Nada me pertence, nada
se afoga nesta terra deserta de cansaço
Nada é culpa, nada é nascido, tudo cria
embriões para que embriões possam nascer
Eu sou nada e se acaso me afogo
é porque não existo, como os meus amigos
como a arte de imaginar
E a natureza prende-me, se amo é por vir
de um céu imenso onde forças estranhas
me inventaram, e aos meus amigos, e a todo o tanto
que não existe sobre a terra coberta de tudos.
Mesmo deus que não existe me forjou
para a natureza que não existe, a minha
de ser minúsculo e gigante
e não existir
(1956-2020)
Nem a máxima "Penso, logo existo" parece encontrar espaço nas linhas destes versos. Apenas uma certa crise existencialista, em que o autor tanto nega como afirma a sua existência de "ser minúsculo e gigante". E qual o espanto? Nenhum, na verdade. Quantas vezes não somos confrontados com essa dualidade que existe e permanece em nós mais tempo do que o desejável?
Daí, à sensação incómoda de que afinal somos nada vai um passo.
Daí, à sensação incómoda de que afinal somos nada vai um passo.
E o nihilismo passaria a ser
palavra de ordem ou
tendência viável.
De Manuel Cintra diz Raquel Nobre Guerra, uma sua amiga:
“Não era leve não era cool, não se observava na simpatia de todos, vendia poemas na rua (…) pedia dinheiros, tinha uma página de poesia, tinha o número de telefone na página de poesia, tinha gatos e cães falava deles como de amigos, lia poemas em toda a parte, incomodava, fazia tropelias, agia sobre os outros como quem via qualquer coisa. (…) Tinha sempre uma ponta de febre (…) Era quase tudo o que pomos de parte na vida real para depois nos refastelarmos com a ideia romântica disso.” aqui
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Poema: em Escombros, Lisboa: Caminho Editora, 1993, p. 23.
Poema fascinante de Manuel Cintra. Adorei esta publicação
ResponderEliminar.
Fique bem
Saudação poética
Não oscilo, sou mais para o nada!
ResponderEliminarAbraço
Fantástica publicação! Amei o poema!!
ResponderEliminar-
Beijos e um excelente noite
Tenho novo Post...
Boa noite de paz interior, querida amiga Olinda!
ResponderEliminarQue vídeo, minha amiga!
"Então aguente firme"...
Como a frase me disse ao 💙 ...
Sua sensibilidade me encanta.
Um poema interessante, onde forças estranhas me inventaram.
Não conhecia o escritor.
Você é criteriosa nas escolhas, tão bonito!
Tenha dias abençoados, amiga!
Bjm carinhoso e fraterno de paz e bem
Que poema, amiga Olinda!! O que emociona profundamente é a tristeza, é a vida sofrida, é a solidão em que muitos vivem; escreveu poesia, foi tradutor, jornalista, ator e nada... Li sua vida no link, homem amargo.
ResponderEliminarA letra da música é a amargura escancarada de muitas pessoas, ninguém é sempre feliz, acho que o ser humano tem mais recaídas, são crises de profunda tristeza e desânimo para muitos. Fiquei tocada com a tristeza desse poeta, vi seu rosto, morreu abandonado, só. E o belo poema entra na música ou a música entra no poema, tanto faz.
Ótimo você ter trazido Manuel Cintra , EU NÃO SOU NADA, taí uma crise existencial em poesia.
Um beijo, querida amiga, uma boa continuação de semana.
Querida Olinda
ResponderEliminarManuel Cintra revela-nos, neste intrigante poema, a sua alma inquieta, inconformada, em constante desacordo com a sociedade em que estava inserido.
Um poema escrito há cerca de trinta anos e que estaria perfeitamente actual se feito nos dias de hoje, em que muitas pessoas sofrem de crises existenciais devido aos conturbados tempos que vivemos.
O vídeo é lindo, e essa música e poema verdadeiramente extraordinários. Adoro!
Minha querida, fico desejando e esperando que a tua vida decorra sem sobressaltos.
RE - A Nanda revelará todos os seus segredos, é claro! Dela, e não só... Alguns já foram mostrados, e os outros não ficarão esquecidos. Aliás... não vai faltar muito tempo. Acho que esta história já vai demasiado longa... não achas? Tenho que lhe pôr fim 😊
Continuação de boa semana.
Beijinhos
MARIAZITA / A CASA DA MARIQUINHAS
Poema (e poeta ) niilista
ResponderEliminarassim o sugere a amiga Olinda.
por mim, concordo e... passo!
abraço
Muito boa noite Olinda,adoro essa música e canção que aqui partilhaste!! Quanto ao teu poema,lá muito no fundo mas mesmo lá no fundo,nós não somos nada mesmo,pois nascemos e morremos,por isso,não somos mesmo nada!! Tem um excelente mês de Julho com muita alegria,muita paz e muita saúde para ti,fica bem,tudo de bom para ti,muitos beijinhos!!
ResponderEliminarNa verdade nós não somos nada! Flutuar assim, é a dor do Poeta. Gostei.
ResponderEliminarBeijo
SOL
Só poeta pode dizer uma coisa e o seu contrário, mas por vezes essas afirmações são apenas aparentes.
ResponderEliminarA sua escolha poética é muito interessante. Obrigado pela partilha, já não lia o Manuel Cintra há tempos.
Tal como a sugestão musical, que gosto muito.
Bom fim de semana, querida amiga Olinda.
Abraço.
Tão balançado é o tempo! E a vida contraditória em si mesmo.
ResponderEliminarAcompanhada por este magnífico som, dou por mim a pensar que tem que haver uma ponta de febre para aportar algo de novo.
Gostei de caminhar na poesia de Manuel Cintra.
Beijos, querida amiga Olinda.
Um poeta deve ser incómodo. Disso sabia este poeta Manuel Cintra que dizia "eu sou nada" e afinal era tanto... Belíssimo, minha Amiga Olinda.
ResponderEliminarUm beijo.