domingo, 23 de setembro de 2012

Tsu-nami e classe política

Não caiamos no erro de pensar que a política é coisa de somenos. O problema é que por cá existe o hábito de a classe política atirar primeiro e perguntar depois. Existe também o hábito de se fazerem experiências a ver se as coisas pegam. Só depois do mal feito e de terminados os mandatos é que alguns resolvem ir aprender teorias políticas, frequentando universidades, enquanto o povo fica enredado em dívidas sem fim à vista. Mas também temos uma outra espécie de políticos que detém o canudo à custa de créditos ganhos por conta de currículos que nada têm a ver com o assunto de que se fala.

A preparação devida para o desempenho de funções em qualquer instituição ou empresa é muito importante. Se falarmos de altas funções como as do executivo e as dos nossos representantes parlamentares, então isto fia mais fino. É urgente que a classe política se esmere. Não se é um bom político só porque se tem queda para isso. É necessário ter em atenção que uma prestação que se quer excelente  dependerá da interdisciplinaridade do conjunto das ciências sociais e humanas a que pertence a Ciência Política, o que ajudará em muito na tomada de decisões. 

Se assim não for sairá a perder a nossa capacidade de negociar com uma troika que nos vê apenas como números. Numa das minhas divagações, aqui, a que de vez em quando sou atreita, interrogava-me sobre a essência deste mesmo trio e do que poderíamos esperar dele. Erro crasso. Deveria antes ter indagado, falando com os meus botões ou com o meu travesseiro, sobre a competência e visão de quem tem a responsabilidade, outorgada por nós, de analisar os prós e os contras antes de aceitar ou resolver, de motu proprio, sobrecarregar aqueles que menos têm, os trabalhadores por conta de outrem e os reformados e pensionistas. 



Muito se tem falado em alternativa, alternativas, caminho alternativo, este último já considerado algures como um mito. Em encruzilhadas como estas talvez devêssemos olhar para os outros e ver o que fariam nas mesmas circunstâncias ou em quaisquer outras situações de ruptura. Vem a propósito um pequeno trecho de uma entrevista que li no outro dia. Nas palavras do entrevistado, de um tsunami de há 1200 anos os japoneses retiraram uma lição útil aquando do tsunami de 2011. Eis algumas das suas palavras:
...
Os japoneses nunca tinham visto um tsunami como o de 2011, mas registou-se um semelhante há 1200 anos. Houve então uma ilha onde a população fugiu para o topo, mas ninguém sobreviveu. Quando foram para lá novos habitantes, construíram um memorial às vítimas e deixaram um aviso às gerações futuras que, se voltassem a ver uma onda gigante, não fugissem para o alto mas para uma ilha ao lado. Foi o que fizeram em 2011. Seguiram esse conselho com mais de mil e duzentos anos e salvaram-se.





Mas, voltando ao tema da nossa actualidade nacional, o tsu-nami causado pelas alterações da tsu, produziu ondas de choque praticamente nunca vistas no que diz respeito às suas características. A rua a manifestar-se, de forma espontânea, através de milhares de pessoas, reivindicando tão-só o seu direito à sobrevivência.  

Depois do Conselho de Estado, passámos a uma nova fase. Promessas de entendimento quanto à coligação, recuo nas medidas anunciadas, esforços na procura de outras formas de onerar, talvez, os mesmos de sempre. Venha o diabo e escolha... Enfim, tenhamos esperança em dias melhores.


Trecho em itálico, entrevista a: Andrew Zolli - Visão- 20 a 26 Setº/2012
Fotos: minhas

8 comentários:

  1. Penso que há duas maneiras de fazer tremet a classe política:
    - parar o país por completo, sem ninguém sair da casa, durante dois ou três dias(Padre Mário da Lixa)
    -inutizar maciçamente os boletins de voto nas próxomas eleições

    Feliz semana, querida Olinda

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  2. Gostei muito da sua performance de escrever um texto com as comparações de um tsu-nami, realmente é o que o povo precisa aprender, e a se salvar dessa enxurrada de políticos incompetente e desonesto.
    Valeu mesmo meu abraço.

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  3. Olinda, muito oportuno o seu texto, um tema sério, para uma situação por demais séria. Até que ponto essa gente do poder vai ficar brincando com o destino do povo? Experimentam alternativas como se todos fossem brinquedos ou "ratos de laboratório", estão pondo em causa a soberania e o futuro de outra geração. Tomara que devolvam tudo que lhes tiraram, e que nunca lhes faltem, especialmente, a esperança.

    Beijos, querida!

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  4. Minha querida

    O pior é que quem foi para a tal ilha foram os mesmos de sempre ou seja o Zé Povinho, porque eles estão sempre salvos do tsunami, nem perto deles passa, estão imunes a qualquer catástrofe.
    Vivemos momentos muito tristes, sem futuro.

    Um beijinho com carinho
    Sonhadora

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  5. Gostei do primeiro comentário, Olinda. Seria um verdadeiro tsunami na verdade, mas não sei se resolveria, pois infelizmente não temos verdadeiros políticos para substituir estes; os verdadeiros lideres já não existem...é uma espécie em vias de extinção completa. Um beijinho, amiga e até breve.
    Emília

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  6. Olhe amiga se eu entendesse alguma coisa de politica diria que os políticos que temos não estão à altura da história que o nosso País encerra. Diria que vão para o Governo a pensar nos seus bolsos e o resto quem vier atrás que se desenrasque. Diria ainda que isto é como a fama do tal Constantino, já vem de longe. Se eu percebesse alguma coisa de política, diria que o pior é que olhando para o lado, não se vêm alternativas que deem esperança ao povo. Porém eu não entendo nada de politica amiga.
    Um abraço

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  7. Gostei do seu texto e partilho da tristeza dos comentários mas não podemos desesperar, temos filhos por quem lutar, só nos resta exigir dos nossos governantes maior competência, responsabilidade e ética na distribuição dos sacrifícios e dos rendimentos.É esse o dever deles, para isso foram eleitos.Não podemos simplesmente assistir a ações desastrosas sem protestar.

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  8. É verdade que não somos japoneses. Mesmo que fossemos, era igual. Roça quase o milénio que nos dizemos povo. E, até, juramos a pés juntos, com grandes idiossincrasias no todo que dizemos nosso e uno. O facto é que tudo isso não passa de uma miragem, de uma mentira mil vezes repetida. Os Romanos, quando por cá andaram, conheceram bem esta genta, misto de muitas outras, E diziam, dos de cá, que não se governavam nem deixavam governar.
    Hoje, neste aleijão tremendo que é a dita globalização, escapam-nos muitas coisas, talvez. Mas outras, as essenciais, essas, continuam a ser feitas à boa maneira do cozidinho à portuguesa!...
    E o cozinheiro sempre foi o Rei, sempre foi a Igreja e sempre foi a República. O povo, esse, nunca teve um Império, mas sempre viveu como se ele ainda existisse! Ainda hoje, de boca vazia, imagina saborear uma apetitosa Democracia!
    E é pena que assim seja!

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