Estão as praças,
Como ágoras de outrora, estonteadas
Pela concentração dos organismos,
Pelo uso da palavra, a fervilhante
Palavra própria da democracia,
Essa que dá a volta e ilumina
O que, por um instante, a empunhou.
Oh, os amigos, os abandonados,
Esses, os destinados ao extermínio,
Esses os belos despojados, nus,
Os que, mesmo nascendo no Inverno,
Pouco sabem do frio, gente que dorme
Na sombra do meio-dia, ouvindo o canto
Das cigarras, o canto sobre o qual
Hesíodo escreveu. Gente do Sul,
Gente que um dia se desnorteou.
Como ágoras de outrora, estonteadas
Pela concentração dos organismos,
Pelo uso da palavra, a fervilhante
Palavra própria da democracia,
Essa que dá a volta e ilumina
O que, por um instante, a empunhou.
Oh, os amigos, os abandonados,
Esses, os destinados ao extermínio,
Esses os belos despojados, nus,
Os que, mesmo nascendo no Inverno,
Pouco sabem do frio, gente que dorme
Na sombra do meio-dia, ouvindo o canto
Das cigarras, o canto sobre o qual
Hesíodo escreveu. Gente do Sul,
Gente que um dia se desnorteou.
33.
De que armas disporemos, senão destas
Que estão dentro do corpo: o pensamento,
A ideia de polis, resgatada
De um grande abuso, uma noção de casa
E de hospitalidade e de barulho
Atrás do qual vem o poema, atrás
Do qual virá a colecção dos feitos
E defeitos humanos, um início.
Que estão dentro do corpo: o pensamento,
A ideia de polis, resgatada
De um grande abuso, uma noção de casa
E de hospitalidade e de barulho
Atrás do qual vem o poema, atrás
Do qual virá a colecção dos feitos
E defeitos humanos, um início.
Do Bibliotecário de Babel trago estes dois excertos dum post denominado: Dois fragmentos finais (de A Terceira Miséria).
Hélia Correia, sabemos quem é, pela sua obra, pela sua competência nas letras, pela sua polivalência em termos de géneros e de estilos. Ainda não há muito tempo foi notícia ao ser agraciada com o Prémio Camões. Em 2013 recebeu o Prémio Casino da Póvoa.
E...
Do Sul, mais a Sul, chegam-nos gritos de desespero. Tenhamos a coragem de sentir essa dor como nossa. Apropriemo-nos de ideias sublimes que o nosso pensamento, a nossa melhor arma, nos induz e procuremos criar um lar de hospitalidade para os deserdados da sorte.
Um bom domingo para todos. :)
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Imagem da Net
Palavras intensas! A poesia delineia com maestria a miserabilidade daqueles que foram abandonados à própria sorte. Sorte que lhes foi tirada pela falta de sensibilidade e respeito de pequenos grupos dominantes da sociedade. Gostei muito do poema Olinda
ResponderEliminarBeijos e um domingo feliz e abençoado
Os sinais são mais que muitos do estrebuchar dum certo sistema. Quem estiver minimamente a par das movimentações do mundo não pode deixar de se preocupar com estes acontecimentos. A harmonia é cada vez mais uma utopia.
ResponderEliminarUm bom domingo!
❤ه° ·.
ResponderEliminarQue os nossos corações sensibilizem com as lágrimas de quem foi obrigado a abandonar o próprio lar.
Bom domingo!
°ه✿♫ Boa semana!
°ه✿ Beijinhos.
ºه✿✿ ♫° ·.
Um poema ou parte dele, que é uma pedrada no charco, dos grandes senhores do mundo, que deixam que esta situação persista.
ResponderEliminarUm abraço e bom domingo.
O ser humano é egoísta e só se preocupa com ele próprio...
ResponderEliminarNoutro dia vi num jornal online fotografias que pensei serem montagens. Eram pessoas na praia, a tomar banhos de sol, lado a lado com emigrantes africanos que desembarcam exaustos, como se nada de estranho se estivesse a passar...
ResponderEliminarBeijinhos, boa semana!
Sábias palavras pelos lamentos que associam aos desvarios dos homens (do sul).
ResponderEliminarUm belo Poema sobre os egoísmos.
Beijos
~~~
ResponderEliminar~ Uma publicação inteligente e emocionante.
~ Um problema de humanidade
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que devia ter sido muito bem abordado e estudado pelas Nações Unidas.
~ Afinal para que serve o Alto comissariado para os refugiados?!
~ Infelizmente, a Europa não os pode receber como mereciam...
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
~ Há portugueses a pedir esmola nas ruas de cidades alemãs...
~ Temos tanta gente no limiar da pobreza...
~ Tenho a certeza que serão bem tratados, mas é muito difícil
integrá-los por falta de trabalho e proventos capazes de pagar
a empregados,,,
~~~ Que venham melhores dias! ~~~
~~~~~~~ Abraço amigo. ~~~~~~~
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
De certa maneira, lembra-me a praça da Sé no coração de São Paulo, abrigo de miseráveis, menestréis, mulheres da vida, viciados, perdidos e deserdados de tudo e de todos...
ResponderEliminarUm abraço Olinda, bjs.
Como diriam os antigos, isto é o fim do mundo! Ou um regresso ao passado mais negro!
ResponderEliminarBeijinhos