Sinto que tenho mil anos. Será que os não fiz já? Há tanto tempo que trilho por caminhos com que não sonhava sequer. O meu nascimento foi bastante conturbado, reconheço, talvez uma indicação de que aquilo que acabei por conseguir não seria fácil. Por onde terei andado? Faço um esforço. Depois de ter consolidado o meu próprio espaço à custa de trabalhos e canseiras, resolvi expandir-me um pouco. Nunca me passou pela cabeça ir para tão longe. Viajei por todos os continentes, atravessei oceanos, fiz coisas de que nem sempre me orgulhei, deixei e recebi influências.Durante esse tempo todo fiz alguma fortuna...que desapareceu na voragem do tempo. Depois, por força das circunstâncias voltei para casa, pode dizer-se que me recolhi ao lar. Para sobreviver, fiz alianças.Tudo parecia bem encaminhado e o rumo certo a tomar: Pertencer a um grupo com nome sonante, com moeda própria, com muitas e muitas promessas de permeio... Perguntar-me-ão se, depois de tanto tempo vivido, não tive filhos. Claro que tive. Muitos. Alguns deles para meu bem ou para meu mal desafiam-se no governo da minha casa. Um desafio em cujos resultados nem quero pensar. Mas, de nada me vale esconder a cabeça na areia. Maus negócios, dívidas e mais dívidas acumulam-se há já algum tempo. A somar a isso tudo a falta de visão dos meus parceiros, que não atinam com o caminho a seguir. Fazer o quê? Sinto-me com mil anos, mas ainda me faltam cento e sessenta e oito anos para os perfazer, mais coisa menos coisa. É isso, fui registado como independente e livre em mil cento e setenta e nove. Há quem diga que sou um jardim à beira-mar plantado e que na minha casa há um cabo onde a terra acaba e o mar começa...Será esta a solução? Fazer-me ao mar de novo?...
Ai... Ser audaz é sempre bom, mas audácia sem noção dos limites próprios costuma resultar mal...
ResponderEliminarBeijinhos, boa semana!
Madalena
Pois é minha querida amiga, o seu texto está
ResponderEliminarmuito certo, como é que um país que tem quase
mil anos se deixou chegar à atual situação?
É horrível não sairmos deste triste fado...
Um grande beijinho
Irene
A história pode ser destruída em poucos anos ou em até poucos dias dependendo do valor que é dado ao patrimônio e o respeito que se tem ou não pelo povo Olinda.
ResponderEliminarBoa noite e feliz semana!!!
CARLA
Não é fácil comentar este teu texto, Olinda, sem ser forçado a fazer o "acto de contrição"; coisa que muito poucos se dispõem a fazer nestes tempos.
ResponderEliminarO nosso é um país de imensa fé, o reduto do "Santo Graal" e o último onde o culto ao Espírito Santo se mantem vivo.
A mesma religiosidade e o mesmo espírito ´missionário que nos levaram ha 500 anos, mar fora, numa diáspora que tal como dizes, deixou raízes espalhadas pelo mundo, pode à partir parecer-nos hoje obsuleta. No entanto, poderá muito bem ser, o nosso desígnio, aquilo para que nascemos. Agostinho da Silva escreveu que «Do século XXI por diante revelará Portugal ao mundo, sobretudo pelo ser de cada um, o que se vai atingir para além do mundo, com toda a física uma metafísica; todas as coisas várias e a mesma; todos os povos um só e diferentes; todas as características uma e diferentes; todos os ideais diferentes, e um só.»
Aquilo que Agostinho da Silva nos está a dizer, em minha opinião, é que seremos nós, o povo Português que irá "descobrir" a quarta dimensão. Aquela que para além de para a frente e para trás, para cima e para baixo, revelará o "para fora e para dentro".
;)
Caramba escrevi um comentário e desapareceu. Vamos lá de novo.
ResponderEliminarPenso que "fazer-se" ao mar pode de facto ser uma solução. Outra seria o turismo. Afinal Portugal tem um excelente clima, belas praias, e aldeias. Um turismo de qualidade virado para os reformados e aposentados da Europa, podia atrair uma larga faixa de gente que não vem habitualmente no Verão.
Mas isso claro teria que ser muito bem estruturado e incentivado.
Um abraço
Um texto pungente que sintetiza de forma brilhante isto que temos sido.
ResponderEliminarUm beijo e obrigada (sempre) pelas suas palavras.
Estou a refletir cada palavra.
ResponderEliminarPorém posso dizer que está perfeito.
Xeros
Olinda, querida, que maravilhoso escrito; muitíssimo bacana mesmo, viu?
ResponderEliminarQuanto a Portugal, os homens podem destruir toda a riqueza de um país; mas, sua história (?) jamais conseguirão. Portugal és grande de natureza. Nós, brasileiros, temos orgulho em fazer parte deste povo.
