sexta-feira, 18 de maio de 2012

Companheiros

quero
escrever-me de homens
quero
calçar-me de terra
quero ser
a estrada marinha
que prossegue depois do último caminho

e quando ficar sem mim
não terei escrito
senão por vós
irmãos de um sonho
por vós
que não sereis derrotados

deixo
a paciência dos rios
a idade dos livros

mas não lego
mapa nem bússola
porque andei sempre
sobre meus pés
e doeu-me
às vezes
viver
hei-de inventar
um verso que vos faça justiça

por ora
basta-me o arco-íris

em que vos sonho
basta-te saber que morreis demasiado
por viverdes de menos
mas que permaneceis sem preço

companheiros


Mia Couto
Moçambique
Poema retirado de
AQUI

Imagem:internet

4 comentários:

  1. Gosto imenso de Mia Couto. E este poema é lindo. Obrigada pela partilha.
    Um abraço

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  2. Olinda querida:
    Mia Couto, com aquele ar de eterna criança, enternece-me. O mais estranho, é que nunca estive em África, e sinto-a através dele.
    Lindo, este poema.
    Beijinhos, minha querida.
    Maria

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    Respostas
    1. Querida Maria

      Revendo-o mentalmente tem mesmo esse ar. :)

      Eu também adorei este poema que diz tanta coisa em tão poucas palavras.

      Bj

      Olinda

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