Uma suave tentativa, um ligeiro sopro
às portas do silêncio. Uma perda
de tudo, do próprio sentido e do desejo.
Ser nada mas habitar o instante e os seus murmúrios
na infinita dispersão. Entre ruínas,
nos confins de uma terra acinzentada
em que as nuvens e as árvores se confundem,
tudo tem sabor a destino e a princípio,
a plenitude ou nada. E a palavra vibra
silenciosa, unânime, quase ébria
de um deus vegetal entre cigarras.
O mar cintila já. O exílio quase cessa.
O que é breve perdura em grávida leveza.
António Ramos Rosa
(1924-2013)
in: Facilidade do Ar
pg.8
(...)
O que mais nos toca nesta belíssima poesia não ocorre, assim, ao nível de qualquer pendor confessional, mas sim graças à sua ideia de atingir um conhecimento ignorante: condenado à imanência (e à iminência) de uma fala que detém o poder de nomear, mas que se sabe efêmera, o poeta procura ligar o "deserto" ao "oásis", difundindo a sua subjectividade por cada ínfima partilha do real, já que o sentido do mundo se encontra em todos os lugares e em lugar nenhum. (...)
Fernando Pinto do Amaral
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Imagem: Desenho de António Ramos Rosa - aqui
"[...] a plenitude ou nada[...]" é o todo duma passagem.
ResponderEliminarA vida vive-se assim.
Poema divinal, profundo, perfeito...
Parabéns pela escolha.
Beijo
SOL
Gosto da poesia do António Ramos Rosa. E este poema não foge à regra.
ResponderEliminarParabéns pela escolha.
Boa semana, amiga Olinda.
Beijo.
António Ramos Rosa, um dos grandes de Portugal!
ResponderEliminarConvidamos a ler o capítulo III do nosso conto escrito a várias mãos "Voar Sem Asas"
https://contospartilhados.blogspot.pt/2018/03/voar-sem-asas-capitulo-iii.html
Saudações literárias
"E a palavra vibra
ResponderEliminarsilenciosa, unânime, quase ébria
de um deus vegetal entre cigarras."
É assim a palavra de António Ramos Rosa. Os seus poemas são para reler sempre. Gostei de o ler aqui, Olinda.
Uma boa semana.
Um beijo.
https://poemasdaminhalma.blogspot.pt/
ResponderEliminarOlá Olinda Melo, passei e adorei, a "Breve passagem entre a cinza e o vento". Um belíssimo poema recheado de simbolismo e sentimento às portas do silêncio. Gostei muito!
Beijo e boa semana.
Luisa Fernandes
que melhor destino para o poeta que ser "ligeiro sopro/às portas do silêncio"? quem nos dera tão "grávida leveza"!...
ResponderEliminargostei muito também do desenho.
deixo um abraço, Olinda
" Ser nada mas habitar o instante..."
ResponderEliminarPerdermo-nos e encontrarmo-nos a cada murmúrio...
Grata por tão ditosa partilha, querida Olinda.
Beijinho.
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