Abração,
Rodrigo Davel
Querida Olinda
ResponderEliminarGostei imenso do teu texto.
Difícil é comentá-lo :)
É muito vulgar dizer-se que "naquele tempo..." Pois, mas naquele tempo as coisas pouco diferiam das de hoje; vejamos, por exemplo, os escritos de Eça de Queiroz - o grande Eça que tanto admiro!
Mas penso que não há ninguém que não concorde que chegamos a uns extremos tais que não ver ser nada fácil sair deles.
Fazermo-nos ao mar seria uma solução... Já fomos grandes em pescas, conservas de peixe, secas de bacalhau... e agora o que temos? Importações e mais importaçõs.
Fomos um país essencialmente agrícola (a par das pescas). O que nos resta da agricultura? Legumes e frutas importados, quase na totalidade...
Eu tenho fé ( a esperança ainda não morreu, embora esteja agonizante)de que vamos dar a volta por cima. À custa de enormes sacrifícios -quanto a isso não há que ter dúvidas - mas o que importa é que consigamos vencer.
Uma semana muito feliz. Beijinhos
PS - Já sentia muito a tua falta, acredita!
Reflexo de memórias e anseios.
ResponderEliminarMuito bom!
Olinda, essa odisseia me leva a imaginar quão gloriosa foi essa Alma Mater, que com todos os problemas, com todas as suas lutas, suas glórias e as inglórias, legou aos filhos do outro lado do mar algo tão precioso, mais precioso que todo o ouro da terra!
ResponderEliminarNosso sentimento, nossa vida, nossa alma, e
-Nossas Palavras!
Que o tempo, que ninguém, creio eu, jamais vai destruir.
Longa vida, paz e prosperidade à Terra Lusitana.
Um beijo a ti, um abraço.
Olinda
ResponderEliminarVoltar ao mar? Se nem frota pesqueira nos deixaram!...
Só se for nos submarinos do Portas.
Pobre Portugal velhinho! Como deve sofrer, lembrando glórias passadas.
Belo texto.
Beijinho
Maria
Talvez os nossos governantes saibam agora a
ResponderEliminarsolução.....???? Será que vão a tempo???Nã.nã.nã..
Beijo
Todos nos preocupamos com essa solução, mas uma coisa é certa: ela não chegará, por si só, numa manhã de nevoeiro.
ResponderEliminarBjs
OLinda sabe às vezes nós também nos sentimos assim: com muito mais idade do que temos....
ResponderEliminarBeijos e boa tarde!!!
Boa noite Olinda!
ResponderEliminarPortugal velhinho....quase mil anos e tantos ensinamentos nos tem dado....
Gostei do texto, bem reflexivo!
Beijo,
Mara
Sim, Olinda!
ResponderEliminarEm relação ao meu poema a casa tanto pode ser de paredes e telhas...
como nós próprios!
Saudações poéticas!
Sim, querida Madalena. É bom termos a noção dos nossos limites para sabermos se os conseguimos ultrapassar ou não.
ResponderEliminarBjs
Olinda
Olá, Irene
ResponderEliminarDiz-se que a idade traz sabedoria e que vamos aprendendo com os erros mas cada vez mais estas noções vão sendo esquecidas, não é?
Bjs
Olinda
Uma grande verdade, Carla Fernanda. Ou respeitamos e valorizamos o que é nosso, o nosso património e os nossos valores, ou ninguém o fará por nós.
ResponderEliminarBeijinhos
Olinda
Bartolomeu, meu amigo
ResponderEliminarObrigada por trazeres aqui este grande filósofo, Agostinho da Silva, com uma visão de futuro que ultrapassa a pequenez do nosso quotidiano.Um projecto colossal em que cada um contribuirá para um todo, respeitando as diferenças: 'todas as coisas várias e a mesma; todos os povos um só e diferentes; todas as características uma e diferentes; todos os ideais diferentes, e um só.» Talvez um pouco como o quinto império de Pe António Vieira e recuperado por F.Pessoa, agora já um império de vontades,cultural, baseado nos valores de todos e de cada um.
Abraço
Olinda
Querida Elvira
ResponderEliminarConcordo. Uma das vias seria o
Turismo, bem direccionado, bem programado, procurando limar as arestas que existem, com profissionais competentes e infra-estruturas a condizer.
Bjs
Olinda
Querida Ana
ResponderEliminarEste seu comentário é deveras muito importante para mim.
Obrigada por aqui vir.
Beijos
Olinda
Obrigada, Ana Karla, por estas suas palavras tão amigas.
