domingo, 25 de abril de 2021

História Colonial - Um passo em frente?

Hoje avançámos um pouco num caminho que temos receado encetar. Pela primeira vez, penso, falou-se sobre a História Colonial, ainda por fazer verdadeiramente, no espaço considerado como sendo da democracia, a Assembleia da República, no dia da Comemoração da Revolução de 25 de Abril de 1974. E mais. Pelo Presidente da República, órgão máximo que a todos representa.

O início da guerra nas ex-colónias fez a 15 de Março sessenta anos, com a primeira incidência em Angola. Sabemos das perdas em vidas, tanto dum lado como do outro. Do sofrimento causado a quem foi obrigado a tomar parte nela, bem como às suas famílias. 

Do que causou a guerra, do ultramar, colonial ou de libertação, nem todos sabem muito bem. Os motivos continuam a habitar um limbo de incertezas e pouca vontade de conhecer. Ignorância e incompreensão assumidas, em muitos casos.

Muito pouco tem sido publicado sobre o assunto. Espaços de discussão também raros. Abriu-se agora uma brecha. Aproveitemo-la para estudar, analisar, pondo nisso um interesse, diria, científico. A História, incluída na categoria das Ciências Sociais e Humanas, tem ferramentas que nos ajudam a comparar e a fazer análises críticas.

Para além disso, é fundamental que a sociedade fale do assunto, que se escreva sobre a temática, que se aproveitem testemunhos de pessoas ainda vivas. Sei que tem havido alguma iniciativa nesse sentido, mas nada que leve as pessoas a interessarem-se positivamente e de forma consistente.

As injustiças, a escravatura, a ocupação de terras, a aculturação imposta, a legislação humilhante para melhor implantação do invasor, tudo isto e muito mais deve ocupar, sim, um lugar relevante no presente para que nunca mais possa ser repetido. 

Os erros e os danos são irreversíveis. Ir buscar ódios ao passado nada traz de bom. Mas atitudes diferentes, positivas, podem e devem ser adoptadas e postas em prática. A sua inclusão efectiva no sistema de ensino seria uma delas.

Houve um homem, político, filósofo e combatente, dotado de inteligência e visão fora do comum que preconizava o entendimento entre os povos. Na Assembleia da República uma deputada fez referência a esse grande Africano, Amílcar Cabral. 

Tenhamos em mente as suas palavras e o caminho que tentou indicar aos homens do seu tempo:

"Como sabe, nós temos uma longa caminhada juntamente com o povo português. Não foi decidido por nós, não foi decidido pelo povo português, foi decidido pelas circunstâncias históricas do tempo da Europa das Descobertas ... Há essa realidade concreta! ... [§] Nós marchamos juntos e, além disso, no nosso povo, seja em Cabo Verde seja na Guiné, existe toda uma ligação de sangue, não só de história mas também de sangue, e fundamentalmente de cultura, com o povo de Portugal. [...] Essa nossa cultura também está influenciada pela cultura portuguesa e nós estamos prontos a aceitar todo o aspecto positivo da cultura dos outros" aqui


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Libertação através da Cultura - aqui, no Xaile

Rumores da História - aqui no Xaile

15 comentários:

  1. É preciso aprofundar na historia e desta refazer passos,
    redirecionar rumos no futuro tendo em mente preservação da liberdade, cultura e tradições. Fazer valer o respeito pela leis e ter em mente, que há uma contínua luta de conscientização de todos dos valores da democracia em sua definição.
    Bom artigo e partilha Olinda.
    Viva Portugal livre do fascismo.
    Meu abraço com carinho e feliz semana.

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  2. Que aproveitemos esta "brecha" para exorcizar os fantasmas do passado e assumirmos o que fizemos de mal e de bom. O discurso do nosso Presidente foi excelente. As palavras de Amílcar Cabral apontando a realidade concreta, num discurso de extrema tolerância e compreensão dos factos deve fazer-nos pensar.
    Obrigada minha Amiga Olinda por este texto. Muita saúde.
    Uma boa semana.
    Um beijo.

