domingo, 6 de fevereiro de 2011

CARTAS DE AMOR




Eis Álvaro de Campos o homem das Odes mas que também aprendeu a ser sensacionista com o mestre Caeiro. Li algures que Campos procura incessantemente sentir tudo de todas as maneiras. Fernando Pessoa, através deste poema, mostra bem que os bilhetes que ele enviava à Ofélia com todos aqueles mimos e miminhos e diminutivos pertenciam ao seu foro íntimo e só a Ofélia, a destinatária, deveria lê-los. Penso que não deveriam ter sido publicados.   

Todas as cartas de amor são
       Ridículas.
       Não seriam cartas de amor se não fossem
       Ridículas.
       Também escrevi em meu tempo cartas de amor, 
       Como as outras,
       Ridículas.
       As cartas de amor, se há amor, 
       Têm de ser
       Ridículas.
       Mas, afinal,
       Só as criaturas que nunca escreveram 
       Cartas de amor 
       É que são
       Ridículas.
       Quem me dera no tempo em que escrevia 
       Sem dar por isso
       Cartas de amor
       Ridículas.
       A verdade é que hoje 
       As minhas memórias 
       Dessas cartas de amor 
       É que são
       Ridículas.
       (Todas as palavras esdrúxulas,
       Como os sentimentos esdrúxulos,
       São naturalmente
       Ridículas.)
Álvaro de Campos

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