ResponderEliminarBeijinho
Olinda
Lançarmo-nos ao mar de novo??? Temos que nos lançar para todos os lados, mar...terra...ar...Não podemos é desanimar e temos de continuar a luta; não podemos deixar só os governantes tratarem do assunto, pois eles só pensam em si próprios;cada um de nós tem de fazer a sua parte começando por viver de forma diferente, com os pés bem mais assentes na terra.Temos de concordar que temos feito muita asneira, temos vivido gastando acima das nossas possibilidades sem nos preocuparmos com o dia de amanhã; sem uma boa matéria prima não há governante que dê jeito. Também aqui os nossos políticos tiveram culpa; a matéria prima cada vez é de pior qualidade, pois a educação e a saúde, fundamentais para a formação de um cidadão de qualidade, tem sido muito desconsideradas. É triste vermos o nosso Portugal nesta situação, mas tenho esperança que consigamos sair dela. Belo texto Olinda! Muito obrigada pela partilha. Um beijinho, amiga e até breve
ResponderEliminarEmília
Excelente texto. Teu país, perto do nosso, é já maduro. Ainda assim, o quanto ambos ainda têm a aprender... Acho que é como na nossa vida. Sempre há o que aprender no dia de hoje e no que seguirá.
ResponderEliminarBjs!!
Olá, Rodrigo
ResponderEliminarPalavras muito bonitas as suas. Tem razão, o que interessa realmente é a parte que não pode ser destruída. Esta parte conservamo-la em nós e nos ajudará a encarar todas as dificuldades.
Grande abraço
Olinda
Querida Mariazita
ResponderEliminarÉ esta fé realmente que nos levará,a todos nós, a não soçobrar perante o que temos pela frente. As actividades piscatória e agrícola estão reduzidíssimas em nome de quotas num sistema que já se revelou totalmente inadequado.As importações tomaram conta de toda a actividade comercial e há casos em que se tornaram quase corriqueiras.Ouvi alguém dizer que até importamos:salsa?!! Será verdade? Quanto ao peixe com uma plataforma continental do tamanho que temos seria mesmo necessário importarmos peixe? Teremos de arrepiar caminho e rever-nos talvez em tradições há muito abandonadas.
Também eu já tinha saudades tuas.:)
Beijinhos.
Olinda
É isso mesmo, George Sand, um misto de memórias e anseios.Lembrança do que foi e do que poderá ser, se assim o quisermos e a conjuntura também nos ajudar...
ResponderEliminarObrigada
Bj
Olinda
Olá, Antônio
ResponderEliminarLindíssimas as suas palavras e votos preciosos para a Terra Lusitana.Paz, prosperidade e longa vida!É do que precisamos.Ajuizando alternativas e fazendo todos a sua parte, sem excepção, para ultrapassarmos este momento e defendermos o legado daqueles que, no passado, se sacrificaram na construção desta pátria.
Grande abraço
Olinda
Pois, é verdade, Maria, nem frota pesqueira temos! Pescamos à linha? De agora em diante toda a nossa imaginação vai ser pouca para encontrar alternativas.Talvez com muito treino lá cheguemos...
ResponderEliminarObrigada.
Beijos
Olinda
Minha querida
ResponderEliminarUma radiografia do nosso Portugal...enfermo mas que vai ultrapassar mais esta etapa.
Como sempre as tuas palavras tocam profundamente o sentimento de quem ama este País.
Deixo um beijinho com carinho
Sonhadora
É este o grande dilema, Andradarte! Ainda vamos a tempo de evitar a derrocada? Esperemos bem que sim...
ResponderEliminarAbraço
Olinda
Olá, AC
ResponderEliminarFicarmos à espera que um salvador apareça numa manhã de nevoeiro, dando razão ao sebastianismo, não será solução pela certa...
Obrigada pela visita.
Abraço
Olinda
Olá, Carla
ResponderEliminarTambém nós,por vezes,nos sentimos assim, mais velhos do que somos quando os problemas se agigantam e não damos conta deles...
Beijos
Olinda
Olá, Mara
ResponderEliminarÉ verdade, velhinho, com quase mil anos...Esperemos que viva muitos mais e que possamos contar aos vindouros que estes momentos de provação foram ultrapassados com valentia, conforme reza a História em relação a outros do passado.
Beijinhos
Olinda
Olá, Vieira Calado
ResponderEliminarObrigada pela visita e pelas suas palavras.
Abraço
Olinda
Querida Emília
ResponderEliminarAdorei o seu comentário pleno de grandes verdades. Sim, todos nós teremos de arregaçar as mangas e deitar mãos à obra, qualquer que seja a actividade (mar,terra,ar),valorizando as várias áreas da sociedade, nomeadamente, a educação, a saúde, a justiça, aliadas às da economia, como um desígnio nacional.Só assim, com o esforço de todos, levaremos este barco a bom porto.
