Década de '50, do século XX.
Enclausurados nas ilhas, com anos de seca a fio e a fome a assolar as ilhas, a única saída era o contrato. Os homens eram arrebanhados, famílias inteiras, casais, irmãos aos três e aos quatro assinavam contratos de faz-de-conta e eram enviados rumo ao desconhecido. O destino, entre outros, era São Tomé e Príncipe, para as roças, onde eram mantidos sem as mínimas condições à mercê de um clima tropicalíssimo, de febres e de mosquitos. Dinheiro nem vê-lo. A maior parte nunca regressou à terra. Os que não morreram viveram na ilusão e esperança de um regresso. Os descendentes moídos de saudades falam dessa terra prometida...ao contrário.
A fome, as secas e as suas consequências são temas recorrentes da literatura caboverdiana, especialmente na geração do movimento com cariz de emancipação cultural, social e política, concretizado pelo aparecimento, em 1936, da revista literária A Claridade.
Enclausurados nas ilhas, com anos de seca a fio e a fome a assolar as ilhas, a única saída era o contrato. Os homens eram arrebanhados, famílias inteiras, casais, irmãos aos três e aos quatro assinavam contratos de faz-de-conta e eram enviados rumo ao desconhecido. O destino, entre outros, era São Tomé e Príncipe, para as roças, onde eram mantidos sem as mínimas condições à mercê de um clima tropicalíssimo, de febres e de mosquitos. Dinheiro nem vê-lo. A maior parte nunca regressou à terra. Os que não morreram viveram na ilusão e esperança de um regresso. Os descendentes moídos de saudades falam dessa terra prometida...ao contrário.
A fome, as secas e as suas consequências são temas recorrentes da literatura caboverdiana, especialmente na geração do movimento com cariz de emancipação cultural, social e política, concretizado pelo aparecimento, em 1936, da revista literária A Claridade.
Gabriel Mariano, autor deste poema, faz parte da geração pós-Claridoso, Nova Largada, de produção contestária. De referir Capitão Ambrósio, um dos seus poemas mais emblemáticos.
Cabo Verde festeja hoje, 5 de Julho, a sua Independência.
Caminho
caminho longe
ladeira de São Tomé
Não devia ter sangue
Não devia, mas tem.
Parados os olhos se esfumam
no fumo da chaminé.
Devia sorrir de outro modo
o Cristo que vai de pé.
E as bocas reservam fechadas
a dor para mais além
Antigas vozes pressagas
no mastro que vai e vem.
Caminho
caminho longe
ladeira de São Tomé
Devia ser de regresso
devia ser e não é.
Gabriel Mariano
(poeta caboverdiano)
Poema e Imagem in:
LUSOFONIA POÉTICA
http://mdebrassilusofoniapoetica.blogspot.com
AMEI APLAUSOS E UMA SEMANA DE PAZ E AMOR!!!
ResponderEliminarEsse poema e profundo e dolorido, mas muito bonito. Gostei bastante! Um abraço e ótimo começo de semana.
ResponderEliminarDiscrição elucidativa ...e belo poema que
ResponderEliminarjá conhecia...
Beijo
Meus amigos
ResponderEliminarObrigada pela vossa visita e comentários.
Abraços.
Olinda
Minha querida, este texto juntamente com o poema revelam certa semelhança com um longo período aqui no nordeste do Brasil também no século XX e também por várias décadas que se estendeu do império até os anos 70.
ResponderEliminarQuem leu o livro Morte e Vida Severina escrito por João Cabral de Melo Neto, notará tal semelhança, guardada as devidas proporções e cada local com suas particularidades. O livro apresenta um poema dramático, que relata o sofrimento na aridez de um sertão abrasador, onde um migrante vai tentar uma vida mais fácil no litoral.
Admiro este teu blog pelo conteúdo, e pelo serviço que ele presta à cultura de um modo geral.
Um fraterno abraço do teu leitor e um beijo.
Querida Olinda:
ResponderEliminarExcelente post, com uma boa introdução, um lindo poema e uma bonita pintura.
Teve a óptima ideia de fazer uma homenagem também a Cabo Verde no dia em que se celebra a sua independência.
Houve pessoas que sofreram tanto, em busca de um sonho que jamais se concretizou!
Deixei um abraço para si em "Luz de África".
Aqui deixo-lhe outro.
Para ti...
ResponderEliminarCOMO FAZER PARA VIVER
A vida é um encontro e desencontro
De coisas lindas e feias
De risos e de lágrimas
De dor e alegria
De sofrimento e felicidade.
A vida é isto e muito mais
E mesmo com o ser e não ser
Muitas vezes temos que esperar
Para que passe o mal e fique o bem.
