'reino maravilhoso' de Miguel Torga , o canto de Roberto Leal, esse portuguesinho que tanto conhecemos aqui e Gedeão com a belíssima Aldeia na qual divergimos, por natureza. Grandes escolhas Olívia. Dessas inspirações, que sempre encontro aqui.
ResponderEliminarObrigada pela amizade distante e tão aconchegante.
Um Ano Bom e que o Inverno seja gentil, nas aldeias todas.
Aqui também precisamos de Sol gentil para acalmar as tempestades, Enfim
estamos a precisar cuidar mais da Natureza para tê-las mais amenas.
Que seja um Ano fecundo , com Saúde controlada e muita Harmonia , em todos os níveis.
Abraços e Boa Virada ,amiga
Uma publicação muito rica, que descreve tantas verdades. Amo esta musica. Obrigada pela partilha!.)
ResponderEliminar-
Se eu pudesse começar de novo outra vida ...
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Abraço com carinho, e uma excelente semana de boas festas!
O abandono das nossas aldeias mais do interior é uma grande realidade. A falta de luz, de água, entre outras infraestruturas a isso leva. Texto que gostei de ler.
ResponderEliminar.
Continuação de boas festas. Feliz Ano Novo.
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Pensamentos e Devaneios Poéticos
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Que coincidência, querida Amiga! Acabei há pouco de ler essa noticia, de um só habitante nessa aldeia abandonada. São tantas as que foram perdendo os seus moradores por falta de condições de vida. Algumas, no verão, ainda se alegram com a vinda dos emigrantes incapazes de esquecerem as suas raizes, mas ao mesmo tempo, impossibilitados de voltarem, não só por terem já falecido os progenitores, mas também por terem criado outras raízes nos paises que os receberam; acabam por morrer onde conseguiram uma vida melhor, mas enquanto puderem, a aldeiinha onde nasceram permanecerá nos seus corações. Gostei que tivesses lembrado aqui o nosso Roberto Leal que, devido à miséria que havia na sua aldeia, emigrou para o Brasil alegrando, com as suas músicas,todos os portugueses que lá viviam; canções que lembravam o seu amor a Portugal e outras que mostravam a gratidão ao Brasil que tão bem o recebeu. Foi mal acolhido aqui, quando resolveu regressar e, com certeza, partiu com muita mágoa. Mas é assim o povo, umas vezes sentindo que " cada qual é seu irmão ", mas tantas outras, " divergindo por natureza,separando-se, afastando-se, odeando-se ". E é esse ódio gratuito, essas calúnias levantadas contra as pessoas, esse desrespeito pelas escolhas de cada um que deve acabar se quisermos ter um ano realmente novo, uma vida serena e com paz interior. Mas...Querida Olinda, não creio que algo mude, a não ser o número do ano; a mentalidade humana será a mesma, infelizmente. O que não mudará e aqui digo, felizmente, é a nossa Amizade; continuará, se possivel, ainda maior. Aproveito a oportunidade para te agradecer o carinho que me tens dedicado há já tantos anos e espero que o 2022 seja para todos vós um ano de serenidade, alegria e, principalmente saúde. Beijinhos e um abraço enorme, carregadinho de amizade
ResponderEliminarEmilia 💝 ⭐ 🙏
Feliz e abençoada Oitava de Natal, querida amiga Olinda!
ResponderEliminarA música me emociona ao ouvir
Estou ouvindo noticiários com tragédias de enchentes pelos Estados do Brasil, já me encontro sensível.
Aldeias são lindas, mas é pena que se tenha que sair em busca de progresso e trabalho.
Raramente se volta...
A Ave Maria é um momento místico do dia...
Faço da minha sala meu oratório na hora sagrada. Motivos não nos faltam para intercedemos.
Não consegui ler o Aqui... Vou seguir tentando, amiga.
Tenha dias natalinos abençoados!