Beijinhos
Olinda
Olá, Daniele
ResponderEliminarÉ sim, minha amiga,vamos caminhando e aprendendo sempre, qualquer que seja a idade.O segredo estará em exercitarmos esta nossa capacidade, aproveitando os ensinamentos que a vida nos apresenta.
Beijinhos
Olinda
Querida Sonhadora
ResponderEliminarTemos de ter pensamentos positivos, sim. Ao mesmo tempo que nos esforçamos, dando o melhor de nós.
Beijos
Olinda
Gosto sempretanto de a ler, deste seu tom com que desfia os nossos dias!!
ResponderEliminarBJS
Um auto-retrato dorido...de nós!!!
ResponderEliminarMas "fazer-se ao mar"...eeste povo...para desobrir o que já foi descoberto? Não...teremos de ter alternativss que não essa.
Um texto sublime...parabéns.
Bem visto, querida BlueShell. Alternativas precisam-se...
ResponderEliminarBeijo
Olinda
Olá, Histórias de Nós
ResponderEliminarTantas histórias para desfiar temos nós, não é? Pode parecer um rosário de penas que vamos desfiando, mas há sempre uma esperança a luzir...
Beijos
Olinda
Minha estimada e querida amiga, agradeço as
ResponderEliminarsuas palavras através do seu comentário.
Vou efetivamente refletir muito nelas e os
seus conselhos me ajudarão.
Às vezes preciso mesmo de sentir algum apoio,
mesmo que virtual.
Bem haja.
Um beijinho e desejo de bom fim de semana.
Irene
Muito interessante e bem feito!
ResponderEliminarFez-me lembrar um livro que li, há vários anos, de um autor chamado Edward Rutherfurd, cujo título era "London", em que a cidade de Londres era mesmo a personagem principal. Cada capítulo era uma época, começando por tempos muito primitivos, passando pela era romana, a Idade Média e por aí fora.
E também se podia fazer o mesmo com um país ;)
Eu que sou "filha" dessa terra, que está prestes a completar mil anos; sou hoje um gigante desperto, economicamente estável, cheio de recursos, humanos, naturais, mas por muitas vezes sinto um certo desânimo, em função dos desmandos e descaminhos por quem deveria respeitar-nos, mas ao contrário, cospem-nos sobejos e desleixos, com as atitudes corruptas, brincando com a nossa esperança, com o futuro das gerações vindouras... Nós que torcemos tanto por vós, rogamos aos céus, a Deus, a Zeus, aos deuses e às deusas, olhai-por nós!
ResponderEliminarOlinda, minha querida pérola d´além mar (na minha perspectiva), seu texto é corrosivo, e cingido de amor ao mesmo tempo; como soem ser os grandes escritos que atravessam os tempos e a nossa alma. Ao término da leitura, arrepiei-me, é um escrito reflexivo, e denota muito bem a apreensão que sentes (que todos os portugueses sentem, e nós de cá também sentimos), e a incerteza de hoje e do que está por vir... Mas temos que acreditar, temos que acreditar!
Força e coragem!
E deixo um beijo grande, cheio de carinho!
smack!
Olá, Irene
ResponderEliminarDesejo-lhe toda a felicidade e paz.
Beijinhos
Olinda
Olá, Cristina
ResponderEliminarQue interessante esta informação que me trouxe. Fiquei curiosa e vou tentar saber mais sobre este autor e, eventualmente, encontrar o livro.
Obrigada.
Bj
Olinda
Canto da Boca
ResponderEliminarMinha amiga
Que intenso e fiel retrato fazes dessa querida terra brasileira,imensa,jovem,forte, com grandes recursos naturais e humanos,... à procura do seu caminho onde impere a justiça social e os mais elevados valores a bem da prosperidade a todos os níveis.
Palavras lindas, lindíssimas as que me dedicas, a mim e a todos os que vivemos aqui neste velho Portugal que, apesar dos séculos percorridos, se encontra um pouco à deriva, por força de incompetências várias e também de alguma contingência internacional.
E tens razão, minha querida, temos que acreditar que melhores dias virão e que, com o contributo de todos, conseguiremos virar o vento a nosso favor... :)
Beijinhos
Olinda
Olinda, não sei se o livro estará traduzido em Português, eu li a versão inglesa. Na altura, fiquei com vontade de fazer o mesmo com a cidade de Lisboa, mas isso implicaria um trabalhão. Se já dá trabalho pesquisar para um romance histórico, para um, deste género, seria bem mais difícil, porque implicaria várias épocas. Mas, quem sabe, um dia... ;)
ResponderEliminarTem razão, Cristina, seria um trabalho de grande fôlego. Mas ver 'esta Lisboa que eu amo...' tratada nas suas mais variadas nuances ao longo dos tempos seria, na verdade,fantástico. Força!
ResponderEliminar:)