agora as palavras. A propósito
de nada resmungam, não fazem
caso do que lhes digo,
não respeitam a minha idade.
Provavelmente fartaram-se da rédea,
não me perdoam
a mão rigorosa, a indiferença
pelo fogo-de-artifício.
Eu gosto delas, nunca tive outra
paixão, e elas durante muitos anos
também gostaram de mim: dançavam
à minha roda quando as encontrava.
Com elas fazia o lume,
sustentava os meus dias, mas agora
estão ariscas, escapam-se por entre
as mãos, arreganham os dentes
se tento retê-las. Ou será que
já só procuro as mais encabritadas?
Eugénio de Andrade
***
Ah, paroles, paroles, paroles... caro Eugénio. Já nada é como dantes, quando as palavras queriam dizer aquilo que queríamos mesmo dizer, não é? Agora os que nos governam escondem-se atrás delas com mil intenções, algumas indizíveis, de tal modo que procuram construções esquisitas para nos baralharem. Sabe, meu caro, o que quer dizer condição de recursos? Pois. E pensava o meu amigo que tinha um problema... Pode crer que as suas Palavras são, e continuarão a ser, ouro do mais puro quilate.
Mas, ouçamos estes dois. Eles sabem bem o que dizem: coisas do coração, coisas que entendemos.
É verdade, e tanto pairam como nuvens, como pesam que nem chumbo!
ResponderEliminarEu ontem tomei uma decisão: falar menos...
Beijinhos e boa terça!
Boa tarde Olinda!
ResponderEliminarBela postagem!
Sinto saudade do tempo em que a palavra tinha um poder único!
Uma linda semana para você!
abraço amigo
Maria Alice
Adorei este poema de Eugénio de Andrade. As palavras andam zangadas connosco, também, não é verdade, Olinda? São de um " rebuscado " imenso que não as entendemos; gostava mais delas quando eram simples...gosto da simplicidade principalmente nas pessoas; são mentirosas as palavras...enganosas; ando a ficar calada para não as pronunciar...surda para as não ouvir e cega para nem sequer olhar para elas; hoje não são dignas de confiança muitas das palavras; temos que as "escolher a dedo" e só depois as usar. Mas, Elvira, gostei imenso da Stacey Kent. Ouvi a entreviste e fiquei encantada com a doçura, a meiguice dela. Não a conhecia, mas fiquei presa ao seu modo de comunicar.. ...tão suave. Como ela gosta da nossa língua e como foi delicioso ouvir a palavra saudade na voz dela; ficou ainda mais nostalgica essa palavra que pertence unicamente à lingua portuguesa. Adoraria vê-la no coliseu. Vou ver se consigo!!! Disseste que voltarias à música e fizeste-lo de uma maneira fantástica, amiga. Obrigada pela partilha de tão belos momentos e vamos lá...tentemos " fazer as pazes" com as palavras, porque afinal também há as doces...as suaves e meigas, palavras que nos enchem o coração de encantamento; fiquemos-nos só por estas, certo? Beijinho e até sempre
ResponderEliminarEmília
Olá! Grandioso poema! Agradeço muito a sua visita e já estou a seguindo, espero por você lá, no meu cantinho também! abração
ResponderEliminarMinha querida
ResponderEliminarEugénio de Andrade sabia como ninguém usar as palavras...quanto às palavras dos "outros", já é outra conversa ou palavras ao vento.
Um beijinho com carinho
Sonhadora
Pois, condição de recursos... Como se não estivesse tudo registado entre segurança social e finanças! Será para ver quantos pobres idosos, alguns até acamados, não conseguem ir entregar os papéis? Nããã, não deve ser...
ResponderEliminarBeijinhos
Eugénio de Andrade, como sempre, irrepreensível!
ResponderEliminarUm grande poeta brasileiro, Torquato Neto, um dos autores - das letras - do Tropicalismo, diz em um poema: "toda palavra tem uma cilada"... Ah, as palavras, criam vida próprias e saem por aí a dizer o que muitas vezes não devem.
Beijo, Olinda.
Todos os artistas da(s) palavra(s) delas se servem como matéria-prima de excelência.A sua procura mais acertada advém do culto que delas se faz.Quando as encontramos nos alfobres em que as fazemos germinar, há uma interação recíproca de que resulta a obra.Se nos alfobres se mostram raleiras, perde-se o fio condutor e, mesmo que as não procuremos, elas surgem encabritadas.
ResponderEliminarJuvenal Nunes
EliminarMuito obrigada pela sua presença aqui no Xaile de Seda e por este comentário que me convida à reflexão.
Abraço
Olinda