quinta-feira, 20 de março de 2014

Poesia Haiku: Um caminho pessoal de despojamento e de procura do essencial (7)





1

Onda a onda
O mar
Se anuncia.

2

Cada onda do mar
É um oceano
De mensagens.

3

Persistente
O mar desdobra
Repetidos lençóis

4

Vista do mar
A terra
Não tem equilíbrio.

5

Por vezes o silêncio
Do mar
Prepara tempestades.

6

Pelo mar
Fomos.
Pelo mar somos.

7

Durante a noite
O mar
Espelha solidões.

8

Sereno ou medonho
O mar é o amante
Infatigável da areia.

9

O mar era imenso.
Grande era a terra.
Faltava o navegador.

10

Frente ao mar
Que voz é esta
Que nos seduz?

11

No cimo da onda
A gaivota espera
A dádiva do mar.*

12

Águas do mar
Que olhos te seguem?
Que segredos segredas?*


Liberto Cruz


* Estes asteriscos aparecem na publicação, assim como estão, e referenciam: 'Publicados em Sequências'.


in:

DE FRENTE PARA O MAR, pgs.96 a 107, Colectânea integrada por dez poetas portugueses e organizada por David Rodrigues.


Voltando ao Prefácio, continuo a registar aqui as palavras de David Rodrigues:
Dez poetas portugueses contemporâneos aceitaram contribuir para que este livro que é, de certa forma, uma celebração da ponte que ligou Portugal e o Japão no século XVI: o Mar. "De Frente para o Mar" (e com a Europa nas costas) foi certamente a postura de sonho, de partida e de viagem que levou os navegadores portugueses a globalizar a geografia e as relações entre civilizações e pessoas. De frente, na fronteira do Mar. Hoje são diferentes as viagens e os seus meios; mas o sonho do outro e da distância permanece incólume como tão claramente se descortina nos haiku escritos neste livro. Pg.8



Vide Entrevista


NOTA: No citado livro os poemas não vêm numerados. Cada poema ocupa uma página.


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