Mês de Poesia - Iniciativa da Rosélia
Blogue - Escritos d'Alma
Participação 1
Convite para publicação de
Um poema ou prosa poética,(enfim, um texto) por semana, em
comemoração do dia Mundial da Poesia,
21/03
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E a chuva que não vinha. Todos os anos era aquele sufoco. Ele espreitava todos os sinais, sopesava-os e ia dizendo de sua justiça. À noite espreitava o céu. Huuumm... a lua com aquele halo amarelo não augurava nada de bom, mas a Estrada de Santiago prometia, leitosa, poderia ser um bom presságio. De dia via as nuvens formarem-se prenhes de água, ai, mas os pássaros todos em revoada, prenúncio de vento que as levaria para longe. E assim era. Todas a despejarem-se no mar. Aquela leitura já a sabíamos de cor e, realmente, não falhava. Até nós olhávamos para a abóbada celeste com as mesmas perguntas.
Chegava o dia em que a chuva, depois de várias negaças, lá resolvia visitar-nos. Não importava se era pouca ou muita, era sempre uma festa. Lavava a alma. Para já, o importante era que desse para as sementeiras. Tudo preparado naquela espera, toca de correr para os campos. E o milho medrava naquele chão de pousio durante tanto tempo, feliz por poder mostrar do que era capaz ...
Agora o leitor das estrelas voltava a sua atenção para as plantinhas que, quase a medo, iam despontando. Ou o medo estaria no seu coração? Auscultava-lhes a cor, a resistência, o futuro. Se resistissem até à monda e a chuva voltasse em tempo devido tínhamos colheita garantida. E recomeçava o perscrutar dos céus, o comportamento da lua, das constelações, do voo dos pássaros, do sol, quente e devastador.
Até que um dia, um belo dia, num ano qualquer, dava-se o milagre e completava-se o ciclo. Sementeira, monda, colheita, passando pelo ansiado dia de Santo André em que íamos comer milho verde assado, não sei se havia dispensa da escola ou como é que era, mas o certo é que isso faz parte das minhas memórias. Na colheita, os homens e mulheres chamados para o efeito começavam logo de manhã e, pelo caminho, iam deixando algumas espigas para nós recolhermos.
E ajudávamos a descascar o precioso cereal à procura de uma espiga vermelha. E ouvíamos as histórias que eles contavam. E espreitávamos com afinco os bolos de milho, a mandioca, a batata doce que punham a assar na cinza quente...
O leitor das estrelas.
O meu Pai.
A sabedoria da natureza é tal que não produz nada de supérfluo ou inútil.(Nicolau Copérnico)
ResponderEliminarQuerida amiga Olinda, bom dia de paz!
Tem mesmo que descansar um pouco, merece muito.
Não descansou um dia sequer... depois de uma prolongada maratona do Amor que foi um sucesso e os amigos fizeram sua festa de forma brilhante.
Sua preciosa participação em nosso Mês do Dia da Poesia ficou excelente.
Não esperava menos, claro!
O pastoril bem presente em sua prosa poética, a chuva, a noite, o céu, nuvens, água, pássaros, vento, elementos da natureza em abundância percorrendo toda a bonita prosa...
O Carpem Diem é o segredo da vida simples e feliz que os do campo nos ensinam largamente.
Viver do que se planta e colhe é de uma sabedoria ímpar.
Assar de modo rústico dá um outro sabor aos alimentos, haja visto o resgate em muitos lugares de algo artesanal para se fazer memória dos tempos idos das aldeias onde se primava pela simplicidade e paz interior mesmo com muito trabalho.
Amei tudo por aqui, a roda de conversa ao redor do preparo dos pratos era de encantar, pela sua poética descrição.
Vivo um pouco assim quando vou para a roça do padrinho e familiares nossos.
O presente vale a pena de ser vivido com toda intensidade como você e sua família viveram.
Obrigada, minha amiga, pela sua contribuição à nossa iniciativa.
Beijinhos com carinho de gratidão e estima
P.S. Descanse bem, amiga!
Olinda,que beleza de participação! Descrevesse muiti bem a vida simples de campo , a espera da chuva ,ouvir histórias.. Adorei! Beijos praianos e tudo de bom! CHICA
ResponderEliminarParticipação fascinante. O meu mais profundo elogio.
ResponderEliminarUm dia feliz
Que bonita homenagem ao leitor das estrelas que foi o seu pai.
ResponderEliminarO seu texto, tão belo, também me fez voltar à minha infância, em que me lembro desse ritual das espigas até encontrar o milho-rei... Gostei tanto desta sua participação, minha Amiga Olinda.
Tudo de bom para si.
Uma boa semana.
Um beijo.
Publicação e inspiração deslumbrante!!
ResponderEliminar.
