terça-feira, 18 de junho de 2019

Vieram muitos





"A massambala cresce a olhos nus"

Vieram muitos
à procura de pasto
traziam olhos rasos da poeira e da sede
e o gado perdido.

Vieram muitos
à promessa de pasto
de capim gordo
das tranqüilas águas do lago.
Vieram de mãos vazias
mas olhos de sede
e sandálias gastas
da procura de pasto.

Ficaram pouco tempo
mas todo o pasto se gastou na sede
enquanto a massambala crescia
a olhos nus.

Partiram com olhos rasos de pasto
limpos de poeira
levaram o gado gordo e as raparigas.


   O lago da lua - 1999

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Querido Humberto, há quanto tempo!
 Coloco-te, aqui, com esta tua rapsódia 
de mornas a embelezar, ainda mais, o poema
de Ana Paula Tavares, que conta uma história 
de sobrevivência. Beijo


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E outras vozes se alevantam - Ana Paula Tavares responde a Luís Vaz de Camões - Margarida Calafate Ribeiro - Centro de Estudos Sociais - Universidade de Coimbra aqui

Imagem: Povo do Sul de Angola - Da Etnicidade ao Simbolismo: Três olhares sobre a etnia KUVALE
Poema - daqui

Humbertona - aqui

11 comentários:

  1. Ana Paula Tavares uma poetisa angolana de que gosto muito.
    Não conhecia esta rapsódia, mas gostei de ouvir,
    Abraço

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  2. Uma bela história de sobrevivência porque termina bem!

    Abraço

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  3. Mais uma poetisa que não conhecia cujo poema nos relata a vida dura de um povo de África, de uma África que continua a pedir socorro, que ainda não encontrou o rumo certo para o seu povo; continuam a " vir muitos " de olhos rasos de poeira e de sede", continuam muitos a fugir da fome e das guerras, continua este continente a ser governado por corruptos, continuam muitos a apoderarem-se das suas riquezas, usando o povo como trabalhadores escravos. E assim chora África e o seu povo e, infelizmente, vêm muitos , continuarão a vir, mas poucos voltarão " limpos de
    poeira levando o gado gordo" .Querida Olinda, adorei esta raposódia e gostei muito do poema
    que é triste, como triste é a luta pela sobrevivência. Não deveria ser preciso luta para sobreviver, mas, amiga..infelizmente, nem com luta alguns conseguem. Obrigada pela partilha de conhecimentos, novos para mim. Um beijinho e boa noite
    Emilia

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  4. Mais uma publicação encantadora!
    Um poema/retrato do sofrimento de um povo, escrito por uma poetisa que eu não conhecia.
    A rapsódia ouvirei mais logo, mas já entrei no site do Humberto.
    Querida Olinda, gosto do teu compartilhar de conhecimentos. E agradeço!
    Beijo, boa semana.

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  5. vieram e "partiram com os olhos rasos de pasto..."

    ...e, no entanto, ubérrima, a Mãe-África permanece sempre, para além da promessa de pasto.
    em sua altiva dávida!

    gostei muito do poema.
    abraço

    (grande músico- o Humberto!)

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  6. deve ler-se "dádiva", mil perdões!

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  7. Poesia linda de Ana Paula e a rapsódia belíssima! beijos, ótimo dia, feriado de Corpus Christi! chica

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  8. Também eu vim cheia de sede. Há sempre por aqui algo que nos leva de arrasto e nos absorve.
    Belo poema a irromper em terras africanas!
    Ana Paula Tavares e Humberto casam tão bem!

    Beijos, minha amiga.

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  9. Grata pela revelação desta poetisa.
    Beijinho grande

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  10. Gosto da Ana Paula Tavares que, esta sim, consta da minha estante de poesia. Este é um poema bem ao jeito da autora. É magnífica esta forma de sobrevivência…
    Gostei da música.
    Um grande beijo.

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  11. Aprendo muito com este blogue. Já li Paulina Chiziane e fiquei com curiosidade de ler esta autora e o autor do post anterior. E assim enriqueço as minhas leituras. Fico-lhe grata pela divulgação.

    Tenho andado ausente e agora vai ser mais assim, porque ando sem inspiração e também não consigo acompanhar as postagens dos blogues todos que sigo. Pelo facto peço desculpa. Mas é com prazer que venho aqui. Também peço desde já desculpa por deixar esta mensagem igual para todos os blogues.
    Bjo e bom fim de semana.

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