terça-feira, 6 de março de 2018

A fusão libertadora

Que doce e profunda é a água
quando
a luz e a sombra se reúnem.
Uma serena alegria
levanta o corpo em redonda doação.
Chegámos a este oiro incandescente,
deus e demónio em interna unidade,
que já não lutam e se abraçam
no círculo da vida libertada.
Todos os astros numa só constelação
tanta melodia e ritmo e graça
nas palavras, nos corpos e nas ondas
e todas as flores em fruto
e todo o corpo no seu livre dinamismo.

António Ramos Rosa
   (1924-2013)

in: Facilidade do Ar
pg.14







(...)


Esse o permanente enigma desta escrita, essa a permanente interrogação que se ergue na soberania tão luminosa dos seus "acordes". Ao tentar responder-lhe, poderíamos falar no amor, no desejo ou simplesmente nessa divindade  obscura e imediata que se confunde com a matéria e com a energia que a sustenta. Mas o essencial será mantermo-nos atentos ao sábio ardor da sua voz, a essa verdade tão sua mas tão ao nosso alcance, sempre condensada em cada uma das suas muitas "lições materiais".

Fernando Pinto do Amaral

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Imagem: Desenho de António Ramos Rosa : aqui

2 comentários:

  1. Era um bom poeta. E um grande divulgador da poesia.
    Abraço

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  2. O corpo do poema "é melodia e ritmo e graça ..."

    e sente-se esse dinamismo ao entrar nele.

    Não há dúvida que os apontamentos de Fernando Pinto do Amaral dissecam o"ardor da sua voz".

    Beijinhos, Olinda.

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