Dos desígnios mais longínquos ...
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Beijo, e uma excelente semana.
Me encanto y me dejaste sin palabras. Te mando un beso.
ResponderEliminarUma participação sublime, numa maravilhosa homenagem ao leitor das estrelas, o seu pai.
ResponderEliminarBeijinhos
Belíssima participação, querida Olinda!
ResponderEliminarE uma homenagem ao «leitor das estrelas", emocionante e brilhante.
Hoje li e aprendi.
Beijo, boa semana.
Lindo este teu texto, querida Olinda! Lembro bem desses dias de grande alegria na minha aldeia, dias de desfolhada, onde os vizinhos se juntavam em alegres cantorias, ajudando-se uns aos outros. Na minha casa, só havia um pequeno quintal onde a minha mãe tinha de tudo para que assim, nesses tempos dificeis, nada faltasse em casa. Havia os vizinhos, grandes lavradores que agradeciam todas as mãos, até mesmo as das criancas e, claro, eu não faltava. Há muito que na minha aldeia, deixou de se fazer as desfolhadas; o milho é utilizado só para a alimentação do gado; fazem a chamada silagem, onde ele é cortado, prensado e depois armazenado até se decompor; assim, os lavradores têm alimentação garantida para o gado durante todo o inverno. Às vezes me pergunto, onde vão buscar o milho em grão tão necessário por exemplo para alimentar as aves de capoeira? Não sei..., mas sei, com alguma inquietação, que lhes é dada muita ração nem sempre boa para a nossa saúde . Se calhar, vem tudo da Ucrânia, não? Ou então de outras regiões do nosso Portugal, porque no Norte, não vejo 9 milho de espiga. Que lindo, Amiga, teres homenageado o teu Pai, como sendo um" leitor de estrelas " e na verdade era isso mesmo; lia-as e interpretava muito bem os sinais que elas lhe davam. Muito bonito, Amiga e obrigada por me levares aos meus tempos de infância, onde, também eu apanhei muitas espigas deixadas para trás pelos adultos para que nós também tivessemos o prazer de colaborar na colheita Beijinhos, querida Amiga e que os teus dias decorram com alegria e saúde para todos
ResponderEliminarEmilia
Olá querida amiga Olinda
ResponderEliminarEu amo chuva por isso amei seu conto.
Quando chove fico tão feliz
Faz tão bem a nós e a natureza mais ainda, fica em festa..
Abraços e boa semana!
Tão bem debulhadas estas memórias, tão bem descrito o conhecimento acumulado pelo "leitor" das estrelas e repassado aos filhos, tão belo o texto que dá conta deste passado tão próximo e homenageia seu pai. Um lirismo que escorre dos seus dedos e se espalha como sementes...
ResponderEliminarUm abraço, minha querida amiga!
José Carlos
A poesia merece todas as homenagens.
ResponderEliminarAbraço poético.
Juvenal Nunes
A tua participação está uma verdadeira delícia, querida Olinda.
ResponderEliminarPara além de descreveres na perfeição a atitude do teu Pai perante "os astros" - o meu Pai fazia a mesma coisa - o ciclo das sementeiras, e, no final a "desfolhada" onde acontecia o milho-rei, provavelmente com os seus rituais próprios, a que também assisti em criança, prestas, assim, uma linda homenagem ao senhor teu Pai, o leitor das estrelas.
Estás de parabéns, minha querida.
Um abracinho cheio de Amizade.
Continuação de boa semana.
Beijinhos
MARIAZITA / A CASA DA MARIQUINHAS
Boa noite Olinda,
ResponderEliminarTão bela a sua prosa poética que descreve na perfeição como a chuva era desejada, para que as sementeiras frutificassem!
Fez-me regressar à infância aquando da apanha do milho e das descamisadas.
Bela homenagem a seu pai numa
sublime participação.
Beijinhos e bom descanso.
Ailime
Belas lembranças Olinda, que me leva a uma viagem. Eu menino do mato, que vivi muito destas sabedorias de roça, dos velhos catadores, de café, dos plantadores de milho na chuva de São José em março, para colher na festa de São João. Lembro meu pai, que dizia dos bois no morro, indicava chuva, e outra olhava pelas folhas da laranjeira, que viradas indicavam chuvas. Gostei de viajar contigo Olinda nestas belas lembranças.
ResponderEliminarAbraço carinhoso e feliz fim de semana amiga.
Gostei desta iniciativa da Rosélia para acordar a poesia.
Uma participação super especial!!! Magnifica homenagem a um leitor de estrelas... que continuará sempre a iluminar a sua vida, Olinda, onde quer que ele esteja, no meio delas, quero crer, por sempre as compreender tão bem...
ResponderEliminarAdorei cada palavra, deste texto bem tocante!
Um beijinho
Ana