Trago comigo o endereço electrónico do livro de Trindade Coelho, Os Meus Amores, em pdf, que vos ofereço, do mesmo passo que agradeço ao Projecto Vercial que o disponibilizou na internet. É um livro de contos e tem três capítulos: Amores Velhos, Amores Novos, Amorinhos. De Amores Velhos extraí a passagem do conto 'Última Dádiva' que, a seguir, insiro aqui. Este conto é dedicado, pelo autor, a Júlio Monteiro Aillaud, aliás, todos os contos têm dedicatória.
ÚLTIMA DÁDIVA
Distante do rio apenas um tiro de bala ficava o horto do José
Cosme, belo horto ainda que pequeno, todo mimoso de frutas e hortaliças, fechado
entre velhas paredes musgosas, atufadas em silvedo, comunicando com a estrada
por um pequeno portelo mal seguro. E eis aí quanto ao pobre homem restava dos
seus antigos haveres – o horto, a um canto a nora, e perto da nora, sob a umbela
tufada e virente da antiga magnólia gigantesca, a mísera casinhola de alpendre,
apenas com uma porta e duas janelitas laterais, mas toda pitoresca das heras
que a revestiam, que lhe pendiam dos beirais enlaçadas com as trepadeiras. De
modo que na Primavera, quando as parasitas abriam serenamente os seus
melindrosos cálices sobre esse fundo de verdura reluzente, e a magnólia toda se
toucava de flores fazendo dossel à vivenda, aquele pequeno canto de horto, com a
sua nora e com a sua água espelhante e límpida, tomava a feição ingénua de uma
delicadíssima tela de paisagista, aguarela deliciosa, alegre e idílica, cheia de
encantos na poesia rústica da sua simplicidade. No Verão, às horas de calor,
quando o sol caía a pino sobre a larga paisagem adormecida e turva, e as árvores
da estrada não davam sombra que aliviasse, aquela tranquilidade com que o José Cosme
ressonava sob o alpendre, braços nus e peito nu, o chapeirão de palha grossa
resguardando-lhe a cara, fazia inveja aos que por ali passavam, cansados e
cheios de poeira, flagelados por aquela estiagem inclemente.
– Ó Tio José! – gritavam-lhe do caminho. –
Tio José! Ó regalado!
(…)
Boas leituras.
Imagem: daqui
Esta imagem pode não representar a descrição da paisagem constante do texto mas... gostei dela... :)
Imagem: daqui
Esta imagem pode não representar a descrição da paisagem constante do texto mas... gostei dela... :)
✿•̃‿•̃✿
ResponderEliminarMerci pour ce partage Olinda
Je trouve ce texte très beau ❤
GROS BISOUS pour toi
et bonne continuation !
É um texto muito belo amiga. Não conheço "Os meus Amores" de Trindade Coelho, mas a julgar pelo quadro pintado em palavras neste texto é uma obra de arte.
ResponderEliminarUm abraço e bom Domingo.
Ola Olinda!
ResponderEliminarComo recordei aqueles anos em que se estudava a sério Literatura Portuguesa. E Trindade Coelho, além dos seus contos tão deliciosamente bucólicos que tanto me dizem, nunca esqueci essa "divisão" : Amores Novos. A. Velhos e Amorinhos" Acho delicioso. Por isso e porque aprecio demais os nossos escritores com mais tempo (...) foi maravilhosa esta lembrança e partilha.
Beijinho meu
Muito bonito e a avivar-me ainda mais a vontade de dias quentes!
ResponderEliminarBeijinhos, boa semana!
Com este conto, Olinda, viajei no tempo, à aldeia onde nasci. Havia lá muitos " Tio José " com as suas hortinhas bem cuidadas e com essas frondosas árvores junto das pequenas casas. Era pequeno o conforto naqueles tempos, mas havia essa tranquilidade e sempre uma árvore mãe que protegia com a sua sombra o forte calor depois de um dia de trabalho. Estudei literartura ( sou de letras ) e, como diz a nossa amiga Manuela, " nos anos em que se estudava a sério " essa disciplina, mas, não me lembrava destes contos de Trindade Coelho. Como vês, aprendo muito aqui e a minha memória é obrigada a trazer-me lá do fundo esses conhecimentos . Obrigada, amiga! Um beijinho e tudo de bom!
ResponderEliminarEmília
As distinções dos Amores têm perfeita articulação no Contar de Trindade Coelho.
ResponderEliminarParece haver, na actualidade, mais dois palavrões que não eram definidos e que "malha" em boa gente: os Desamores e o Amor/ódio.
A simplicidade dos tempos não se compadece com os calculismos da actualidade.
Gostei da abordagem. É tema que me regala.
Beijos
SOL