Para que serve a História? Pergunta feita mais do que uma vez aqui neste espaço, acabando quase sempre por não encontrar uma resposta que se enquadre na espuma do tempo que temos vindo a atravessar. Diz-se que precisamos conhecer o passado para avaliarmos o presente e prepararmos o futuro.
Mas, na realidade, não é o que constatamos. À História como disciplina e matéria de investigação não tem sido dada a importância devida. Depois admiramo-nos da ignorância que lavra não só em relação à nossa própria história como no que se refere à história mundial.
Mas, na realidade, não é o que constatamos. À História como disciplina e matéria de investigação não tem sido dada a importância devida. Depois admiramo-nos da ignorância que lavra não só em relação à nossa própria história como no que se refere à história mundial.
Sabemos que ela, a História, servia, essencialmente, para cantar os feitos individuais dos heróis, ou seja, centrada em personalidades, acabando por ser uma crónica de acontecimentos, une histoire événémentielle.
A partir do movimento historiográfico de L'École des Annales, fundada por Lucien Febvre e Marc Bloch em 1929, verifica-se a tendência para se ir mais além, focando-se na substituição do tempo breve pelos processos de longa duração com o objectivo de tornar inteligíveis a civilização e as mentalidades.
Fernand Braudel continua essa visão, preponderante nos anos 1960 e 1970, e Jacques Le Goff conduz a terceira geração dos Annales, que ficou conhecida como a Nova História, segundo a qual toda a actividade humana é considerada história, rompendo assim com a compartimentação das Ciências Sociais (História, Sociologia, Psicologia, Economia, Geografia humana e assim por diante) e privilegiando os métodos pluridisciplinares.
Fernand Braudel continua essa visão, preponderante nos anos 1960 e 1970, e Jacques Le Goff conduz a terceira geração dos Annales, que ficou conhecida como a Nova História, segundo a qual toda a actividade humana é considerada história, rompendo assim com a compartimentação das Ciências Sociais (História, Sociologia, Psicologia, Economia, Geografia humana e assim por diante) e privilegiando os métodos pluridisciplinares.
Nisso deveria centrar-se o estudo e a análise da pegada humana. E são tantos e tão variados os temas que compõem o percurso da humanidade. Um deles, que parece incluir todos os outros, é a tendência de dominação de uns povos em relação a outros. Dominação concretizada através de invasões, guerras, espoliações, tanto no plano económico como no do roubo da identidade e dignidade. E esta problemática conhece o seu maior alcance quando se fala da escravatura. Se queremos entender essa questão deveremos ser estudiosos e interessados. Há que ir buscar a sua génese ao princípio de tudo, desde que o mundo é mundo.
Muitas das obras monumentais que continuamos a admirar, fazendo turismo, é fruto de trabalho escravo. Lembram-se das pirâmides? E isto é apenas um dos muitos casos. Povos aculturados, dominados nas suas tradições, como por exemplo, homens cultos da antiga Grécia levados para servirem de preceptores a filhos dos grandes de Roma, ficando em situação de menoridade. E Reis africanos que, muito embora praticassem a escravatura entre rivais, foram depois levados a participar numa emboscada de proporções inimagináveis: a escravatura, em grande escala, de povos africanos conduzindo à sua dispersão por vários pontos do globo, muitos desconhecendo ainda o continente donde partiram os seus avós.
De nada vale andarmos por aí a destruir estátuas e a eliminar este ou aquele filme, livro, pintura, de listas elaboradas em dado momento, cometendo em muitos casos erros de avaliação. Uma das maiores lições que deveremos ir buscar ao passado é a vontade de não repetir erros cometidos em contextos diferentes daquele em vivemos.
Atentemos nisto: há muitas formas de escravatura que enfermam o presente. Continuamos a ser escravos de nós mesmos, dos nossos preconceitos e, muitos de nós, senhores daqueles a quem dizemos amar; a violência doméstica é sinal disso. Há também crimes de ódio recalcado, racismo latente e muitas vezes expressado de forma assustadora, como vimos há poucos dias neste Portugal de brandos costumes.
Além do mais, existe: a prepotência das autoridades e regimes que dificultam o acesso à justiça; o tráfico de seres humanos de forma mais ou menos encapotada, para realização de trabalhos vários, com anulação da identidade, bem como para exploração sexual.
Há tanto, tanto por que lutar e reclamar. Façamo-lo de forma séria e assertiva de modo a que nos entendam. Procuremos compreender e assinalar momentos do passado que tenham repercussão no presente. Para isso a História tem um papel relevante, devendo ser colocada no lugar que lhe é devido, para o nosso bem, na Educação, no quotidiano.
E lembremo-nos de que há especialistas na matéria: os historiadores. Esses deveriam ser chamados sempre que a nossa sanidade é posta à prova.
Boa quarta-feira, meus amigos.
Saúde.
====
imagem: daqui
Um texto muito assertivo. Para ler e meditar.
