sexta-feira, 7 de novembro de 2025

Que desabrochem flores...

 Havia em Babilónia uma canção. Tão prenhe de memória que explodia em multidões...

Um dia, alquebrados, mas vivos, os babilónios ocuparam a rua. Com fome de pão e de Futuro. E abarrotaram avenidas e praças, num coro de estrofes e emoções...

Hammurabi, o legislador, cofia a barba: há que subir o pré aos generais.

Chegou tarde, porém - os generais estão indignados...

Dizem alguns que os Escribas estão a mudar de campo. E relatam...


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Um poeta cego e semilouco exclama: que desabrochem flores na ponta dos sabres!...

In: Notícias de Babilónia e outras metáforas, pg 95, de Manuel Veiga


O autor entende a crise racionalmente, mas sente-a emocionalmente. É sobretudo um criador de poesia, da qual não se desembaraça nestes textos. As suas metáforas políticas, quase sempre amargas, constituem, de alguma forma, insurgências de uma zombaria ancestral, com que a arraia-miúda se vingava dos desmandos dos poderosos. Outras vezes, os textos ecoam uma plangência dorida e esperançosa, como gestos solidários que se expõem desamparados ao leitor (…) do prefácio de António Bica João Corregedor




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Imagens: net

terça-feira, 4 de novembro de 2025

Tertúlia de Amor (4)

 


Convite da amiga Rosélia para esta 

Tertúlia de Amor

a decorrer até Dezembro

(Um post por mês)

BLOG: AMORAZUL




Reencontro


Na Promenade des Anglais, em Nice, o  mar sussurrava e enviava as ondas como mensagens aos transeuntes trajados de roupas estivais. Os pares avançavam mansamente, com vagar, naquele fim de tarde dourado. Segredavam coisas e davam risadas gostosas, aspirando a brisa que
cheirava a maresia. 

Dinola e Manuel seguiam naquele balancé, enterravam os pés na areia e sentiam a sua frescura, saltavam alegremente, corriam atrás um do outro completamente descontraídos e dando graças por se terem reencontrado.

Estiveram longe durante quanto tempo? Cinco anos, dez anos? Que importa? Contra todas as expectativas, deram de caras numa excursão em Saint Paul de Vence, pelas aldeias medievais, no momento em que Dinola quase torcia um pé numa das ruelas floridas. Providencialmente foi socorrida por Manuel e desataram às gargalhadas quando se reconheceram. 

A partir desse momento, ficaram inseparáveis, procurando afincadamente restaurantes que lhes lembrassem os sabores do passado e admirando-se com pinturas de Matisse e outros pintores, e passeando por recantos maravilhosos.

Agora, ali estão eles felizes, ao pé do mar, desafiando o tempo e pensando apenas que esse mesmo tempo lhes oferecia aqueles momentos como uma dádiva.
 
No seu encantamento, amantes de dança, ouviram, não se sabe de onde, acordes lindíssimos de piano e deixaram-se levar, embalados naquele pôr-do-sol... 

Olinda 



Maria João Pires
Aplaudida mundialmente, acaba de
anunciar o fim da sua carreira
como intérprete


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Imagem: net

quinta-feira, 30 de outubro de 2025

LISBON REVISITED (1923)


Não: não quero nada
Já disse que não quero nada.

Não me venham com conclusões!

A única conclusão é morrer.

Não me tragam estéticas!

Não me falem em moral!

Tirem-me daqui a metafísica!

Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas

Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) —

Das ciências, das artes, da civilização moderna!

Que mal fiz eu aos deuses todos?

Se têm a verdade, guardem-na!

Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica.

Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo.

Com todo o direito a sê-lo, ouviram?

Não me macem, por amor de Deus!

Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?

Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?

Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.

Assim, como sou, tenham paciência!

Vão para o diabo sem mim,

Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!

Para que havemos de ir juntos?

Não me peguem no braço!

Não gosto que me peguem no braço. Quero ser sozinho.

Já disse que sou sozinho!

Ah, que maçada quererem que eu seja de companhia!

Ó céu azul — o mesmo da minha infância —

Eterna verdade vazia e perfeita!

Ó macio Tejo ancestral e mudo,

Pequena verdade onde o céu se reflecte!

Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje!

Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta.

Deixem-me em paz! Não tardo, que eu nunca tardo...

E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar sozinho!


