sábado, 5 de fevereiro de 2011

TERRA MORTA


Eu não conhecia Castro Soromenho. Nunca tinha ouvido falar dele. Por motivo de estudo foi-me indicado o romance Terra Morta um dos livros da trilogia Camaxilo - Terra morta(1949), A chaga(1957) e Viragem(1970). Comecei a lê-lo e tudo se encaixou. A trama desenrola-se em Angola e Camaxilo é uma aldeia, uma célula daquilo que poderia representar o sistema colonial português: administrador de posto, secretário, aspirante, cipaio, comerciantes brancos, mulatos nascidos das suas ligações com mulheres da terra arrancados aos naturais, soba, cubatas, homens negros arrebanhados para o trabalho das minas e outros e também os assimilados. Tudo num ambiente de autoritarismo, degradante, num espaço muito contido, dramático.

Em 4 de Fevereiro de 1961 dá-se em Angola o início da guerra que ficaria conhecida como guerra colonial. Ninguém prestara atenção aos sinais. Angola, Moçambique, Guiné-Bissau. Um sorvedouro de jovens de ambos os lados. Os que não morreram ficaram com as vidas destroçadas, com traumas e pesadelos. Não nos sentimos preparados, ainda hoje, para falar disso abertamente e curar as nossas feridas. Pouco se escreve, pouco se debate. Um trabalho ímpar e meritório é o de Joaquim Furtado, uma investigação aturada, sem medos, aproveitando o testemunho dos sobreviventes. Mesmo assim continuamos no nosso marasmo.

A terceira parte do trabalho de Joaquim Furtado vem aí, com previsão para este ano. Saibamos dar-lhe o devido valor.


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