Quando acordares, um só murmúrio sobre o teu ouvido:
Ama-me. Alguém dentro de mim dirá: não é tempo, senhora,
Recolhe tuas papoulas, teus narcisos. Não vês
Que sobre o muro dos mortos a garganta do mundo
Ronda escurecida?
Não é tempo, senhora. Ave, moinho e vento
Num vórtice de sombra. Podes cantar de amor
Quando tudo anoitece? Antes lamenta
Essa teia de seda que a garganta tece.
Ama-me. Desvaneço e suplico. Aos amantes é lícito
Vertigens e pedidos. E é tão grande a minha fome
Tão intenso meu canto, tão flamante meu preclaro tecido
Que o mundo inteiro, amor, há de cantar comigo.
Hilda Hilst
Hilda de Almeida Prado Hilst, mais conhecida como Hilda Hilst, (Jaú, 21 de abril de 1930 — Campinas, 4 de fevereiro de 2004) foi uma poeta, ficcionista, cronista e dramaturga brasileira. É considerada pela crítica especializada como uma das maiores escritoras em língua portuguesa do século XX. Seu trabalho aborda temas como misticismo, insanidade, erotismo e libertação sexual feminina. Hilst foi fortemente influenciada por James Joyce e Samuel Beckett, e essa influência aparece em temas e técnicas recorrentes em seus trabalhos como o fluxo de consciência e realidade fraturada.
"Não é tempo, senhora. Ave, moinho e vento
ResponderEliminarNum vórtice de sombra. Podes cantar de amor
Quando tudo anoitece? Antes lamenta
Essa teia de seda que a garganta tece."
Magnífica publicação!
Tudo perfeito: versos de Mia Couto, imagem, poema de Hilda Hilst, voz poderosa de Sara Tavares.
Beijo.
Aos enamorados tudo é permitido.
ResponderEliminarBelíssima a canção e a voz da Sara Tavares!
Abraço
Uma partilha com um poema Magistral. Obrigada pela soberba partilha! :)
ResponderEliminar-
Envolvo-me no silencio das flores
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Beijos e um excelente Domingo.:)
Você foi muito feliz na escolha do poema. Uma escritora magnífica e de reconhecido mérito . A colocação de Mia Couto, como tudo que escreve, encantadora. E que voz melodiosa tem essa cantora!!! Grande abraço.
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