domingo, 1 de agosto de 2021

O que é suposto fazer?

A loja está apinhada de gente, acotovelando-se quase. E eu ali com o bebé de um ano ao colo, aliás, enfiado num suporte no meu lado direito. De repente, tenho um baque, sinto-me estranha e desconfortavelmente leve desse lado. Já em pânico, verifico o que temia. Tinham-me tirado o menino. Olho à volta meio perdida e vejo que muitos dos rostos são conhecidos. O que estariam ali a fazer? Pergunto se viram quem me tinha levado o bebé e noto desinteresse e indiferença. Sinto que aquilo não tinha acontecido por acaso. E dá-me a impressão de alguém estar a dizer baixinho: eles vão tratá-lo bem. Saio a correr desorientada pela rua do Conde Redondo acima. E agora o que é que eu faço? O que é suposto fazer-se num caso destes? Ah, já sei, vou à Polícia. Começo por perguntar a um homem que vinha a descer a rua onde era a esquadra, pôs-se a esbracejar, afastando-se rapidamente. Encontro um rapaz e uma rapariga a quem faço a mesma pergunta, mas debalde. Encolhem os ombros pura e simplesmente. Seriam estrangeiros? Devo estar com ar tresloucado. Atravesso a rua e vou de roldão por ela abaixo. Não quero ligar para casa, não quero causar alarido nem preocupações, mas que remédio? Paro por instantes, abro a mala, está vazia, telemóvel e documentos, carteira, nada. Entro numa lojinha, vejo outra cara conhecida. E peço: por favor, deixe-me ligar do seu telemóvel, estou numa aflição. Num gesto moroso que dura uma eternidade, estende-me o aparelho. Ligo o número, nem um som sequer. Volto a ligar. O mesmo resultado. E digo-lhe: o telemóvel não dá, veja se pode ligar para este número. Com os mesmos vagares, ela pega num cabo, liga-o ao telemóvel e diz-me: é que convém não ficar registado...e pisca-me um olho cúmplice. Dos confins da terra oiço a voz da minha filha: Mãe, o pequeno-almoço é às nove. Abro os olhos, cansada, extenuada, esbaforida e ... vejo-a com o bebé ao colo. Uff!!!


Boa semana, meus amigos,

Abraços

Olinda


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Imagem - daqui


14 comentários:

  1. Bah...Terrível pesdadelo! Ainda bem que era só isso mesmo! Momentos terríveis e angustiantes nele! Lindo agosto com bons sonhos e vivências! chica

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  2. Realmente, um pesadelo horrível!

    Abraço

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  3. Bom domingo, querida amiga Olinda!
    Que conto onírico maravilhoso!
    Ufa! Pensei que fosse um caso a mais nas estatísticas.
    Realmente, um sonho/pesadelo onde revela o medo de perder a quem se ama tanto e tanto.
    Além de que nossos filhos são "bebês ao colo" para nós, mães.
    Gostei muito da trama de uma história envolvendo tanto capricho e esmero no enredo e muito amor no coração das personagens.
    Tenha um agosto abençoado!
    Beijinhos com carinho e gratidão

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  4. Existem sonhos que são verdadeiros pesadelos. .
    .
    Um domingo feliz
    .
    Pensamentos e Devaneios Poéticos
    .

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  5. Sonhos...existe de tudo :)
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    Embriagado...pela solidão dos dias.
    .
    Beijo e um excelente fim de semana.

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  6. Tenho pesadelos, por vezes...mas este assume-se um relato onírico tão bem escrito! Lindo e tão maternal este imaginário.
    Beijinho

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  7. Eu estava aflita com esse pesadelo amiga Olinda
    Beijinhos e um feliz agosto

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  8. Olá, Olinda,
    li com atenção essa sua bela narrativa prendendo o fôlego até seu final.
    Gostei muito, embora tenha me lembrado de alguns pesadelos que tive durante alguns anos da minha infância. É terrível!
    Uma excelente semana com saúde e paz.
    Um abraço, amiga.

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  9. É uma grande alegria acordar de um pesadelo. A realidade, afinal, é outra.
    Li de um fôlego. É um texto bem engendrado. Eu nem preciso que me chamem, costumo acordar no auge da aflição.

    Beijos e boa semana, querida amiga Olinda.

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  10. " O que é suposto fazer? ". Numa tamanha aflição como a que aqui decreves, creio que ficamos presas ao chão, sem capacidade sequer de mexer as pernas; aqui foi um terrivel pesadelo, mas, quantos casos reais não acontecem todos os dias? Fico a imaginar a dor desses pais que veem os filhinhos desaparecerem e, claro, na sua grande aflição , só devem pedir" espero que tratem bem o meu bebé " . Há crianças que misteriosamente desaparecem e nunca mais são encontradas e, quando sabemos que muitas delas são raptadas por pedófilos, o nosso coração aperta de incompreensão por tamanha maldade. Nunca entendi, não entendo e nunca conseguirei entender a brutalidade de certos adultos em relação às crianças, algumas ainda bebês. Costumo dizer, Olinda, que nem uma serpente, daquelas mais venenosas, cometeria tamanha violência, a não ser que fosse atacada. Ainda bem, querida Amiga, que não passou de um pesadelo, mas fizeste bem em partilhar este conto, para que, mais uma vez, nos lembremos do " martirio " por que passam tantas crianças. Um beijinho e os meus votos de que estejam todos bem de saúde.
    Emilia
    🥰 🌻 🌹

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  11. As vezes tenho alguns pesadelos, e quando acordo sinto um alivio tão grande.
    Alguns especialistas explicam que o pesadelo também pode ajudar o cérebro a processar experiências intensas. Quando nos sentimos sobrecarregados, o cérebro cria histórias de terror que têm a ver com essa sensação. É também uma forma de o cérebro entender como lidar com situações desagradáveis.
    Gostei muito do relato Olinda!
    Desejo um ótimo mês de agosto pra ti!
    Um beijo!

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  12. Tenho tido pesadelos terríveis e é uma experiência indesejável ...

    Bom resto de semana :)

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  13. Querida Olinda
    Um conto extraordinariamente bem escrito, que se lê com o coração aos pulos.
    Eu estava numa aflição, imaginando-me no lugar da heroína a quem haviam roubado o bebé.
    Às vezes tenho pesadelos daqueles que fazem acordar com o coração a bater descompassadamente. Ultimamente acontece com a minha cadelinha - sonho que ma roubam e acordo numa aflição!...

    Muito obrigada pelas tuas palavras na minha "CASA". Não esqueci nem nunca esquecerei todo o apoio que recebi das amigas e amigos, e que foi muito, e muito importante para me ajudar a ultrapassar aqueles momentos terríveis.
    Bem hajas!

    Continuação de boa semana.
    Beijinhos
    MARIAZITA / A CASA DA MARIQUINHAS

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  14. Os pesadelos são sombras que encobrem os bons sonhos. O acordar é o alívio que tanto ansiamos no sonho.
    Aqui, bem reportas, em modo de Conto, uma situação de angústia e impotência.
    Magnífico!
    Parabéns, Olinda.


    Beijo
    SOL da Esteva

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