Álvaro de Campos





Lisbon Revisited (1923)
Por Antônio Abujamra
Álvaro de Campos (1890-1935) igual a si próprio. 

Não me tragam estéticas!

Não me falem em moral!

Tirem-me daqui a metafísica!

Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas

Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) —

Das ciências, das artes, da civilização moderna!

Contudo, dá-me parecenças com José Régio (1901-1969), com o seu "Cântico Negro":
"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...

Ambos rebeldes na sua forma de escrever e de ver o mundo. 
Fernando Pessoa tinha uma vida interior rica e complexa, como o demonstram os seus vários heterónimos.


Abraços e boa semana, amigos.
Olinda


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1923

Poesias de Álvaro de Campos. Fernando Pessoa. Lisboa: Ática, 1944 (imp. 1993).

  - 247.

1ª publ. in Contemporânea, nº 8. Lisboa: 1923.


Arquivo Pessoa: Obra Édita - LISBON REVISITED (1923) -

domingo, 26 de outubro de 2025

João Chagas - o jornalista panfletário*

  Anteontem, no banquete oferecido em Santarém aos republicanos de Lisboa, deu-se um episódio ao qual tive a boa fortuna de assistir.

 Ao terminar um brinde, um republicano da região ergueu um viva à República a que todos os assistentes se associaram. Mas, neste momento, o Sr José Relvas, que assistia ao banquete, levantou-se do seu lugar e considerou um momento com serenidade a sala agitada da festa, como parecendo pedir silêncio, que de resto,  logo se fez. No meio do silêncio, então, o Sr Relvas, com a serenidade que é própria do seu porte e das suas palavras, disse:

_Mais alto! Mais alto para que se ouça em Lisboa!

E, levantando a voz, bradou por sua vez:

_Viva a República!

(...)

João Chagas, 1908, in diário da Liberdade, de Aniceto Afonso, pgs 356/357


João Chagas


***


Estamos em 1908, ano em que se deu o regicídio. O rei D.Carlos I e o príncipe herdeiro Luís Filipe foram assassinados, marcando um ponto de viragem na história política portuguesa. 

Desde 1876 que o Partido Republicano vinha fazendo história ganhando ainda mais proeminência com o Ultimato Inglês, que exigia que Portugal retirasse as suas tropas dos territórios entre angola e Moçambique, hoje Zimbabwe e Malawi.

O partido propunha a substituição da monarquia constitucional por uma república liberal parlamentar e vai beber os seus fundamentos na Revolução Francesa, 1789, defendendo os valores da liberdade, igualdade, fraternidade. Não esquecer que a Revolução Francesa foi inspirada pela Revolução Americana, 1776, que defendia a participação dos cidadão nas decisões governamentais.

Entre os vários seguidores de ideais republicanos temos João Pinheiro Chagas, (1863-1925), homem multifacetado, jornalista, escritor, crítico literário, político, diplomata e conspirador, republicano liberal que, por via disso, foi por variadas vezes preso e degredado para a colónia penal de Angola, por um período de 6 anos, donde fugiu. 

A 1 de Novembro de 1891, foi enviado de novo para Angola, fugindo de novo, desta feita para o Brasil, sua terra natal, donde depois regressou tendo fundado a Marselhesa e continuando a sua acção em prol de regime republicano.

Do seu curriculum consta que deixou uma das obras mais importantes, e por isso mesmo mais injustamente esquecida, do jornalismo político, de ideias e de doutrinação democrática publicadas em Portugal, sendo autor de alguns dos textos basilares para a compreensão do processo formativo, evolução e parâmetros ideológicos do republicanismo português e continuou a lutar pela causa republicana.

Da sua experiência do degredo escreveu Trabalhos Forçados (1900) e Diário de um Condenado Político (1913).

Na altura da sua morte, Carlos Olavo expressou no Diário de Notícias (1 de Junho de 1925) a devoção inteira a essa causa: "A figura de João Chagas implica uma página das mais sugestivas da história da República. Direi melhor da pré-história porque a sua acção começa vinte anos antes da implantação do regime. (...) Traçar o perfil político de João Chagas é escrever a história desse período imediatamente anterior à implantação da República no que ela tem de mais emocionante de mais agitado e de mais febril. Em todos os acontecimentos que nele se desenrolaram João Chagas teve sempre um papel dominante." aqui

No passado dia 5 de Outubro homenageou-se a data da Implantação da República. Todos os anos faço menção a essa data, não me esquecendo, normalmente, dos três conspiradores Miguel Augusto Bombarda, Cândido dos Reis e António Machado Santos. 