ResponderEliminarAbraço e saúde
Uma das maiores lições que deveremos ir buscar ao passado é a vontade de não repetir erros cometidos em contextos diferentes daquele em vivemos.
ResponderEliminarBoa tarde de serenidade, querida amiga Olinda!
Vejo que está antenada aos fatos para melhor assimilar e digerir o que se passa hoje...
Assim se dá em nós quando ultrapassamos o que nos revelam muitas vezes diferente dos fatos ou com alguma intencionalidade.
Tenha dias abençoados!
Bjm carinhoso e fraterno de paz e bem
Boa tarde. Um texto fabuloso. Bastante interessante!!
ResponderEliminar***
Folhas orvalhadas, e o coração enternecido
Beijo e uma excelente Quarta Feira! :)
Li e reli este texto fabuloso. Sem dúvida que a história de3ve estar sempre presente pois nos ensina e estimula a preparar o futuro.
ResponderEliminarQuanto ao tráfego de seres humanos, nomeadamente, para exploração sexual, penso que, como está a vida cada vez será mais um facto real.
É chamado o dinheiro fácil - para mim não é bem assim visto que a dignidade não há dinheiro que a pague - e muitas mulheres e homens, por falta de emprego, com filhos pequenos vêem em duas situações imediatas o pão para dar aos filhos.
A prostituição
O roubo
A verdade é que o poder político, em muitos casos, olha para o lado. Acredito que não será nada fácil governar um País. Se governar uma casa é tão complicado, nem imagino o que será governar um País.
Deixando cumprimentos
Uma análise da história da humanidade que enriquece e ajuda a melhor entendermos a sociedade e as leis que nos governam. Se cada um for aprimorando o conhecimento, será mais fácil tomarmos decisões em nome do progresso e da justiça.
ResponderEliminarNeste espaço os valores tomam a primazia.
Um grande abraço, minha querida Olinda.
Bom verão!
MUY INTERESANTE BLOG.
ResponderEliminarABRAZO
Minha querida Amiga Olinda, subscrevo tudo o que aqui escreveu. Que excelente lição sobre a História da História!
ResponderEliminarSublinho isto "De nada vale andarmos por aí a destruir estátuas e a eliminar este ou aquele filme, livro, pintura, de listas elaboradas em dado momento, cometendo em muitos casos erros de avaliação. Uma das maiores lições que deveremos ir buscar ao passado é a vontade de não repetir erros cometidos em contextos diferentes daquele em vivemos". Certíssimo!
Um grande beijo.
Querida Olinda, todos os dias passo aqui, sinto a maciez da seda deste xaile, confortavelmente sentada naquela poltrona no cantinho da sala e leio os teus posts sempre pertinentes, como é o caso deste; porém, saio sem nada dizer, o que é imperdoável, mas...sei que entendes...a fase não anda lá muito boa... A história, Amiga, mostra-nos principalmente, que o homem sempre teve a tendência de dominar aquele que considera mais fraco e, creio que assim vai continuar; as guerras são muitas por todos os lados e o motivo para elas continua a ser a sede de poder e a ambição pelas riquezas de um determinado pais, embora queiram convencer-nos de que estão preocupados com a ausência de liberdades fundamentais do povo. Sempre achei um disparate a destruição de estátuas, como aconteceu há pouco e também, por exemplo a mudança do nome da antiga ponte Salazar; foi um ditador, mas existiu e fez parte da nossa história; o que é preciso é explicar aos mais novos quem ele foi e o que era Portugal nesse tempo. Imagina o disparate, considerarem o filme " E tudo o vento levou " impróprio para os mais novos; afinal, retrata uma época, uma guerra que existiu e os filmes, as músicas, as estátuas servem para imortalizar factos que representaram uma era onde existia escravatura, racismo, violência de todo o tipo. Agora continuamos sofrendo desses males, infelizmente; o trabalho escravo continua, racismo também, violencia contra crianças e muita fome por esse mundo fora. A história deveria ensinar a não se cometer as atrocidades de outrora, mas para isso era preciso que acabasse a " prepotência de governantes e regimes totalitários " que se acham os " donos do mundo", que pensam que têm o direito de interferir na vida dos outros povos, na sua cultura, nas suas crenças, enfim...na sua maneira de ver e viver a vida. Há que respeitar a cultura de cada povo! Ê o povo de cada país que sabe se quer ou não mudar de governantes e não as ditas potências mundiais; estas não estão interessadas na felicidade do povo, mas, sim nas riquezas do país. Amiga, demorei, mas, como sempre, alonguei-me muito. Esta tua Amiga não tem jeito...ou não diz nada, ou diz demais. Espero que aí estejam todos bem. Por cá o virus ainda não nos apanhou, mas o receio continua. Um abraço carregadinho de amizade
ResponderEliminarEmilia
O texto que apresenta dá pano para mangas, como sói dizer-se, relativamente ao passado de cada povo e à Humanidade em geral, considerando que tudo se interliga. Na realidade, muito do que somos e fazemos hoje alicerça-se no nosso passado histórico.
