terça-feira, 14 de janeiro de 2025

Pensadores Africanos Contemporâneos (2)


Grandes perigos nos espreitam. Recordamos o tempo de guerras passadas, de ambição por territórios que dantes a outros pertenciam. Para não irmos muito longe, lembremos, por exemplo, as invasões napoleónicas, a partilha de África, a primeira  e a segunda guerras mundiais, situações que trouxeram para os vencedores direitos sobre outros povos e terras. Os ciclos repetem-se, tudo tem vindo a acontecer de novo...

Neste princípio de ano, trago mais um excerto sobre Pensadores Africanos Contemporâneos, com uma introdução idêntica à do post anterior, por ser retirado do mesmo site.

Estes Pensadores saídos da escravização, do colonialismo, da supressão da sua cultura, dos seus costumes, sujeitos a uma aculturação e formatação mentais de séculos, procuram proceder a um sincretismo, fundindo ideias e recuperando alguma da sua forma de vida.


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A filosofia e cultura africanas recebem menos atenção do que merecem, mas têm grande influência no pensamento ocidental. Ao longo da história, pensadores de diferentes regiões de África contribuíram de maneira decisiva para a filosofia grega, principalmente por meio do egípcio Plotino, um dos maiores responsáveis por perpetuar a tradição académica de Platão. Na filosofia cristã, o argelino Augustine de Hippo (St. Agostinho) estabeleceu a noção do pecado original.

Segundo o nigeriano K.C. Anyanwu, a filosofia africana é “aquela que se preocupa com a forma como o povo africano do passado e do presente compreende o seu próprio destino e o do mundo no qual vive”. Conheça alguns dos principais pensadores da modernidade:


1)Léopold Sédar Senghor 
    -Senegal-

Nascido em 1906, Senghor estudou na Sorbonne, de Paris, e foi a primeira pessoa do continente a completar uma licenciatura na universidade parisiense. Foi um dos responsáveis por desenvolver o conceito de negritude e um movimento literário que exaltava a identidade negra, lamentando o impacto que a cultura europeia teve nas tradições do continente. 

Em 1960, o Senegal foi proclamado independente muito graças ao apelo que Senghor dirigiu ao então presidente francês, Charles de Gaulle. Ele foi então eleito presidente da nova república, cargo que ocupou até 1980. Senghor morreu em 20 de dezembro de 2001, aos 95 anos, na França.




2) Henry Odera Oruka 
     -Quénia-

Oruka viveu entre 1944 e 1995 no Quénia e foi o principal responsável por distinguir a filosofia africana em quatro grupos principais. A etnofilosofia, a abordagem que trata a filosofia africana como um conjunto de crenças, valores e pressupostos implícitos na linguagem, práticas e crenças da cultura africana.

sagacidade filosófica, espécie de visão individualista da etnofilosofia, consiste no registro das crenças dos sábios das comunidades africanas. A filosofia ideológica nacionalista, uma forma de filosofia política. E a filosofia profissional, que seria uma forma mais europeia de pensar, refletir e raciocinar. Ele era do grupo que defendia a sagacidade filosófica, e nos anos 1970 iniciou um projeto para preservar o conhecimento dos sábios de comunidades africanas tradicionais.




3) Cheikh Anta Diop
     -Senegal-

O antropólogo e historiador senegalês que estudou as origens dos humanos e a cultura da África pré-colonial é tido como um dos maiores pensadores africanos do século 20. Foi um dos responsáveis por contestar a ideia de que a cultura africana é baseada mais na emoção do que na lógica, mostrando que o Antigo Egito estava inserido na cultura africana e deu grandes contribuições para a ciência, arquitetura e filosofia. Ele viveu entre 1923 e 1986.



4) Ebiegberi Alagoa 
     -Nigéria-

Entre as teorias do professor da Universidade de Port Harcourt, nascido em 1933, é a de que existe toda uma filosofia baseada em provérbios tradicionais do Delta do Níger. O provérbio “o que um velho vê sentado, o jovem não vê em pé”, por exemplo, serviria para mostrar como na filosofia e cultura africana a idade é um fator crucial para a sabedoria.




5) Wole Soyinka 
     -Nigéria-

Vencedor do Nobel de Literatura de 1986, foi considerado um dos dramaturgos contemporâneos mais refinados, com textos classificados como cheios de vida e sentido de urgência. Suas obras costumam retratar a Nigéria contemporânea. Soyinka nasceu em 1934 em uma tradicional cidade iorubá, uma das maiores etnias do país.

Embora a sua família se tenha se convertido ao cristianismo, ele manteve-se fiel à visão de mundo iorubá. Soyinka é um forte crítico de governos autoritários, que incluíram o regime de Robert Mugabe no Zimbábue e, mais recentemente, e eleição de Donald Trump nos Estados Unidos (ele possuía um visto permanente norte-americano, mas rejeitou-o após a eleição de Trump e voltou para a Nigéria). Ele chegou a ser preso em 1967 durante a guerra civil nigeriana e ficou em confinamento solitário por dois anos.


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Fonte:


sexta-feira, 10 de janeiro de 2025

Onde começa o tempo?

"Quando um único ideal unir o mundo,
Quando duas almas se aproximam
E se confundem num amor profundo."
...




