quarta-feira, 10 de abril de 2019

O hábito e o prazer da leitura desde pequenos

A dois deste mês comemorou-se o Dia do Livro Infantil. A Majo lembrou esse dia com livros infantis de Sophia de Mello Breyner Andresen e eu, num comentário, disse-lhe que ao arrumar a minha estante tinha encontrado alguns que costumava ler à minha filha o que me fez saudades desses tempos. Na verdade, os contos infantis não têm idade, comprazemo-nos nessas leituras e a cumplicidade criada com os nossos filhos não se esquece.

Vem isto a propósito de um artigo que li na revista Maxi, da semana passada, que conta a história de uma avó que lia para a neta em pequenina. Com seis anos ela e a avó divertiam-se a escrever un petit livret com base nas histórias que a menina inventava nos seus passeios ao jardim ou ao campo. Com a idade de 10 anos, resolveram escrever um livro de aventuras, de 190 páginas, tendo como protagonista um coelhinho, o qual tomou o título de "Les aventures de Rouki". Agora a menina pensa continuar a escrever e a avó sente-se feliz por lhe ter transmitido esse gosto pela leitura levando-a a construir histórias. 

Transcrevo uma passagem do artigo:

Or, une étude a démontré que les enfants à qui on avait lu des histoires pendant leurs cinq premières anneés avaient un avantage majeur dans l'acquisition de la langue.*
En effet, cela permet d'acquérir très jeune un vocabulaire riche et donne aux enfants moyens d'apprendre plus facilement à lire. De plus, entendre de belles histoires développe l'imagination.


Ontem, nas minhas visitas a alguns blogs que frequento, li um post do Horas Extraordinárias, intitulado, Obrigado a ler, em que nos dá conta de que, em França, uma escola adoptou uma medida extraordinária para combater os baixos índices de leitura:

Excerto:

Depois do toque do fim do recreio da hora de almoço, exactamente às 13h25, estejam em que lugar estiverem dentro da escola, todos têm de pegar num livro e ler durante um quarto de hora (e atenção: até podem já estar sentados na sala de aula!). E não são apenas os alunos que têm esta obrigação, mas todo o pessoal da escola, incluindo auxiliares e professores. A escolha do livro é à vontade do freguês: aconselha-se o aluno a continuar o livro que já começou, mas não há restrições a temas, géneros ou autores, e isso torna o momento especial, porque é leitura obrigatória sem livro obrigatório.

E a autora conclui:

Muitos deles passaram então a comprar mais livros e ir à biblioteca com mais regularidade. Não seria de aplicar isto por cá?


Recuando um pouco no tempo, também li por estes dias na Revista LER, de finais de 2017 princípios de 2018, um texto, cujo excerto abaixo transcrevo, relacionado com a leitura nas escolas secundárias. Continuamos em França.

O prémio Goncourt des Lycéens (...) é um prémio literário organizado em França por uma cadeia de livrarias e pelo Ministério da Educação, criado em 1988 pelo liceu de Rennes e com o selo da Academia de Goncourt. O que significa que, desde essa data, cerca de 18 mil estudantes do secundário, entre os 15 e os 18 anos, apoiados por uma associação de professores (...) leram (e votaram) 220 livros (já agora, isso corresponde a cerca de 40 mil exemplares distribuídos pelas escolas e efetivamente lidos).

Segue-se a indicação dos laureados e o autor termina com duas perguntas:

Portanto, eu perguntava-me: quantos livros leem os jovens nas escolas secundárias portuguesas por ano? Quantos livros leem os professores de Português por ano? FJV

Exemplos a seguir? Talvez, se bem que adaptados às necessidades do ensino e a alguma reforma curricular, não esquecendo os clássicos, os nossos e os da cultura greco-latina que nos serve de modelo e, já agora, autores de outras latitudes que nos enriquecem.

Mas, aqui para nós, tenho reparado que nem sempre os nossos rebentos seguem pela vida exultando-se na presença de um livro. Por vezes, colocamos alguma pressão, querendo impor os nossos gostos o que faz com que achemos que eles não lêem o que deveriam ler. Eu já aprendi a relativizar e a aceitar que cada um lê de conformidade com os seus interesses e que todas as leituras são leituras. Esquisito isto? É a vida! :)


===

*l'étude - Université de Stavanger en Norvège, octobre 2015 
dans Maxi - Nº 1692 du 1er au 7 avril 2019 ( Article pg.34 "Tout le monde aime des histoires - Comment partager votre passion avec les enfants?")

Revista LER ( inverno 2017-2018)- Carta do editor - pg 3

15 comentários:

  1. Sem dúvida que incutir nas crianças o gosto pela leitura - não interessa qual o livro ou outra coisa qualquer - é maravilhoso e salutar.
    .
    Cumprimentos
    .
    ** Caminhando na noite escura **

    ResponderEliminar
  2. Olá, querida Olinda!
    Consegui estimular os meus filhos para a leitura.
    Não estou a conseguir com a minha neta e isso me entristece.
    Vou seguir a tua dica: relativizar e aguardar.
    Excelente tema. Parabéns!
    Beijo.

    ResponderEliminar
  3. Minha querida Amiga, Olinda, tudo o que for feito para criar o gosto pela leitura de livros é extremamente importante. Claro que isso nem sempre é conseguido dadas as muitas solicitações que os jovens têm hoje em dia. Aqui para nós também não consegui que o meu neto tivesse o gosto de ler, apesar de lhe ler imensas histórias quando ele era pequenino. Só lê na net. Muito interessantes os casos que conta e que tiveram sucesso…
    Um beijo.

