Até onde couber
tudo o que é dor maior,
por dentro da harmonia jacente,
aguda, fria, atroz,
de cada dia.
Não importam feições,
curvas de seios e ancas,
pés erectos à luz
e brancas, brancas, brancas,
as mãos.
Importa a liberdade
de não ceder à vida,
um segundo sequer.
Ser de pedra por fora
e só por dentro ser.
- Falavas? Não ouvi.
- Beijavas? Não senti.
Morreram? Ah! Morri, morri, morri!
Livre, liberta em pedra,
voltada para a luz
e para o mar azul
e para o mar revolto...
E fugir pela noite,
sem corpo, nem dinheiro,
para ler os meus santos
e os meus aventureiros,
(para ser dos meus santos,
dos meus aventureiros),
filósofos e nautas,
de tantos nevoeiros.
Entre o peso das salas,
da música concreta,
de espantalhos de deuses,
que fará o Poeta?
Natércia Freire,*
tudo o que é dor maior,
por dentro da harmonia jacente,
aguda, fria, atroz,
de cada dia.
Não importam feições,
curvas de seios e ancas,
pés erectos à luz
e brancas, brancas, brancas,
as mãos.
Importa a liberdade
de não ceder à vida,
um segundo sequer.
Ser de pedra por fora
e só por dentro ser.
- Falavas? Não ouvi.
- Beijavas? Não senti.
Morreram? Ah! Morri, morri, morri!
Livre, liberta em pedra,
voltada para a luz
e para o mar azul
e para o mar revolto...
E fugir pela noite,
sem corpo, nem dinheiro,
para ler os meus santos
e os meus aventureiros,
(para ser dos meus santos,
dos meus aventureiros),
filósofos e nautas,
de tantos nevoeiros.
Entre o peso das salas,
da música concreta,
de espantalhos de deuses,
que fará o Poeta?
Natércia Freire,*
in 'Liberta em Pedra'
Livre, liberta em pedra, voltada para a luz e para o mar azul
e para o mar revolto...
O facho da liberdade que cada um traz em si, latente, em especial a mulher que, muito muito tarde, encontra o seu lugar na escrita do mundo dos homens.
Considerada como ser imperfeito, a mulher, sem outro préstimo que não fosse enfeitar a realidade desse mesmo mundo, foi a par e passo desabrochando, mercê de luta incessante ao longo dos tempos e compreendendo que o seu
destino era outro.
***
===
*Vale a pena ler a Biografia, mais completa, da autora, aqui, escrita por altura do
Centenário do seu nascimento.
Citador - poema
Imagem - net
Uma escritora esquecida. Morreu no mesmo dia do mesmo mês em que eu nasci.
ResponderEliminarInteressantes publicações aqui.
Boa Noite.
Um abraço.
Es un bello y melancólico poema. Te mando un beso.
ResponderEliminarUma bela apresentação de uma escritora que soube entender o seu tempo com todas as angustias e desencantos, mas que se apresenta como uma lutadora contra um machismo arraigado na sociedade. Que se vestiu de preto junto às mulheres ao pé da forca. Uma mulher escritora nos seus gritos pela liberdade da mulher num tempo em que praticamente pregava aos quatro ventos, mas que plantava a semente para um futuro.
ResponderEliminarMuito boa sua postagem com esta bela escritora Olinda, que lendo a biografia e analises pode-se entender o que passou na infância, vida e morte.
Grato por trazer a conhecer.
Eu também do outro lado do oceano onde a mulheres são assassinadas e ainda subjugadas confesso que I have a old dream.
Um bom domingo de feliz semana amiga.
Abraços com carinho.
Bom.domingo de Paz, querida amiga Olinda!
ResponderEliminar" Morri, morri, morri!"
Mulher não morre uma vez só...
Morre muitas vezes, cada vez que lhe atormentam à alma.
"Ser de pedra por fora"
Até que um.dia, ela se petrifica por inteiro para se salvar. É questão de vida ou morte.
Mas e os sonhos?
Continuam a existir, petrificados em seu coração que se conserva fresco e vivo, mas numa redoma bem forte para se salvaguardar do mal reinante na sociedade cruel machista onde o homem tudo pode e tem perdão.
"Voltada para a luz
e para o mar azul"...
Viverá salvaguardada eternamente.
E será, simplesmente, poeta de sua própria dor petrificada.
Sua escolha da vez é emocionante.
Tenha uma nova semana abençoada!
Beijinhos com carinho fraterno
Linda poesia e bom saber mais dessa escritora! Linda imagem!
ResponderEliminarGostei muito! beijos, ótimo domingo! chica
Olá, amiga Olinda,
ResponderEliminarBelíssimo poema aqui partilha.
Nada mais importante na essência do ser humano, do que ser livre.
Gostei bastante deste belo poema.
Muito obrigado, pela visita e gentil comentário.
Deixo os meus votos de uma feliz semana, com tudo de bom.
Beijinhos.
Mário Margaride
http://poesiaaquiesta.blogspot.com
https://soltaastuaspalavras.blogspot.com
Uma grande poeta um pouco esquecida.
ResponderEliminarAinda bem que a trouxe aqui, o poema que escolheu é um hino à liberdade e à mulher.
Um abraço e uma ótima semana.
Há muito tempo que não leio Natércia Freire e gostei tanto de a encontrar aqui com este poema tão reflexivo e inspirador. Obrigada, minha Amiga Olinda.
ResponderEliminarTudo de bom.
Uma boa semana.
Um beijo.
Estou conhecendo Natércia Freire, maravilhosa, querida Olinda!
ResponderEliminare essa música, l HAVE A DREAM, é belíssima ! Escuto muito de madrugada, nas minhas insônias...
Um show de postagem, amiga, estou cá de aplaudindo...
Uma feliz semana, paz e alegria!! Temos de colorir mais nossas vidas.
Um beijinho, amiga!
Eu ia escrever umas coisas, mas já está tarde. Vou dormir. Um beijo.
ResponderEliminarUn bello homenaje a esta gran poeta, has seleccionado un poema que invita a la reflexión.
ResponderEliminarHa sido un placer pasar hoy por aquí.
Cariños y buena semana.
Kasioles
Que maravilhosa partilha que mulher que varou seu tempo e nos deixa tão importantes legados. Gostei de ler sobre ela e sua garra. Através das suas postagem vou admirando mais e mais as escritoras portuguesas.
ResponderEliminarFui ouvindo a bela música e lendo Grata. bjsss
Gostei de aprender sobre Natércia Freire, querida Olinda.
ResponderEliminarObrigada por compartilhar.
Te desejo uma abençoada semana
Beijinhos
Verena
Linda esta postagem também, Olinda. A pedra me remete sempre à rocha, força, firmeza...
ResponderEliminarBjs e carinho...