Na lágrima que o teu olhar inunda
No traço que ela cava no rosto
E na solidão que te circunda...
Nos dias lindos, pelo sol-posto.

Quando um único ideal unir o mundo,
Quando duas almas se aproximam
E se confundem num amor profundo.

Começa em dois olhares que se cruzam,
Começa na luta e aguarela da vida...
E na voz daqueles que ainda cantam
Uma velha poesia, louca e esquecida!

Começa num puro sonho de grandeza
E na derrota que te trouxe a sorte...
Numa lágrima doce e na tua tristeza.

O tempo começa na dor e na morte
E em quem tiver a voz que te conforte.
Começa num poema e numa oração
O tempo começa no teu coração...

Na antiga floresta e na escuridão,
Na mais bela canção e na promessa
De um dia pleno de paz e mansidão.

Croqui da vida onde o tempo começa.
O lago isolado e a flor de um jardim,,,
Ah!Onde vai a desolação e a pressa
Se o tempo, afinal, começa assim!

in: Sul Sereno
pg. 54



Jimmy Fontana
Il Mondo




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Imagem: pixabay

quarta-feira, 8 de janeiro de 2025

Rapsódia de Mornas


Hoje o dia está cinzento, molhado, chorando saudades. E resolvi seguir essa via e, para me ajudar, o choradinho do HUMBERTONA vem mesmo a calhar. Ele leva-nos por ruas, recantos e vários espaços a que não faltam rochas, areia e acima de tudo mar e céu. 



 Neste embalo, um poema de Eugénio de Andrade, um "Até amanhã", sinal de que a despedida não é definitiva: 

Até amanhã

Sei agora como nasceu a alegria,
como nasce o vento entre barcos de papel,
como nasce a água ou o amor
quando a juventude não é uma lágrima.

É primeiro só um rumor de espuma
à roda do corpo que desperta,
sílaba espessa, beijo acumulado,
amanhecer de pássaros no sangue.

É subitamente um grito,
um grito apertado nos dentes,
galope de cavalos num horizonte
onde o mar é diurno e sem palavras.

Falei de tudo quanto amei.
De coisas que te dou
para que tu as ames comigo:
a juventude, o vento e as areias.






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Boa quarta-feira, meu amigos.
Abraços
Olinda


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Poema: daqui
Video, aqui, no Xaile de Seda

domingo, 5 de janeiro de 2025

Eça de Queirós vai mesmo para o Panteão

 Depois da polémica sobre onde depositar os restos mortais do grande Eça de Queirós, o destino dos mesmos será o Panteão Nacional. Fica por saber se realmente ele o teria desejado ou não.

Neste fim-de-semana decorre uma homenagem na Casa de Tormes, lugar onde escreveu "A Cidade e as Serras", que consta das minhas leituras entre outros livros da sua obra.

Sobre a "A Cidade e as Serras" lê-se (excerto):






(...)
É uma obra das mais significativas de Eça de Queiroz. Nela o escritor relata a travessia de Jacinto de Tormes, um ferrenho adepto do progresso e da civilização - da cidade para as serras. Ele troca o mundo civilizado, repleto de comodidades provenientes do progresso tecnológico, pelo mundo natural, selvagem, primitivo e pouco confortável, no sentido dos bens que caracterizam a vida urbana moderna, mas onde encontra a felicidade, mudando radicalmente de opinião.

Por meio do personagem central, Jacinto de Tormes, que representa a elite portuguesa, a obra critica-lhe o estilo de vida afrancesado e desprovido de autenticidade, que enaltece o progresso urbano e industrial e se desenraíza do solo e da cultura do país.
(...)

No próximo dia 8 será a cerimónia da trasladação para o referido Panteão Nacional, cerimónia essa a cargo da Assembleia da República, como é referido neste artigo.



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imagem: net

Veja aqui, no Xaile de Seda, os vários funerais de Eça de Queirós, informação trazida de Tempo Contado

sexta-feira, 3 de janeiro de 2025

Contraste








A minha alma trema em tuas mãos
debruçada na varanda desta tarde

Silêncio da cor em teus contornos
o adeus do mar dentro de mim

Para além do ilhéu dos pássaros da ilha
o sol morre aos poucos devagar

A minha alma treme em tuas mãos
debruçada na varanda desta tarde

Vejo os barcos ao longe na baía
as lanchas negras dos trabalhadores
a torre da capitania ao lusco-fusco

Lentamente uma a uma na cidade
vão acendendo as luzes da cidade

Na fábrica de bolacha do Matos
na padaria do Jonas depois

Só no cemitério ao lado é tudo escuro...

Branqueiam ainda as campas dos mortos
e os nomes vou ler à hora do sol
mas agora fazem medo à minha infância

Em casa dos meus vizinhos perto
nh´ugénia de Sena e nhã Nê Grande
acenderam os candeeiros de petróleo

(Cambambe, 1969)




Yolanda Morazzo (São Vicente16 de dezembro de 1927 - Lisboa27 de janeiro de 2009) foi uma escritora e poetisa Caboverdiana de língua portuguesa. 
Ver mais aqui






MAR AZUL
Cesária Évora e Marisa Monte


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Imagem:pixabay
Poema: daqui