quarta-feira, 22 de novembro de 2017

O teu riso



Tira-me o pão, se quiseres,
tira-me o ar, mas não
me tires o teu riso.

Não me tires a rosa,
a lança que desfolhas,
a água que de súbito
brota da tua alegria,
a repentina onda
de prata que em ti nasce.

A minha luta é dura e regresso
com os olhos cansados
às vezes por ver
que a terra não muda,
mas ao entrar teu riso
sobe ao céu a procurar-me
e abre-me todas
as portas da vida.


Meu amor, nos momentos
mais escuros solta
o teu riso e se de súbito
vires que o meu sangue mancha
as pedras da rua,
ri, porque o teu riso
será para as minhas mãos
como uma espada fresca.

À beira do mar, no outono,
teu riso deve erguer
sua cascata de espuma,
e na primavera , amor,
quero teu riso como
a flor que esperava,
a flor azul, a rosa
da minha pátria sonora.




Ri-te da noite,
do dia, da lua,
ri-te das ruas
tortas da ilha,
ri-te deste grosseiro
rapaz que te ama,
mas quando abro
os olhos e os fecho,
quando meus passos vão,
quando voltam meus passos,
nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas nunca o teu riso,
porque então morreria.

  (1904-1973)

Ricardo Eliécer Neftalí Reyes Basoalto, de seu nome. Poeta chileno. O pseudónimo "Pablo Neruda", uma declaração de afinidade com o escritor checo Jan Neruda, tornou-se o seu nome legal após acção de modificação de nome civil.

Fiquei maravilhada com este poema de Pablo Neruda.

Esta versão que aqui trago encontrei-a no Pensador. Há uma outra no Citador. Talvez diferenças de tradução. Muitas vezes, quando os poemas ou textos não provêm de leituras cuja fonte conheço procuro confirmação em vários sites. Lembro-me de um poema atribuído a Jorge Luís Borges, escritor argentino, que eu publiquei aqui no Xaile, afinal era apócrifo. Fui alertada por Canto da BocaDeixei-o ficar com as devidas ressalvas.

Tenham uma muito boa noite.

====

Imagens: Pixabay

5 comentários:

  1. Este poema é magnifico, nunca me canso de o ler.
    A apresentação ficou linda.
    Beijinhos
    Maria de
    Divagar Sobre Tudo um Pouco

    ResponderEliminar
  2. Não conheço bem a poesia de Neruda; poucos, um punhado só. Mas este 'Riso' deixa um som infinito na alma!

    jorge

    ResponderEliminar
  3. poema muito belo. muito bem "encenado".
    gostei de ler aqui

    ResponderEliminar
  4. Um belo poema que já tinha lido e que vale bem a pena ser relido por uma ou mais vezes.
    Abraço.

    ResponderEliminar
  5. O Pablo é o Pablo e este poema é belíssimo!
    Bjinho

    ResponderEliminar