Se lhe interessar, veja aqui um dos meus textos, escrito em 18 de Janeiro de 2019, com o título, Heróis Trágicos da República.

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João Chagas: Itinerários de um intelectual republicano - Noêmia Novais, link indicado por José Carlos Sant Anna.

Muito obrigada, amigo.


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Bom fim de semana, amigos.

Abraços.

Olinda


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*daqui - biografia no Público


quarta-feira, 22 de outubro de 2025

Esta lembrança




Esta doce lembrança

Cruel no seu âmago

Colou-se-me à pele

Imprimiu-se em mim


É força positiva, aliás,

Energia quase negativa

Conforme eu visiono 

O meu mundo interior


Um desejo insatisfeito

Muito para além de mim

Universo assaz perdido

Num dia aziago e distante

Dinola Melo 



VERDES ANOS - Rapsódia
 Marta Pereira da Costa



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Imagem: pixabay

sexta-feira, 17 de outubro de 2025

Até logo

 À Isaura




Há oito meses dissemos:
– Até logo!
Era uma tarde fria de Novembro
uma tarde como qualquer outra
gente regressando a casa do trabalho
lancheiras malas rugas profundas no rosto.

Se houvesse malas de mão
para a saudade a desventura
não havia malas no mundo que chegassem…

Era uma tarde fria de Novembro.
Não sei se alguém sorriu
do beijo que trocámos.
– Até logo – disseste.

Depois passaram oito meses
os meses mais compridos que tenho encontrado.

Que pensamentos levava comigo?
Sei que disseste «até logo»
E era como se levasse as tuas mãos
Abertas sobre o meu peito.

Pensava
que só nas despedidas breves
por horas
se dizia «até logo»
como a alguém que parte
«boa viagem»
ou ao nosso companheiro
«bom trabalho».

Mas já passaram oito meses
duzentos e quarenta dias
cinco mil e setecentas horas.
Porque disseste
«Até logo»?

Se eu não soubesse
aprenderia que na minha pátria
os namorados dizem «até logo»
e estão meses anos
por vezes não voltam mais.

Fecham-nos
atrás de grades de ferro
espancam-nos
matam-nos devagar
e não permitem que apareçam
«logo».

Amiga
o ódio que trago armazenado
destas noite de insónia e abandono
dou-o à luta.
Mas temos que sofrer
sofrer deveras.
Até que um dia
Os homens cantarão livres como os pássaros

os namorados beijarão sem pressa
e as palavras «até logo»
quererão dizer simplesmente
«até logo»

António Borges Coelho

    (1928-2025)


António Borges Coelho, historiador, poeta e teatrólogo português. Catedrático jubilado da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, tem diversos títulos publicados sobre história medieval e começos da Idade Moderna.

Licenciado em Ciências Histórico-Filosóficas pela Universidade de Lisboa, doutorado em História Moderna com um estudo sobre a Inquisição de Évora, foi docente na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, especializado na área da História dos Descobrimentos e da Expansão Portuguesa.

Colaborou em várias publicações periódicas com estudos históricos; efetuou traduções de obras filosóficas e históricas; dirigiu a revista História Sociedade. No domínio da investigação histórica, revelou-se com A Revolução de 1383, numa tentativa de caracterização dessa crise sociopolítica a partir de uma perspetiva baseada no materialismo histórico. Ver aqui

Foi meu professor.

Faleceu hoje.


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Poema: daqui

segunda-feira, 13 de outubro de 2025

"Os Maias", dançado

  Pela primeira vez na forma de bailado, o romance de Eça de Queirós estreia-se no Teatro Camões a 16 de Outubro, estando previstas dez apresentações, até dia 26 do mesmo mês. É uma criação de Fernando Duarte, coreógrafo e director artístico da CNB, um bailado em três actos que conta a trágica história do amor incestuoso de Carlos da Maia e Maria Eduarda. 




Foi o que eu li e ouvi ontem. 

Também vi alguns passos na Tv2 o que aguçou a minha curiosidade. O romance de costumes de Eça de Queirós, em passos de dança, estreia absoluta. O que diria Eça perante tal representação artística, ele que tinha sempre uma palavra a dizer acerca do que se passava na sociedade lisboeta?

