As que procurei em vão,
principalmente as que estiveram muito perto,
como uma respiração,
e não reconheci,
ou desistiram e
partiram para sempre,
deixando no poema uma espécie de mágoa
como uma marca de água impresente;
as que (lembras-te?) não fui capaz de dizer-te
nem foram capazes de dizer-me;
as que calei por serem muito cedo,
e as que calei por serem muito tarde,
e agora, sem tempo, me ardem;
as que troquei por outras (como poderei
esquecê-las desprendendo-se longamente de mim?);
as que perdi, verbos e
substantivos de que
por um momento foi feito o mundo
e se foram levando o mundo.
E também aquelas que ficaram,
por cansaço, por inércia, por acaso,
e com quem agora, como velhos amantes sem
desejo, desfio memórias,
as minhas últimas palavras.
(1943-2012)
A obra de Manuel António Pina incidiu principalmente na poesia e na literatura infanto-juvenil embora tenha escrito também diversas peças de teatro e de obras de ficção e crónica. Algumas dessas obras foram adaptadas ao cinema e televisão e editadas em disco.
A sua obra se difundiu em países como França (Francês e Corso), Estados Unidos, Espanha (Espanhol, Galego e Catalão), Dinamarca, Alemanha, Países Baixos, Rússia, Croácia e Bulgária. aqui
Em 2005, em 9 de maio, foi feito Comendador da Ordem do Infante D. Henrique.
Um belíssimo poema de um poeta que conheço muito mal.
ResponderEliminarAbraço
será "que mais vale perder um amigo que perder a ocasião para dizer a palavra certa"? confesso o meu embaraço, até porque como bem diz o poema, por vezes, as palavras vêm ter connosco e não as reconhecemos e, por outro lado, são raros os amigos à prova de todas as palavras...
ResponderEliminar... no entanto há palavras que são "pedras vivas" que ficam a arder pela vida fora.
o poema é muito belo, Olinda!
que nunca as palavras se "entardeçam" no (dis)curso da vida !
abraço
Fantástica publicação. Adorei :))
ResponderEliminarHoje:-Pétalas de rosa em cálidos sorrisos
Bjos
Votos duma óptima Quinta - Feira.
Não conhecia Manuel Antonio Pina, belíssimo poema que tive o prazer de conhecer seu autor e ler; sim, 'Todas as Palavras' é lindo.
ResponderEliminarUm beijo, querida Olinda, bons dias pela frente!
Gosto da poesia do Manuel António Pina.
ResponderEliminarE este poema (boa escolha) não foge à regra.
Olinda, um bom fim de semana.
Beijo.
As palavras, tão esquivas e tão cúmplices…
ResponderEliminarManuel António Pina, um Poeta que não nos cansamos de ler. Foi bom encontra-lo aqui.
Um beijo, minha querida Amiga Olinda.
Querida Olinda, hoje, aproveitando um momento mais sossegado, vim ao xaile deixar umas palavras, mas não todas as que gostaria de escrever. É sempre assim, há palavras que são ditas sem necessidade, outras que precisariam sair e ficam " presas " talvez por medo do que provocariam e há ainda aquelas que estamos sempre a dizer e que nunca são demais; no entanto, há em cada um nós um arrependimentozinho por não termos dito mais vezes a palavra " amo-te " a quem já se foi, não termos dito que eram muito importantes para nós, que valiam muito a pena na nossa vida. Agora resta aprendermos e não pouparmos essas palavras de amor, de gratidão de incentivo, de elogio; elogiamos pouco, agradecemos pouco, incentivamos pouco; palavras de queixumes, essas, são muitas, amiga. Estive a ler os belos poemas que partilhaste connosco e não saberia escolher um como preferido; Achei muito interessante o que li sobre a palavra " idos "; sempre a aprender! Muito obrigada, querida amiga e, sempre que tiver oportunidade aqui estarei para apreciar a beleza dos teus posts. Sabes que estás sempre no meu coração e a falta de palavras minhas aqui no xaile não significa falta de amizade; esta palavra para mim é preciosa e sei que, sem procurar muito, a encontro sempre por aqui. Um beijinho, um bom fim de semana e muita saúde para todos vós
ResponderEliminarEmilia
As palavras fazem parte da nossa vida e acompanham-nos até ao nosso final.
ResponderEliminarMaravilhoso poema.
Bom fim de semana
Beijinhos
Maria
Poema que é parte de nós, do nosso viver, do nosso sentir. Quem não se identificar com Manuel António Pina, pode saltar fora.
ResponderEliminarParabéns pela escolha e selecção.
Beijo
SOL
Palavras! Quantos usos e desusos se não a sabemos empregar
ResponderEliminarE que sabedoria deste maravilhoso poeta com belas palavras veio nos encantar
Beijinhos doces perfumados de poesia
Bom dia de nova semana, querida amiga Olinda!
ResponderEliminar"As que calei por serem muito cedo,
e as que calei por serem muito tarde,
e agora, sem tempo, me ardem;"
Interessante as palavras que querem ser e não são.
Um poema de lamento de uma certa forma. Eu senti
Tenha dias abencoados!
Bjm carinhoso e fraterno de paz e bem
Como doem palavras fugidias, perdidas ... como dói o viço que tiveram e como se amam as que nos deixaram ...
ResponderEliminarA obra de Manuel Pina merece o nosso enorme apreço.
Grande abraço, querida Olinda.