    ResponderEliminar
  4. Boa tarde de paz interior, amiga querida Olinda!
    Amo ler desde que aprendi e meu mundo fica saciado pelo fato de empreender horas e horas nessa sublime missão de ler, aprender e procurar praticar o que li.
    Amo suas postagens cheias de sabedoria, frutos de quem lê e aplica.
    Tenha dias felizes e abençoados!
    Bjm carinhoso e fraterno de paz e bem

    http://www.idade-espiritual.com.br/

    http://www.escritosdalma.com.br/

    https://espiritual-marazul.blogspot.com/

    ResponderEliminar
  5. Procuro incentivar a minha neta a ler, coisa que a professora dela também faz pois sempre lhes pede para lerem livos e fazerem uma composição sobre a leitura.
    Abraço

    ResponderEliminar
  6. Querida Olinda,
    o hábito da leitura é fundamental para a formação de leitores, porém o hábito se adquiri na infância, pois em adulto adquirir esse hábito, essa grande vontade de ler é difícil. Lembro que comecei com Gibis e enciclopédias infantis, 'O Reino Infantil' de 15 volumes. Loguinho eu estava nos livros avulsos. Enchia meu caminhãozinho de um metro e levava tudo para o quintal, debaixo de uma árvore. Lindos dias, aqueles... Hoje as crianças, com 1 aninho já estão com Smartphone nas mãos com joguinhos (orgulho dos pais), e já se sabe que assim seguirão.
    Beijo, querida.

    ResponderEliminar
  7. Desde menina adorava ler e lia tudo ao meu alcance... Lia e relia...
    No parque, o lugar que eu mais gostava era a biblioteca.
    Teria adorado ser criança agora, com tantas infraestruturas e iniciativas
    bem organizadas e interessantes...
    Um ótimo artigo, Olinda.
    O meu abraço.
    ~~~

    ResponderEliminar
  8. A biblioteca é um local de eleição num agrupamento de escolas. A dinamização da leitura passa por muitos projetos. Apercebo-me que, no agrupamento a que pertenci (Miranda do Douro), há livros espalhados pelo salão polivalente, há concursos, há um autor em foco a cada mês. Por vezes participo em algumas atividades no que concerne à poesia. A última foi mesmo no dia da poesia (acompanhada pelo meu Rio de Infinitos/Riu d'Anfenitos) com uma turma de 11º ano que terminou em oficina da escrita. Reparo que há sempre alunos que ficam muito motivados, logo desde o 1º ciclo (os olhos não mentem). É uma gratificação enorme. "Poetisa-te!" era o chamamento.
    Voltei a seguir para ver Conceição Lima a arrebatar os alunos do Ensino Secundário com "uma visita guiada à vida e obra de Sophia de Mello Bryner e Andresen". Sente-se a a vibração poética em ambiente escolar, não há dúvida! Os professores provocam.
    Este é um bom tema, querida Olinda! E eu não o poderia deixar passar em claro. Obrigada.
    Beijinho.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Olá, Teresa

      Eis um contributo interessantíssimo para este tema.
      O Manuel Veiga propõe "uma manifestação geral de apoio as iniciativas de "mais leitura" nas nossas Escolas".

      O que acha disso?

      Bj

      Olinda

      Eliminar
    2. Eu não gosto de perder nada do que se passa no xaile de seda e vejo com muito agrado a ideia de Manuel Veiga. Subscrevo, naturalmente.

      Bj.

      Eliminar
  9. Verdadeiro "serviço público", Olinda - que nunca as mãos doam e nem a voz se cale!...

    e nesta época de blogs e redes sociais, bem apetecia promover, entre bloguistas, uma manifestação geral de apoio as inicitivas de "mais leitura" nas nossas Escolas.

    vamos a isso? rss

    abraço

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Desafio tentador, meu amigo. :)
      Far-se-ia como?

      Abraço

      Olinda

      Eliminar
    2. ora bem. aí e verdadeira questão - não "o que fazer", mas como fazer?

      mas,certamente, entre pessoas informadas e criativas, com gosto pela leitura e pelos livros, como é a generaliidade dos blogs não faltarão ideias para promover a urgência de valorização de leitura e dos livros, designadamente nas Escolas

      por exemplo, redacçao de um Manisfesto ou algo parecido, a passar em c corrente de subscrições pelos blogs e outras redes sociais e a sua divulgação pelas instituições e pelos órgãos de comunicação clássicos.

      um pequeno grupo inicial que vai alargando sucessivamente a rede de compromisso com a ideia...

      será praticável?

      espero, Olinda, não estar a desinquietá-la, com o meu voluntarismo rss

      abraço

      Eliminar
    3. Caro Manuel Veiga

      Pois, desinquietada e desassossegada estou...mas essa é a função do Poeta, não é? :)))
      Eu aqui no meu cantinho a tentar juntar algumas letras para formar uma ou outra palavra estaria à altura de tarefa tamanha?
      O "xaile de seda" é o único meio de comunicação virtual que subscrevo e penso que carece da projecção necessária a uma iniciativa desse tipo.
      É certo que se alguém mais voluntarista :) que eu deitasse mãos à obra estaria disponível para contribuir, divulgando-a neste espaço, contactando outros blogs, pesquisando...

      Abraço

      Olinda

      Eliminar
    4. está a passar-me a bola, entendo! rss

      mas a minha amiga já está a divulgar a ideia! que bom...

      Olinda Melo, Teresa Almeida (e mais uma pessoa ou outra) e "assessoria
      jurídica" de Manuel Veiga, seria uma equipa imbatível! rs

      abraço

      Eliminar