E mesmo depois de muito cansaço
Procuramos a tábua de salvação
Vamos agarrá-la com as duas mãos
Para que a vida seja salvação..
LILI LARANJO
Dentro de 1/2 meses ou mais editarei livro de contos infantis (Era uma vez)
se quiser que guarde um diga-me
beijos
Oi Olinda!
ResponderEliminarObrigada pelo que aprendi,hoje dia de festa,.dia da independência em Cabo Verde.
Lindo poema,sentido!
Até brteve
Herminia
Querida Olinda
ResponderEliminarVivi em Cabo Verde dois inolvidáveis anos. Já escrevi algumas coisas sobre o tema (e mais escreverei ainda), que serão incluidas no meu próximo livro.
A propósito, lembra-se ?:
"Quem mostra' bo
Ess caminho longe?
Quem mostra' bo
Ess caminho longe?
Ess caminho
Pa São Tomé
Sodade sodade
Sodade
Dess nha terra Sao Nicolau..." etc., etc.
Nesta e noutras canções Cesária Évora recorda esses tempos e essas vidas sofridas.
É linda a homenagem aqui prestada, através dum lindo texto e dum não menos belo poema.
Também gosto muito da pintura.
Uma semana feliz. Beijinhos
Hoje, interrogamo-nos que mentalidades eram as daquelas época? Como é que, numa altura em que já se falava de direitos humanos, em que já existia sobretudo na europa uma consciência humanista, se permitiam as sociedades coexistir com uma minoria elitista e dominante, que acumulava fortuna à custa de vida humana escravisada...
ResponderEliminarBoa noite Olinda!
ResponderEliminarGostei de ver...
Beijos,
Mara
Muito bela a sua homenagem a esses pobres
ResponderEliminarque arrostaram com o fascismo e a escravidão!
Bjsss
Caro Antônio
ResponderEliminarExcelente referência essa de João Cabral de Melo Neto e à sua obra indicando e bem pontos de contacto com o tema do meu post.Aguçou a minha curiosidade e fui ver mais sobre a sua biografia.E é assim que se vai fazendo este intercâmbio e cada dia recebemos, uns dos outros, estas pérolas que nos vão enriquecendo.
Um grande abraço.
Olinda
Querida Isabel
ResponderEliminarObrigada pelas suas palavras sempre tão bonitas.Fui buscar este poema e a imagem ao blog da amiga Mara, Lusofonia Poética, um verdadeiro Banco de poesia que ela alimenta postando todos os dias.Um grande serviço prestado aos poetas lusófonos.
Já fui ao seu blog receber o seu abraço que retribuo com carinho.
Beijo
Olinda
Olá, Lili
ResponderEliminarAgradeço o teu poema, lindo e generoso presente.
Irei ao teu blog em breve.
Beijinho
Olinda
Querida Hermínia
ResponderEliminarSim, o poema é lindo e sentido, destacando um dos períodos mais terríveis da História de Cabo Verde.
Beijos
Olinda
Olá, Mariazita
ResponderEliminarQue bela surpresa!Vou querer saber mais sobre aquilo que escreve... :)
Quanto à letra em crioulo quase que oiço a belíssima voz de Cesária a cantar a 'morna'.Inesquecível!
Muito obrigada pelo lindo comentário.
Beijo
Olinda
Dizes bem, Bartolomeu.A Europa acabada de sair duma grande guerra, dum holocausto, tentando sarar as feridas, com a assinatura ainda fresca da Declaração Universal dos Direitos Humanos, mais ainda tão desatenta a determinado status quo que raiava a escravatura.Mas a parte boa disto tudo é que a partir dessa altura as coisas começaram a mudar. A tragédia europeia daquela altura abriu mentes e oportunidades, permitindo a estes povos caminharem em direcção à sua própria liberdade, ainda que preço tenha sido altíssimo...
ResponderEliminarUm grande abraço.
Olinda
Querida Mara
ResponderEliminarQue bom vê-la por aqui e por ter gostado da utilização que fiz do material que trouxe lá do seu blog.Obrigada.
Beijos
Olinda
Olá, Vieira Calado
ResponderEliminarNada mais verdadeiro!O caminho foi longo e doloroso mas felizmente a dignidade foi reencontrada...
Abraço
Olinda
Fugidia por causa destes tempos de exames...quase deixava escapar este belo post.
ResponderEliminarSabe que aprecio muito a Literatura de cabo Verde. Fui, aliás, aluna pioneira de um claridoso: Manuel Ferreira.
bj
Olá, Ana
ResponderEliminarE os exames que nunca mais acabam, não é?
:)
Gostei de saber do seu gosto pela Literatura de Cabo Verde e de ter conhecido Manuel Ferreira tão de perto.
Beijo
Olinda