domingo, 21 de dezembro de 2025

A Festa do Silêncio






Escuto na palavra a festa do silêncio.
Tudo está no seu sítio. As aparências apagaram-se.
As coisas vacilam tão próximas de si mesmas.
Concentram-se, dilatam-se as ondas silenciosas.
É o vazio ou o cimo? É um pomar de espuma.

Uma criança brinca nas dunas, o tempo acaricia,
o ar prolonga. A brancura é o caminho.
Surpresa e não surpresa: a simples respiração.
Relações, variações, nada mais. Nada se cria.
Vamos e vimos. Algo inunda, incendeia, recomeça.

Nada é inacessível no silêncio ou no poema.
É aqui a abóbada transparente, o vento principia.
No centro do dia há uma fonte de água clara.
Se digo árvore a árvore em mim respira.
Vivo na delícia nua da inocência aberta.

António Ramos Rosa,
in "Volante Verde"




António Vítor Ramos Rosa, (1924-2013) foi um poeta, tradutor e 
desenhista português.
...trabalhador das palavras a tempo inteiro. Límpidas, meticulosas, depuradas, "com uma certa força nua", dizia. António Ramos Rosa encontrou na poesia a sua matéria vital, espaço de resistência e sobrevivência que o definia e fixava a um tempo de encantamento e contemplação. Refletir sobre a essência, regressar à natureza e aos elementos mais simples - o ar, a terra, a luz e a água -, fazer do poema uma viagem cósmica, é a marca poética que nos deixou.


***


Notas sobre o Natal, que não tarda.

A primeira celebração do Natal! Sabemos que a origem do primeiro presépio se deve a São Francisco de Assis, em 1223, na pequena aldeia de Greccio, na Itália, com o intuito de que as pessoas pudessem visualizar e compreender o milagre do nascimento de Jesus. Para isso, arranjou uma manjedoura com palha, um boi e um burro, numa cena que mostrava a simplicidade e a humildade do acontecimento.


Em Greccio

Mas a celebração do Natal já vem dos tempos dos primeiros cristãos. Em 25 de Dezembro de 336, aconteceu a primeira celebração do Natal. Os cristãos já celebravam o Natal abertamente desde 313 possibilitada pelo Édito de Milão. O Papa Júlio I (pontificado de 337 a 352) viria a formalizar a data de 25 de Dezembro como sendo a data do nascimento de Jesus, tendo em conta que a data do seu nascimento é desconhecida. 

Inicialmente restrito aos cristãos de Roma, com a oficialização do Cristianismo. Em 529 o imperador Justiniano, do Império Romano do Oriente, declarou a data feriado oficial do império. (Lembremo-nos que o Imperador Constantino converteu-se ao cristianismo em 312 d.C.).

A hipótese que subjaz à adopção do dia 25 de Dezembro como data do nascimento de Jesus apoiara-se em duas razões:

A intenção de substituir o culto do Sol Invictus e as festas da Saturnália por uma festa cristã. Essa cristianização de uma festa pagã, algumas vezes entendida como uma apropriação ilegítima por parte da Igreja Cristã, teria ocorrido no bojo de outras assimilações como os termos e conceitos de “templo”, “basílica”, “pontífice”, “auréola” etc.

Por seu valor metafórico e bíblico que permite reconhecer Jesus como o Messias das Profecias e associá-lo à ideia de "luz do mundo".



Visita ao Sagrado:
Local do nascimento de Jesus


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Juntemo-nos ao silêncio através da palavra, que António Ramos Rosa nos propõe.

Abraços, amigos.

Olinda


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Ver António Ramos Rosa aqui, no Xaile de Seda.
Fonte sobre a primeira celebração do Natal: aqui 

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