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  3. Gostei deste texto para recordar outros tempos! :)
    ~
    Silêncios que vagueiam na minha fantasia ...
    ~
    Beijo e uma excelente semana.

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  4. Gostei do discurso do PR, há mesmo que enfrentar o passado sem medo e sem vergonha!

    Abraço

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  5. Excelente texto, Olinda.

    Só falando e discutindo o tema, sem receios nem tabus, se exorciza os fantasmas e as mentes se abrem a novas perspetivas futuras.
    Algo começa a mudar, fico feliz com isso.

    Um beijinho e feliz semana,

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  6. Muito bom quando lemos e tentamos rever fatos que possa desencadear ações justas. Que a data histórica seja não só um marco mas também uma maior conscientização de todos, em particular dos governantes para que o processo da democracia seja real e não só palavras vãs.
    Gostei do texto Olinda, meu abraço e boa semana pra Ti.

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  7. Querida Amiga, li este teu texto fabuloso, logo pela manhã, mas, o almoço e mais tarde, as minhas funções de avó, impediram-me de o comentar mais cedo. Tratas um tema pertinente que, se o lessem, muitos combatentes nas ex-colônias agradecer-te-iam, emocionados. Não estou a exagerar, Amiga! Este assunto é muitas vezes falado, com certa tristeza, aqui em casa. O meu marido ( nessa epoca namorado ) e o meu irmão estiveram na Guiné; eles eram amigos de infância e amigos continuam até hoje; estavam nesse país, precisamente quando se deu o golpe de estado ( preparavam-se para o regresso) e quando souberam da notícia, a euforia foi tão grande que até os ex inimigos se juntaram à festa. Eles eram inimigos, eram os chamados de " turras ", mas, se pensarmos bem, eles todos eram " irmãos ", eram portugueses, os de lá e os de cá e estavam ali a lutar uns contra os outros, porque a isso foram obrigados; a guerra não era deles! O meu marido e o meu irmão vieram dessa guerra sem qualquer trauma, porque eles não queriam ser heróis e não tinham intenções de dar um único tiro a não ser em extrema necessidade. Até hoje, têm amigos que lá fizeram e com os quais se encontram sempre que podem. Sabes qual é o trauma que não conseguem esquecer? Precisamente o de terem sido sempre ignorados pelos sucessivos governos pôs vinte e cinco de Abril. Às vezes, o meu marido diz que parece quererem castigå-los por não terem gugido, por terem obedecido ao Salazar. Que alternativa tinham eles? Fugir e não poderem voltar a Portugal? Muitos fizeram isso e às vezesm é dito cá em casa que fizeram muito bem. Agora, como bem dizes, já começam a reconhecer o valor dos ex combatentes, como são chamados, mas, durante estes anos todos não houve qualquer ajuda e há muitos a precisarem dela, tanto no aspecto financeiro, quanto no psicológico. Esse é o único lamento que têm os meus, irmão e marido, felizmente sem problemas causados por essa guerra que ninguém entendeu. Em minha casa sofria-se bastante, Olinda! Como já disse várias vezes, o meu pai era taxista da aldeia onde viviamos e nesse tempo os carros eram muito poucos e os poucos que havia, não tinham condutores capazes de ir a Lisboa; foi o meu pai muitas vezes, com os familiares destroçados, buscar os restos mortais de jovens que por lá faleciam ; cada vez que isso acontecia, a angústia era muita, pois pensávamos que qualquer dia poderia ser o corpo do meu irmão. Felizmente, voltou ele, voltou o meu marido e tantos outros conhecidos, mas, muitos e muitos lá morreram e com certeza os restos mortais tambem por lá ficara, Querida Amiga, os erros foram cometidos e não há maneira de os apagar, mas não é justos que se esqueçam aqueles que, tanto de um lado, quanto do outro, lutaram, sofreram horrores e perderam a vida nunca guerra inútil ( será que há alguma útil? ) que nenhom português entendeu. Amiga, pelo meu irmão, pelo meu marido , por todos os que conheço e pelos tantos que desconheço, muito obrigada por lembrares, aqui, um assunto que já há muito deveria ter sido ensinado nas escolas. Os jovens não sabem nada sobre isso a não ser aqueles cujos pais ou avós sofreram " na pele " as dores de uma guerra, Tenho que te agradecer, mas também tenho de me desculpar pelo tamanho do texto, Amiga! Será que um abraça dovtamanho do mundo e carregadinho de amizade faz as duas coisas? Sim! Creio que sim!
    Emilia 🙏 🌻

