terça-feira, 30 de julho de 2013

Clarice e eu



Grande ousadia esta de associar a minha pessoa a Clarice, não acham? Eu explico. Em devido tempo falei aqui da homenagem a Clarice Lispector, sob o título A Hora da Estrela, homónimo de uma das suas obras. A referida homenagem ocorria entre 5 de Abril e 23 de Junho deste ano e eu disse na altura aos meus queridos leitores que pensava lá ir e que depois expressaria aqui as minhas impressões.

Na realidade, fui à Fundação Gulbenkian fazer a visita logo em Abril. Quando entrei deparei-me com um ambiente intimista, à média luz, talvez demasiado média, que, todavia, convidava ao recolhimento. Sem pressas ia lendo as frases escritas nas paredes e em todo o lado. Havia uma divisão em que se projectava um filme com a própria Clarice a falar de si e da sua vida. Entrei num outro compartimento, todo forrado de gavetas, de cima a baixo, algumas com chaves pendentes. Estas é que eram funcionais. Delas saíam feixes de luz e dentro encontravam-se pedaços da vida da escritora: cartas, requerimentos ou petições, algumas das suas obras ou referências a elas, fotos suas e dos filhos...

Devo dizer que não sou apologista de que se traga a público tudo o que diz respeito à vida particular dos autores. Não sei se o aprovariam ou então dever-se-ia ter a certeza disso. Lembro-me, por exemplo, das cartas de Fernando Pessoa a Ofélia: por mim, estas cartas, pelo seu cariz que desnuda a alma e mostra as suas fragilidades, não teriam sido publicadas ou então só parte delas.

Mas, voltando à exposição, apesar das minhas reservas em relação ao detalhe acima mencionado, estava completamente concentrada a admirar Clarice numa fotografia com os filhos pequeninos quando sinto o telemóvel a tremer. Vi que era uma chamada a que não podia deixar de atender e saí apressadamente do recinto, à procura de uma porta para o exterior. Ali atendi a chamada e, ao rodar o corpo para voltar a entrar, tropecei no tapete da entrada que estava mal colocado e caí redonda no chão.

Bem. Seguiu-se a atenção das pessoas presentes querendo saber se me tinha magoado, fui ao pronto-socorro, fiz a participação da ocorrência... Felizmente não parti nada mas tive um dos joelhos com hematomas durante um bom tempo.

Como é natural, tive de dar a visita por terminada mas penso que, por aquilo que me foi dado apreciar, consegui apreender um pouco mais da essência de Clarice Lispector. A minha admiração por ela continua viva e procurarei conhecê-la mais e melhor através da sua obra.

Assim, não vou perder a oportunidade de enriquecer este post com as palavras do comentário da autora de Canto da Boca, aquando da publicação de A Hora da Estrela. Verão como ela é uma profunda conhecedora da obra desta grande autora e sinto-me honrada pela sua presença aqui no Xaile de Seda.

Ora apreciem e não deixem de ver o filme cujo endereço se encontra mais abaixo:



Olinda, Olinda, minha tão querida amiga, Olinda, nem imaginas como exulto de alegria ao ler este poste... Clarice tem em mim o mesmo lugar que ocupa João Cabral! E A Hora da Estrela, me é tão familiar (como toda a sua obra, que tenho o privilégio de ter e de ter lido quase toda, quase!) conta um pouco da Macabea que há em toda mulher nordestina, brasileira, sonhadora (como eu), e que nos convida a buscarmos e não desistirmos dos nossos sonhos, do nosso protagonismo, de sermos senhoras do que queremos e desejamos. Clarice nos sacode para a vida, para não deixarmos de viver nenhum momento, e não pensarmos que apenas no tapete vermelho da fama, do estrelismo, podemos ser estrelas, somos estrelas todos os dias, nessa grande labuta e ofício que é viver num mundo cheio de padrões e temos a coragem de rompê-los, transformá-los! Salvo engano foi seu último romance publicado em vida, virou filme e a Marcela Cartaxo, uma atriz paraibana, incorporou fantasticamente a personagem da trama, inclusive ganhadora do prêmio, Urso de Prata, no Festival de Cinema de Berlim, por esse filme... Desejo que todas nós mulheres brasileiras, portuguesas, do mundo todo, tenhamos todos os dias, horas e horas de estrelas, porque merecemos, por todo nosso legado à história da humanidade...