Senhor de uma Obra gigantesca, sendo "Os Maias" uma das mais conhecidas, publicada em 1888. Esta trata da história de três gerações da Família Maia, na qual vemos desenrolar a tragédia de Carlos e Maria Eduarda, irmãos, mas também temos contacto com personagens que agilizam a trama como o retórico João da Ega e o Eusebiozinho, representante da educação tradicional e retrógrada portuguesa.

O autor inicia o livro com a descrição da Casa do Ramalhete que nada tem de campestre e fresco, antes pelo contrário de ambiente bastante escuro e pouco apelativo. Apesar do tema delicado, vemos que ao longo da obra não perde a oportunidade de aplicar a sua fina ironia e crítica na leitura das situações que se apresentam nas reuniões burguesas da Lisboa do século XIX.

Vou aproveitar para reler "Os Maias".


Abraços, amigos.

Boa semana.

Olinda


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Imagem: daqui 

"Os Maias" - em PDF

quarta-feira, 8 de outubro de 2025

Ana Paula Tavares - Prémio Camões 2025

 




"A massambala cresce a olhos nus"

Vieram muitos
à procura de pasto
traziam olhos rasos da poeira e da sede
e o gado perdido.

Vieram muitos
à promessa de pasto
de capim gordo
das tranqüilas águas do lago.
Vieram de mãos vazias
mas olhos de sede
e sandálias gastas
da procura de pasto.

Ficaram pouco tempo
mas todo o pasto se gastou na sede
enquanto a massambala crescia
a olhos nus.

Partiram com olhos rasos de pasto
limpos de poeira
levaram o gado gordo e as raparigas.


 O lago da lua - 1999



 



De alguns dos excelentes poemas de Ana Paula Tavares que já publiquei, optei por republicar "Vieram muitos" por me lembrar a luta do povo Kuvale do sul de Angola, povo esse registado por Ruy Duarte de Carvalho, em "Vou lá visitar pastores". Também Pepetela dedica algumas páginas no seu livro "Yaka", ao drama desse povo. 

Ana Paula Tavares, angolana, escritora, historiadora, cuja biografia consta já no Xaile de Seda, conta com uma obra de respeito e já tive oportunidade de falar sobre ela e, como disse acima, de publicar poemas seus. Portanto, não me surpreendeu que o júri do Prémio Camões lhe tivesse atribuído o mais alto galardão de literatura em língua portuguesa. 

Aproveito para deixar aqui mais um dos seus poemas, que muito aprecio:


MUKAI

(2)


O ventre semeado

desagua cada ano

os frutos tenros

das mãos

(é feitiço)

nasce a manteiga

a casa

o penteado

o gesto

acorda a alma

a voz

olha para dentro

do silêncio milenar.

Ana Paula Tavares

(O lago da lua)




Welwitschia - Deserto do Namibe





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Ana Paula Tavares - aqui, no Xaile de Seda.

Buala: Três olhares sobre a etnia kuvale

AMOR

 




o teu rosto à minha espera, o teu rosto
a sorrir para os meus olhos, existe um
trovão de céu sobre a montanha.

as tuas mãos são finas e claras, vês-me
sorrir, brisas incendeiam o mundo,
respiro a luz sobre as folhas da olaia.

entro nos corredores de outubro para
encontrar um abraço nos teus olhos,
este dia será sempre hoje na memória.

hoje compreendo os rios. a idade das
rochas diz-me palavras profundas,
hoje tenho o teu rosto dentro de mim.

José Luís Peixoto
in "A Casa, A Escuridão"



José Luís Marques Peixoto ( 04/09/1974) é um escritor, dramaturgo e poeta português,
cuja primeira obra foi publicada em 2000. Com apenas 27 anos, José Luís Peixoto foi o mais jovem vencedor de sempre do Prémio Literário José Saramago. Desde esse reconhecimento, a sua obra tem recebido amplo destaque nacional e internacional. Os seus livros estão traduzidos e publicados em 26 idiomas. Foi o primeiro autor de língua portuguesa a ser traduzido e publicado na Arménia (Morreste-me, 2019), na Geórgia (Galveias, 2017) e na Mongólia (A Mãe que Chovia, 2016).aqui




