Nos últimos tempos, o vernaculismo ganhou asas. Por via disso, importa dedicarmos um pouco do nosso tempo à busca reflexiva da sua significação, mas sem grandes aprofundamentos. Há o vernáculo que significa uma linguagem pura, livre de estrangeirismos e há o outro que peca por se exceder no emprego de gírias e de calões em sítios e situações para que não são chamados. Por qual optar? Depende.
Se considerarmos o segundo uma expressão do bom portuguesismo desta Lusitânia, então estaremos no caminho devido, como não podia deixar de ser, sendo como são alguns dos nossos putativos representantes e outras figuras gradas que dele mais têm feito uso, sempre que está em causa a discussão de temas que impliquem um grande envolvimento de interesses que, muitas vezes, não nos beneficiam em nada. Antes pelo contrário.
Temos ouvido pérolas e tropeços eivados de segundas ou mais intenções, como roubalheira, brincadeira, traição, buraco, cortes, pela boca morre o peixe, olhos embargados de lágrimas (e não voz), trepa, syrizando*, plafonamento*, enfim um sem-número de palavras que o Xaile não reproduz aqui por este ser um sítio de tolerância. Como o exemplo vem de cima, acredito que o seu emprego fará ou já fez escola e então não teremos com que nos preocupar. É tudo ao molho e fé em Deus.
Vejamos, contudo, o que diz João Medina, no seu livro Portuguesismo(s), porque nada como consultar quem tem voz na matéria. Logo no início, antes do prefácio, apresenta várias definições de portuguesismo extraídas de quatro dicionários. Vejamos estas:
1.Locução ou idiotismo próprio da língua portuguesa. 2. modismo próprio da linguagem do português lusitano; lusitanismo. 3.carácter distintivo do português e/ou Portugal. 4.sentimento de amor a Portugal, ao seu povo e/ou às coisas portuguesas.
Claro que por idiotismo optarei pela definição que o relaciona com a construção ou locução peculiar a uma língua. Mesmo assim não garantiria que as tais expressões vernáculas e portuguesismo sejam similares.
Já agora, mais uma pitadinha do que venho falando: João Medina, em Portuguesismo(s), apresenta um trabalho de grande dimensão, tendo como base a Identidade Nacional. Um trabalho de esmiuçamento, desde os símbolos até aos heróis, santos e mártires. Veja-se, por exemplo, a evolução ou cristalização do Zé Povinho, uma das imagens de marca da Nação. Este autor persegue, como nenhum outro, a desconstrução de vários mitos relacionados com o lusitanismo, com uma objectividade que dá gosto. Talvez não seja aquilo que muitos quereriam ler mas, digo-vos, é uma experiência ímpar.
Cá por mim, o Zé Povinho tem as costas largas. Normalmente, são-lhe atribuídas acções e intenções de conformidade com os objectivos e as ideologias de cada um. Aliás, se o visualizarmos com o seu ar matreiro e espertalhão, tal como Bordalo Pinheiro o idealizou, neste momento estará a rir-se a bom rir das cabecinhas pensadoras que por aí pululam. Por outro lado, é interessante verificar que ele é pau para toda a colher. Ou seja, nós.
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*Estrangeirismos em tempo de campanha, ou algo mais?
Ressalvo a cacofonia "como consultar", mas é o que se pôde arranjar.
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