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    1. E, agora....corrigir..
      Terem fugido...por lá ficaram...justo...nenhum
      Tamanho do..
      Beijinhos e boa noite!
      Emilia

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  8. É preciso ter em atenção que a maioria das pessoas no mundo conhecem perfeitamente a história, com todos os abusos, injustiças, sofrimentos,
    que os humanos fizeram uns aos outros
    mas também atos de coragem e de humanidade em tempos muito difíceis
    isso não é verdade que não conhecemos
    e também conhecemos o uso que muitos fazem dela para "adormecer" os presentes com acusações e espalhando ódios,
    evitando focar as desigualdades e as injustiças atuais
    no passado é como no presente existiam pessoas más e existiam pessoas boas
    e quem ensina a história tem na maioria das vezes posições radicais e
    quase fundamentalistas

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  9. Pois é, Olinda, na verdade todos os povos de fala portuguesa devem estar atentos para as obras de história que forem escritas contando os episódios mais importantes das conquistas portuguesas e dos fatos que as cercaram. De minha parte, tudo o que encontro nesse sentido chamam-me atenção, embora as obras não sejam de número apreciável.
    Gostei muito dessa postagem.
    Uma boa semana.
    Um abraço.

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  10. Boa tarde Olinda,
    Um texto belíssimo, muito lúcido sobre a história passada, que influenciou o futuro e que deve ser bem dissecada de modo a que sejam esclarecidos os factos de modo a que nenhuma das partes se sinta lesada, mas antes esclarecida. É a falar que os homens se entendem.
    Um beijinho e uma boa semana.
    Ailime

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  11. Olá, querida amiga Olinda!
    Li poucos posts realistas do seu 25. O seu é um deles.
    Temos tendência também aqui no Brasil de acharmos que estamos "livres"... Ainda falta tanto e só não podemos desanimar de lutar.
    Gostei muito quando diz sobre buscar as origens da parte dos que ainda vivos estão. Testemunhas oculares que podem ainda dar força aos que estão na atualidade
    Tenha uma noite abençoada!
    Beijinhos carinhosos e fraternos

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  12. texto de enorme importância, não apenas pelo que propõe (o debate sobre a Guerra Colonial), mas sobretudo porque, com a evocação de Amílcar Cabral e a trnscrição do texto, coloca, em minha opinião, o tema no ponto certo: os povos das Colónias e o povo português foram todos, pelo mesmo "acto de vontade", vítimas do fascismo português e da cegueira política de Salazar.
    a libertação do povo português implicava, pois, a libertação dos Povos das Colónias.

    gostei muito do texto, Olinda

    abraço

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  13. É (será) bom olharmos a História de frente. Excelente texto e excelente proposta.
    Beijo

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  14. Aqui está um tema que nos é muito caro. Há combatentes que demoraram anos a falar sobre o que viveram Outros por lá deixaram a vida. E Portugal tem demorado a fazer uma análise, a interpretar a história e a deixá-la esclarecida. Têm aqui pleno cabimento as palavras de Amílcar Cabral.
    Que o entendimento entre os povos norteie o passos da humanidade!

    Beijos, querida amiga Olinda.

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