Vamos ser velhos ao sol nos degraus
da casa; abrir a porta empenada de
tantos invernos e ver o frio soçobrar
no carvão das ruas; espreitar a horta
que o vizinho anda a tricotar e o vento
lhe desmancha de pirraça; deixar a
chaleira negra em redor do fogão para
um chá que nunca sabemos quando
será – porque a vida dos velhos é curta,
mas imensa; dizer as mesmas coisas
muitas vezes – por sermos velhos e por
serem verdade. Eu não quero ser velha
sozinha, mesmo ao sol, nem quero que
sejas velho com mais ninguém. Vamos
da casa; abrir a porta empenada de
tantos invernos e ver o frio soçobrar
no carvão das ruas; espreitar a horta
que o vizinho anda a tricotar e o vento
lhe desmancha de pirraça; deixar a
chaleira negra em redor do fogão para
um chá que nunca sabemos quando
será – porque a vida dos velhos é curta,
mas imensa; dizer as mesmas coisas
muitas vezes – por sermos velhos e por
serem verdade. Eu não quero ser velha
sozinha, mesmo ao sol, nem quero que
sejas velho com mais ninguém. Vamos
ser velhos juntos nos degraus da casa –
se a chaleira apitar, sossega, vou lá eu; não
atravesses a rua por uma sombra amiga,
trago-te o chá e um chapéu quando voltar.
Maria do Rosário Pedreira
se a chaleira apitar, sossega, vou lá eu; não
atravesses a rua por uma sombra amiga,
trago-te o chá e um chapéu quando voltar.
Maria do Rosário Pedreira
Poema delicioso, este, também de amor. O aconchego requerido e achado, quando a vida já não estará para grandes correrias. Quando já se fez tudo o que a chamada vida activa exige, descansar nesses vagares que só o amor e o companheirismo e uma certa cumplicidade nos concedem. E que ao fim e ao cabo desejamos.
Maria do Rosário Pedreira (Lisboa, 1959) tem a sua obra poética coligida em Poesia Reunida, que a Quetzal publicou em 2012 (nomeadamente A Casa e o Cheiro dos Livros, 1996; O Canto do Vento nos Ciprestes, 2001; Nenhum Nome Depois, 2014). Além de poeta, romancista (a de Alguns Homens, Duas Mulheres e Eu), autora de literatura juvenil e um dos nomes mais importantes da escrita de fado – Maria do Rosário Pedreira é também uma referência de grande qualidade para a edição portuguesa contemporânea, sendo editora na Leya. Mantém o blogue As Horas Extraordinárias. aqui
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Poema: daqui
Imagem: net
Gosto da poesia de Maria do Rosário Pedreira e nunca é demais referir o seu trabalho como editora.
ResponderEliminarMuito boa tarde!
Olá, querida amiga Olinda!
ResponderEliminarNossa, que escolha mais linda!
Uma imagem en-can-ta-do-ra... Quanta sensibilidade a sua!
Estou muito emocionada com a leitura da vez:
Vamos
ser velhos juntos?!
Fiquei com a voz embargada e me somem as palavras.
Pura delicadeza de alma e emoção em cada verso do poema cheio de delicadezas como nos convém
Vou ver o blog com grande interesse
Você pôs aqui uma dose de incentivo extraordinária. Muito obrigada, amiga.
Tenha dias abençoados, com saúde, paz e Amor!
Beijinhos com carinho de gratidão e estima
😘🕊️💙
Muito linda e doce poesia. Ternura pura!Adorei! Lindo dia! beijos, chica
ResponderEliminarExcelente poema/partilha. Muito obrigada
ResponderEliminar--
Em passos largos e pensamentos ousados (desafio)
Beijos. Boa tarde
Uma partilha simplesmente fantástica!
ResponderEliminar--
Em passos largos e pensamentos ousados (desafio)
Beijos. Boa tarde
Que poema terno e aconhecante. Admirando as obras desta poeta. Grata pela partilha. bjs
ResponderEliminarQue maravilha Olinda!
ResponderEliminarLindo este olhar, este aconchego.
Que descrição maravilhosa que fui recriando o ambiente, sentei no primeiro degrau da escada e fiquei a namorar o jardim e a horta do vizinho. O tempo foi passando e quando dei por mim, recebia o chã fumengante numa linda xicara portuguesa.
Que bela postagem amiga.
Grato pelo link Wikipédia que me fez conhecer esta sensível artista das palavras.
Meu abraço com carinho.
