te lavo e lavro
palavra / pão
polida pedra
de construção
do quanto faço
deste edifício
em que elaboro
fé e ofício,
te esculpo e bruno
verbo/canção
no diário labor
de artesão.
te louvo lume
e pedra d'ara
com que ergo o templo
da flor mais cara
e clara: poesia
com que reparto
os sóis do meu dia
o suor do meu dia
o fel do meu dia
as mazelas do homem
as amargas vidas
o pão subtraído
as pagas devidas
a paz relativa
a justiça rara
a fome de todos
a morte na cara
da criança. o aço
que o corpo nos cava,
a fé o cansaço
desta luta brava
a fartura a poucos
de muitos tomada
o chão proibido
a água negada
o amor que rareia e
a festa sonhada
.......................
palavra larva
semente pura
que em mim explodes
de sons madura,
te lavo e lavro
verbo / canção
te louvo lume
poema / pão
manhã sonhada
meu sim/meu não.
(1907-2005)
Foi um dos principais elementos do movimento Claridade. Poeta, romancista, contista, ensaísta, conferencista. Duas vezes laureado com o Prémio Fernão Mendes Pinto e ainda o do Meio Milénio do Achamento das Ilhas de Cabo Verde, ambos para ficção. (...)In: no Reino do Caliban, pg. 101
O realismo na sua escrita poética
O realismo apresenta em Cabo Verde particularidades próprias. Se em Portugal e noutros países foi um movimento literário e ideológico-político empenhado em soluções transformadoras da sociedade pela via da função social da arte, pela desmistificação da consciência e pela oposição ao capitalista e ao burguês, em Cabo Verde, por razões naturais, geográficas e sociais contextualiza-se assumindo outras preocupações. Manuel Lopes, com o tempo, sem esquecer o plano subjectivo, envereda por uma escrita poética com implicações objectivistas tematizando os problemas crioulos mais prementes: seca, isolamento, fome, emigração. A objectividade e a subjectividade são, por isso, duas características do realismo cabo-verdiano. Os paradigmas, São Vicente-Mar (urbanidade) e Santo Antão-terra (ruralidade) e ainda a dinâmica de oposição entre o partir/ficar enformam decisivamente a sua poesia. (...)
Meus amigos:
Desejo-vos um bom fim-de-semana.
Abraços.
=====
NOTAS:
a) Disparidades no nome e local de nascimento:
Optaria por este último, tendo em conta que Manuel Ferreira elaborou a "Antologia panorâmica da poesia africana de expressão portuguesa", - publicada em 1975.
Brito-Semedo, Esquina do Tempo, no seu artigo o Claridoso Manuel Lopes, grafa o local de nascimento como sendo "São Nicolau". Penso que posso terminar aqui a minha busca.
b) Poema: daqui
Confirmei a autoria do Poema no site de António Miranda, visto não estar assinalada a obra donde foi extraído.
Imagem: daqui
Me ha gustado visitar tu blogs.
ResponderEliminarBuen fin de semana
Olá, Olinda, não conhecia o poeta que morreu aos 98 anos.
ResponderEliminarUm belo poema que me dás a conhecer o qual achei maravilhoso.
Gratíssima, amiga!
beijo, um ótimo fim de semana.
Boa noite de paz, querida amiga Olinda!
ResponderEliminar... "Poesia
com que reparto
os sóis do meu dia
o suor do meu dia
o fel do meu dia"...
Fiz o recorte por ter me identificado com ele. Assim e a poesia tambem.
Tenha dias felizes!
Bjm carinhoso e fraterno de paz e bem
Gostei de ler.
ResponderEliminarNão conhecia o poeta. Raramente ou quase nunca procuro poetas. A minha busca é sempre nas poetizas. E depois tenho agradáveis surpresas como esta.
Abraço e bom fim-de-semana
Espantosa fluência no dizer. Isto é poesia muito, muito bela e boa.
ResponderEliminarParabéns pela escolha.
Beijo
SOL
MARAVILHOSO!
ResponderEliminarMais palavras são desnecessárias.
Obrigada, querida Olinda.
Beijo.
"palavra larva/semente pura/que em mim explodes/de sons madura"
ResponderEliminarhá palavras assim, que inesperadamente nos visitam e ficam como uma música familiar, por tão esperada.
poesia simples e bela como as pérolas a desfiar nos dedos.
feliz por conhecer aqui mais um poeta extraordinário
grato, amiga Olinda
abraço
Com palavras bem esculpidas o poeta nos brinda com esta pérola
ResponderEliminarMagnifico poema amiga Olinda
Beijinhos
Maravilhoso poema, não conhecia o poeta, muito obrigado pela partilha.
ResponderEliminarBom fim de semana
Beijinhos
Maria
Divagar Sobre Tudo um Pouco
Na verdade
ResponderEliminarpor vezes respiram por guelras
Bj
As palavras, sempre tão cúmplices, sempre tão necessárias. Lindíssimo este poema de mais um poeta desconhecido para mim. Como gostei de o encontrar aqui, minha Amiga Olinda.
ResponderEliminarUma boa semana.
Um beijo.
Simplesmente bela esta publicação :))
ResponderEliminarHoje:- Quando a minha alma naufragar...
Bjos
Votos de uma óptima Segunda - Feira.
Muito interessante este poema, feito com palavras simples, formando frases muito curtss e ao lê-las sentimos uma sonoridade seca, dura, talvez para assim, melhor mostrar a vida simples, mas muito dura, muita seca daquele povo. Não conhecia este poeta e também gostei de saber a diferença entre o realismo dos escritores portugueses e o realismo deste cabo- verdiano. Achei muito interessante e nunca pensei que houvesse dois tipos de realismo. Aprendi muito neste post, querida Olinda e agradeço-te muito esta partilha de conhecimentos. Espero que estejam todos bem aí em casa, querida Amiga. Um beijinho e boa noite
ResponderEliminarEmilia
Realmente este poeta traduz a alma de um povo, de forma cativante. Não fosse a poesia a mais bela forma de comunicar.
ResponderEliminarGrata pela partilha, querida Olinda.
Beijos.
Outro poeta que desconhecia, realista, mas numa senda diferente.
ResponderEliminarObrigada por esta pérola!
Bjo