Julio Iglesias
Amor, Amor






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Poema: citador
imagem: pixabay

quinta-feira, 2 de outubro de 2025

Tertúlia de Amor (3)



Convite da amiga Rosélia para esta 

Tertúlia de Amor

a decorrer até Dezembro

(Um post por mês)

BLOG: AMORAZUL


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Livro da Vida


Entre conversas alegres e risos

Viu-a sentada, concentrada a ler

Um livro que parecia muito 

interessante


Alheia ao que se passava à sua volta

um ambiente de sonho promovido 

pela anfitriã, cheio de luz e de sabores

campestres 


A música soava como um convite ao

enamoramento, a que o perfume das flores

em jarras coloridas emprestava brilhos

 de Sonho


Aproximou-se enlaçou-a pela cintura

E espreitou por cima do seu ombro

Interrompeu-a perguntando-lhe o

que estás a ler?


Com um sorriso doce e encantado

disse: O Livro da Vida, que nos leva 

numa viagem maravilhosa e ensina

a doçura do amor


Uma experiência humana em que os mais 

belos sentimentos se aliam e fazem de nós

Os protagonistas de uma bela história

por demais desejada


SER FELIZ!


Olinda




Almir Sater

Tocando em Frente




Abraços, amigos.

Olinda




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O Livro da Vida, segundo Kahlil Gibran | e-cultura

Imagem: pixabay

sábado, 27 de setembro de 2025

O primeiro de todos os meus sonhos





o primeiro de todos os meus sonhos era sobre
um amante e o seu único amor,
caminhando devagar(pensamento no pensamento)
por alguma verde misteriosa terra

até o meu segundo sonho começar—
o céu é agreste de folhas;que dançam
e dançando arrebatam(e arrebatando rodopiam
sobre um rapaz e uma rapariga que se assustam)

mas essa mera fúria cedo se tornou
silêncio:em mais vasto sempre quem
dois pequeninos seres dormem(bonecas lado a lado)
imóveis sob a mágica

para sempre caindo neve.
E então este sonhador chorou:e então
ela rapidamente sonhou um sonho de primavera
—onde tu e eu estamos a florescer

E. E. Cummings, 
in "livrodepoemas"
Tradução de Cecília Rego Pinheiro




Edward Estlin Cummings (1894-1962), usualmente abreviado como e. e. cummings, em minúsculas, como o poeta assinava e publicava, foi um poetapintor, ensaísta, autor e dramaturgo americano.
...No momento de sua morte, Cummings era reconhecido como o "segundo poeta mais lido nos Estados Unidos, depois de Robert Frost".






Amor em construção
Marco Rodrigues e Marisa Liz




Meus amigos,
A partir de segunda-feira vou ausentar-me 
por uns dias.
Abraços
Olinda


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Poema: in Citador
imagem: pixabay

terça-feira, 23 de setembro de 2025

O amarelo actual que as folhas vivem




Quando, Lídia, vier o nosso Outono

Com o Inverno que há nele, reservemos

Um pensamento, não para a futura

Primavera, que é de outrem,

Nem para o Estio, de quem somos mortos,

Senão para o que fica do que passa —

O amarelo actual que as folhas vivem

E as torna diferentes.


Ricardo Reis




***


Ricardo Reis (19 de setembro de 1887) é um dos quatro heterônimos mais conhecidos de Fernando Pessoa, tendo sido imaginado de relance pelo poeta em 1913 quando lhe veio à ideia escrever uns poemas de índole pagã.

aqui



Um Outono metafórico como imaginária é a figura de Lídia.
Mas a realidade é bem diferente. O nosso Outono já deu entrada neste nosso hemisfério, mais precisamente por cá. Tempinho fresco, mas a prometer calor lá mais para a frente, e alguma chuva que não chega para apagar os incêndios que já voltaram.

Mas tenho umas belas palavras, do nosso poeta Luís Rodrigues, que tomo a liberdade de transcrever:



O Outono

é um lugar só nosso

onde guardamos a beleza
 
das estações da vida

L.R.



Abraços. meus amigos.
Olinda




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13-6-1930

Odes de Ricardo Reis . Fernando Pessoa. (Notas de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1946 (imp.1994). 

 - 120.

1ª publ. in Presença , nº 31/32. Coimbra: Mar./Jun. 1931.