ResponderEliminarSem contestar a informação que nos transmite e as sugestões de natureza reflexiva que aponta, diria, em relação à visão da História a partir dos feitos dos heróis, que estes foram possíveis porque, no contexto da sua época, foram capazes de saber interpretar o sentir e o querer do coletivo em que se movimentavam.
A destruição do património, a que se refere pela destruição das estátuas, é uma clara manifestação de ignorância cultural de quem recorre ao vandalismo e de incapacidade para discernir e avaliar os factos no seu contexto epocal, fazendo tábua rasa do que serviu para o avanço civilizacional.
Um texto bem apropriado considerando as liberalidades a que muitos se permitem atualmente, de uma forma violenta e condenável.
Enorme abraço de amizade.
Juvenal Nunes
Uma lição de História de Mestre. Que subscrevo, nomeadamente na crítica às atitudes actuais contra alguns símbolos (parece que a moda parou, felizmente). Todos somos anti-qualquer-coisa, mas ao partir para a violência perdemos a razão e poderemos, até, estar a produzir um efeito contrário ao desejado.
ResponderEliminarBom fim de semana, querida amiga Olinda.
Abraço.
excelente texto, a dar testemunho da qualidade deste espaço!
ResponderEliminara História, como a minha amiga, subtilmente esclarece,
é sempre a "história dos vencedores"...
e se é verdade que sempre houve escravos,
não é menos verdade que sempre os escravos se revoltaram.
gostei muito, amiga Olinda
Gosto muito de História, estou sempre a aprender e a estudar História. Fascina-me.
ResponderEliminarComo disse devemos aprender com ela para não repetirmos erros. Usá-la a favor da Educação, do civismo, do respeito, da humanidade...
Gostei muito deste texto
Obrigada pela partilha
Beijinho grande
Olá, querida Olinda, que bela postagem!!
ResponderEliminarOntem, vimos os 2 capítulos iniciais de 'Brasil Paralelo' uma série de documentários com o início de Portugal,sua formação, suas conquistas e depois o segundo capítulo com Portugal e Brasil. E falta o terceiro capítulo de mais 2 horas que assistiremos em breve, amanhã ou depois. Realmente a história do mundo é fantástica, eu adoro, estamos aqui em casa sempre às voltas com a História da formação de vários países. É apaixonante.
Teu espaço realmente enriquece, aplausos, amiga!!
Beijo, um bom domingo.
Continue cuidando-se.
Até mais!
Olá!
ResponderEliminarIgnorância, pois!
Nisso estamos na linha da frente!
Saudações poéticas!
Não se pode apagar o passado nem prever o futuro mas este será mais difícil se não conhecermos bem o passado e se não o aceitarmos.
ResponderEliminarTudo teve a sua razão de ser!
Abraço
Excelente lição sobre as Lições que da História deveria-mos requerer. Estou plenamente de acordo com o texto.
ResponderEliminarLamentavelmente há "aberrações" na História sempre que existe a pretensão de "apagar" ou esconder factos ou personagens que dela são parte.
Parabéns pelo teu "olhar a História".
Beijo
SOL
Muito interessante e importante teu post,Olinda! O que seria de nós hoje sem a História:? beijos, feliz AGOSTO! chica
ResponderEliminarBom dia minha amiga estou de volta as ondas e voltei poeticamente :-) Assim além de um abraço imenso estou a te convidar a participar do 11º Pena de Ouro, decidi reativá-lo, pois neste momento de clausura nada melhor que colocar a mente para funcionar, topas brincar? Não querendo vai uma visitinha no meu novo Ostra só para conhece-lo, ok! Beijos ♥ Eis o link https://ostra-da-poesia2.blogspot.com/
ResponderEliminarUma excelente lição de História, que deveria servir como reflexão e exemplo para a nossa vida actual! Grato por tão excelente texto!
ResponderEliminarUm abraço, Olinda!
A.S.
Olá minha querida Olinda estou até agora sentindo teu perfume no ar do Ostra da Poesia, valeu a visita, mas... como não fazes poesia se teu Xaile de seda é poesia pura! vai lá pega tua pena e arrisca um escrito. Beijos no coração!
ResponderEliminar
EliminarLinda e gentil Lindalva!
Um privilégio as suas palavras de apreço.
Acompanharei sim o "Ostra da Poesia", mas como leitora interessada
e apreciadora de boa Poesia. :)
Grata, por mim e pelo "Xaile de Seda".
Beijinhos
Olinda
A história mostra riquezas, mas também grandes erros ocorridos no passado. Estes, deveriam clarear as mentes e provocar transformações. Infelizmente, não tem gerado aprendizado e muito do que levou a grandes revoltas continua nos nossos dias. Bjs.
ResponderEliminar