Estou feliz demais por sua publicação!

Deixo aqui o link do filme: e: http://www.youtube.com/watch?v=376JgN-2cEc

Beijo, obrigada e depois nos diga sua impressão acerca da exposição?

»»»»»

Tenham uma excelente semana.
Abraço

Olinda

10 comentários:

  1. Esta «postagem» tem a perícia de um ensaio e a qualidade a que nos habitou, minha querida amiga. Se visito blogues com qualidade o seu é um deles.

    Descobri Clarice um pouco tarde. Sinto até uma certa vergonha de dizê-lo. A sua extrema sensibilidade - frágil e resistente, todavia. Adorável.

    Beijinho grande

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  2. Fui ver essa exposição e gostei bastante. Quanto à Macabea, não é possível esquecê-la. É uma personagem que passa pela vida sem a vida dar por ela.
    Bjs

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  3. Querida Olinda

    No meio da selva do tempo (creio) Clarisse foi uma clareira segura no modo de pensar e agir.
    Não sou erudito nas Obras da Escritora/Poeta/Pensadora/Mulher para fazer juizos, mas posso avaliar a delícia que sentiste no "seu" ambiente recriado na Gulbenkian (pese o acidente).
    Uma bela acção em prol da Obra e da Criatura.
    Parabéns.




    Beijos



    SOL

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  4. Olá Olinda!
    Confesso que li quase nada de Clarice e sobre Clarice! Mas fiquei curiosa, quero saber um pouco mais sobre esta Senhora/pensadora/poetisa.
    Uma bela homenagem essa a que foste na F.G.( as melhoras para ti).
    Já me tinha apercebido que a autora do Canto da Boca é alguém com uma cultura superior.
    Gostei de ler o teu texto e o dela. Vivendo e aprendendo...
    Vou ver o filme se o meu computador deixar... anda muito esquisito...a falhar constantemente...
    Está gasto, tal como eu!
    Beijos.
    M. Emília

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  5. Oi Olinda,
    Leio muito sobre poeta e escritores que gosto e admiro. A Clarice esta entre eles.
    A Clarice foi uma grande escritora.
    Vou ver esse link depois...
    Deixo um grande abraço e desejo uma ótima quinta.
    Abraços!

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  6. Uma grande escritora, que também admiro.
    E gostava de ter ido à Gulbenkian, mas não pude...
    Lamento a tua queda... mas ainda bem que não foi nada de grave.
    Olinda, tem um bom fim de semana.
    Abraço.

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  7. Oi Olinda. Muito interessante teu relato sobre tua visita a fundação.
    Quero dizer que amei teu testemunho sobre tudo que viu por lá.
    Ela foi uma daquelas mulheres que mexe com nossa sensibilidade.
    Seu universo particular e mesmo como escritora, é retratado talvez por uma de suas frases quando diz que:

    "Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro"

    Outra:

    "Minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem de grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite"

    Um abraço fraterno, beijos.

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  8. Querida amiga

    É um milagre
    o que as palavras
    de alguém tão distante,
    seja nos quilômetros,
    seja em outra vida
    inspiram em nós.
    Entendo cada palavra sua...

    Que em teu coração,
    a vida possa dançar
    a música da alegria.

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  9. Este comentário foi removido pelo autor.

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  10. Olinda, Olinda, querida amiga, estou em débito contigo, a minha inconstância se dá em função do volume do meu trabalho, mesmo tendo estado de férias por 12 dias.... Tenho visto as suas postagens, mas não tenho lido como mereces, sequer interagido, sabes que adoro participar nos meus blogues preferidos, e como não tenho tido condições de acrescentar, de minimamente dizer algo como vocês merecem, então não registro a minha passagem.
    Mas diante da postagem sobre Clarice (e a anterior Hilda, e juntamente com a Ana Cristina César, que fazem a minha tríade poética feminina, a minha "santíssima trindade"), não posso ficar ausente. Entretanto voltarei aqui com vagar para deixar minhas impressões, mas depois do dia 10 de agosto.

    E deixo um beijo cheio de carinho, além do meu obrigada!

    ;))

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