Como sabe usar bem as palavras, a Maria do Rosário Pedreira! Seja sobre que tema for, a inspiração da Poeta é sempre singular, como se pode observar neste magnífico poema de amor. "Vamos ser velhos juntos nos degraus da casa"... Mais que legítimo este desejo.
ResponderEliminarMuita saúde, minha Amiga Olinda.
Um beijo.
Poema deslumbrante de ler
ResponderEliminar.
Cumprimentos cordiais
.
Pensamentos e Devaneios Poéticos
.
Comentei ontem e não está cá.
ResponderEliminarGosto da poesia de Maria do Rosário Pedreira que só conheço de alguns blogues.
Eu comecei a envelhecer sozinha faz hoje precisamente três anos.
Abraço
Olá, Rosa dos Ventos
EliminarDeve ter havido algum problema na submissão do seu
comentário pois não entrou.
Obrigada por ter voltado e pelo seu testemunho que
adivinho doloroso.
Beijos
Olinda
poema eternecedr, de que gostei muito.
ResponderEliminartalvz por sentir por perto "abrir a porta empenada de
tantos invernos e ver o frio soçobrar!..."
grato. beijo, Amiga
Um belo poema com um toque de humor agradável, fala-nos
ResponderEliminarde um amor sadio e da simplicidade da terceira idade...
Ótimas escolhas.
Dias bons, Olinda. Beijinhos
~~~~~~
Que bonita escolha a postagem desse belo poema!
ResponderEliminarTodo poema nos transmite paz e calmarias.
Me lembrei da letra da música de Almir Sater que diz uns versos assim:
"Ando devagar porque já tive pressa
E levo esse sorriso
Porque já chorei demais
Hoje me sinto mais forte
Mais feliz, quem sabe
Só levo a certeza
De que muito pouco sei
Ou nada sei
.....................
Penso que cumprir a vida
Seja simplesmente
Compreender a marcha
E ir tocando em frente......"
Obrigada Olinda por partilhar tão doce poetisa!
Beijinhos1
Boa tarde Olinda,
ResponderEliminarUma autora que gostei imenso de conhecer.
O poema apresentado é muito belo e retrata bem o amor no outono da vida.
Música linda e em sintonia.
Muito obrigada pela partilha.
Um beijinho e bom fim de semana.
Ailime
Gostei do poema e da canção, minha querida Olinda.
ResponderEliminarQuando a companhia é agradável será bom viver com alguém, caso contrário antes só do que em má companhia.
Caloroso abraço e excelente final de semana, minha amiga :)
Olá Olinda!
ResponderEliminarBelíssimo poema, adorei conhecer seu blog.
Desejo-lhe uma semana iluminada
Abraços Loiva
Muito sensível, belo poema que nos dá uma diretriz, envelhecermos juntos é menos penoso, a cumplicidade dá leveza, querida amiga.
ResponderEliminarGostei muito do poema, Olinda, não conhecia a poeta. Obrigada por me apresentar.
Um beijinho e um bom fim de semana,
saúde e paz!
Tenho de repetir as suas próprias palavras, é um “poema delicioso” porque em muitos momentos, mesmo quando a vida não está já para grandes correrias, ainda pode (normalmente) e deve ser vivida e na perfeição com uma alma gémea.
ResponderEliminarA título de curiosidade, não por opção própria (sorrisos) mas cresci a ouvir Michel Sardou, um grande senhor.
Abraço e um excelente fim de semana
Boa noite querida Olinda.
ResponderEliminarQue maravilhosa publicação, desde a escolha da música à imagem, que me fez sonhar e visualizar todo o poema, como num filme. Aconchegou-me e emocionou-me!
Era assim que eu queria envelhecer, mas a vida minha querida, dá tantas voltas!
Obrigada pelo seu carinho e amizade de sempre.
Desculpe-me por não estar presente tanto quanto gostaria.
Um enorme beijinho com carinho <3
Fê blue bird
"Vamos
ResponderEliminarser velhos juntos nos degraus da casa"
Gosto muito da Maria do Rosário .
Excelente partilha.
Uma bela música que fica aqui muito bem.
brisas doces*
Envelhecer e dourar a ligação, parece ser o caminho que este delicioso Poema sugere. Quem me dera não perder este Espírito de Vida...
ResponderEliminarMagnífico Poema da Maria do Rosário Pedreira.
Beijo
SOL da Esteva
Que poema tão terno e tão belo. Não conhecia a poetisa.
ResponderEliminarQue bom envelhecer ao lado de quem amamos e nos ama.
Beijinhos