domingo, 15 de junho de 2014

Alberto da Costa e Silva: o vício de África

Este é o título de mais um artigo do Público dedicado a Alberto da Costa e Silva, desta feita por Diogo Ramada Curto. Nele é referido que a atribuição do Prémio Camões-2014 a este diplomata, que desempenhou funções em Portugal como Embaixador de 1989 a 1992, historiador, poeta, ensaísta, constitui um incentivo para se ler a sua obra.




O articulista mostra como este intelectual brasileiro encontrou em África e no tráfico atlântico de escravos a raiz a partir da qual o Brasil necessita de ser explicado. Dos seus principais livros de história indica os seguintes: A Enxada e a Lança: a África antes dos Portugueses; A Manilha e o Libambo: A África e a Escravidão, de 1500 a 1700 ; Francisco Félix de Souza, Mercador de Escravos; Um Rio Chamado Atlântico. Não esqueço uma colectânea de ensaios publicada há muito em Lisboa O Vício da África e Outros Vícios; nem a sua recente coordenação do vol. I da História do Brasil Nação: 1808-2010 – Crise Colonial e Independência 1808-1930.

De entre eles ressalto "A Enxada e a Lança - a África antes dos Portugueses", que poderá ser lido aqui. Em 1960, Alberto da Costa e Silva foi pela primeira vez a África e conta a sua experiência numa entrevista que poderia ser resumida nestes dizeres:

Viajando, pude confrontar o que lia e ouvia sobre a África com aquilo que via. Sobretudo, conheci gente. E comecei a tomar cuidado para não cometer os enganos que os viajantes apressados costumam cometer, pois pensam que estão vendo bem quando veem apenas a superfície. É preciso ter paciência no olhar. Principalmente, ter cautela para não construir grandes teses, que geralmente se revelam com alicerces de brisa, sem fundamento.

Aproveito para inserir, neste Xaile, mais um poema seu:

Uma Ausência de Mim

Uma ausência de mim por mim se afirma. 
E, partindo de mim, na sombra sobre 
o chão que não foi meu, na relva simples 
o outro ser que sonhei se deita e cisma. 

Sonhei-o ou me sonhei? Sonhou-me o outro 
— e o mundo a circundar-me, o ar, as flores, 
os bichos sob o sol, a chuva e tudo — 
ou foi o sonho dos demais que sonho? 

A epiderme da vida me vestiu, 
ou breve imaginar de um ócio inútil 
ergueu da sombra a minha carne, ou sou 

um casulo de tempo, o centro e o sopro 
da cisma do outro ser que de mim fala 
e que, sonhando o mundo, em mim se acaba. 

Alberto da Costa e Silva, in 'A Linha da Mão'



Desejo-vos uma muito boa tarde. :)


4 comentários:

  1. Como o poema é lindo

    Obrigado pela partilha.

    Gosto sempre de aprender e informação nunca é demais.

    Beijinhos

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  2. Não tem muito a ver com isto, mas ocorreu-me o que me contou ontem uma amiga brasileira: que, no estádio onde a selecção portuguesa jogou, os brasileiros presentes "torciam" pela Alemanha e contra Portugal. Dizia ela que não entendia aquele rancor...
    Beijinhos, bom dia!

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  3. Querida Olinda
    Não conhecia este escritor... :(((
    Obrigada por mo dares a conhecer.
    A verdade é que gosto imenso de ler acerca de África.
    Penso que sabes que sou viciada em leitura (nem parece, não é???), mas gosto de sentir os livros na minha mão. Apesar disso acabei de fazer uma coisa de que não gosto muito - guardei o endereço que nos "ofereces" e assim irei lendo, na Net, "A Enxada e a Lança - a África antes dos Portugueses".
    O poema também é lindíssimo.
    Como não tinha visto o post anterior, fui espreitar...
    Vir ao teu cantinho é, sem qualquer dúvida, aumentar o nosso conhecimento.
    Obrigada, querida!

    Boa semana. Beijinhos

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  4. De facto, ainda hoje olhava para a selecção brasileira em campo e, embora sejam americanos (ou seja, do continente americano) e colonizados por europeus, o que notei nos rostos deles foi África.
    Beijinhos, boa noite!

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