Beijinhos carinhosos, fraternos de estima e gratidão
Boa noite querida Olinda,
ResponderEliminarUma realidade que parece não ter retrocesso nas aldeias de Portugal, principalmente mais ao norte.
No sul, mais propriamente no Algarve, que é a realidade que melhor conheço, passa-se o contrário.
Mas os habitantes são estrangeiros, que adquirem as casas há muito desabitadas e ali se fixam.
É estranho ver a paisagem humana ir mudando, mas penso que num futuro mais ou menos próximo, se queremos ter qualidade de vida, teremos que deixar as grandes cidades e "reconstruir" este cenário.
Roberto Leal, um cantor que sempre admirei, gentil e com um amor profundo à sua terra que infelizmente também teve que deixar.
Finalizou com um belo e apropriado poema de António Gedeão.
Sempre tudo aqui perfeito, cuidado e merecendo a minha melhor atenção.
Despeço-me até 2022, agradecendo a sua amizade e companhia durante este ano que está quase findando.
Muita saúde minha amiga, são os meus desejos.
Grande beijinho.
Fê
É dificil imaginar alguém a viver tão isolado do mundo. Mas é uma realidade do nosso país..
ResponderEliminarIsabel Sá
Brilhos da Moda
O teu texto traduz uma realidade incontornável!
ResponderEliminarDepois de ler, tantas interrogações fervilharam na minha alma.
A realidade ( para mim incontestável) é que o mundo está em grandes mutações.
Já nada é como antes. A minha maior dúvida - e para a qual ainda ninguém tem resposta - é até onde vai o mundo mudar. Creio que ainda estamos muito no início! Estamos a ser espectadores de algo irrepetível!
Resta-nos tentar compreender porque tudo está acontecendo. Se formos por essa caminho seguramente encontraremos algumas respostas!
Aconselho vivamente a ler o livro de Hermann Hess " Demien".
Deixo um abraço e votos de Feliz Ano Novo!
É um problema polítco social muito sério o desenvolvimento desigual do País!
ResponderEliminarmo entanto, dizem-.me (e eu acredito) que "o desenvolvimeno desigual é´ "intrinsico" ao funcionamnto do sistema capitalista.
e os "Reinos Maravilhoso" são um descrição literária muito bela, que dá muito prazer a sua leitura, mas do meu ponto de vidysem nada contribui para a resoluçáo do problema essencial.
a esse nivel prefiro o A. Gedeão
Os homens da minha aldeia
formigam raivosamente
com os pés colados ao chão.
Nessa prisão permanente
cada qual é seu irmão
votos de Boas Festas, minha Amiga
abraço
Deve ler-se "do meu ponto de vista, sem nada contribuir ..."
EliminarNa Esperança de um ano mais consolador, entremos com Fé e Gratidão em 2022.
ResponderEliminarEntre perdas e tristezas vivemos, mas vibremos pelo dom da nossa vida.
Coração ao Alto!
Deus caminha conosco. Não tenhamos medo do que há de vir. Que o novo nos surpreenda!
Com todo meu carinho pelo seu apoio fraterno incondicional no ano que termina.
Seja muito feliz e abençoada, querida amiga Olinda!
Beijinhos carinhosos com estima e gratidão.
🥂🍾🕊️🙏💐😘
Linda/triste realidade aqui compartilhas, querida amiga Olinda. E que acertada é a escolha do poema. 5 estrelas!
ResponderEliminarHoje, passei para desejar um abençoado 2022 pleno de momentos felizes e
muita saúde para ti e para os teus.
Beijo.
Olá, Olinda.
ResponderEliminarPasso para lhe desejar um Feliz Ano 2022.
Desejo-lhe muita saúde e alegria, junto dos que lhe são queridos.
Um abraço.
Nesta excelente publicação deixo à minha querida amiga Olinda Melo um apertado abraço e votos de um feliz Ano Novo.
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