segunda-feira, 17 de março de 2014

Poesia Haiku: Um caminho pessoal de despojamento e de procura do essencial (2)



1

Frente ao mar
o meu coração adolescente
pede-me que salte

2

O mar flutua,
cintila, exalta-se e depois...
um céu deitado

3

O peso do mar
na palma da minha mão -
uma gota de água.

4

A brisa do mar
alheia-se, embriagada,
da miséria humana

5

A maré rebenta.
Abrem-se as tuas areias
e grito. Silencias

6

Lágrimas salgadas -
o mar permanece nos olhos
desde o princípio

7

As areias perdem-se
no mar: regressam à praia
cavalos de água

8

As ondas do mar
acompanham-se umas às outras - 
 e eu tão só

9

E tudo são conchas -
ossos musicais que podiam
ser relva ou bronze

10

Um petroleiro
No mar também habitam
animais doentes

11

Uma débil brisa
no ar. A barca no mar
quase não deixa rasto

12

Escrevo poemas, música
perfeita: terei esquecido
os ritmos do mar?


Casimiro de Brito

in:

DE FRENTE PARA O MAR, pgs. 26 a 37, Colectânea integrada por dez poetas portugueses e organizada por David Rodrigues que, no prefácio, nos diz:


Um haiku procura, o que designa no Japão 'haimi' o que poderia ser traduzido como "sabor do haiku" uma qualidade que, como afirma o poeta japonês Ban'ya Natsuishi, é um mistério que não pode ser explicado mas que pode ser compreendido. O poeta brasileiro Manoel Bandeira dizia, sobre o haiku, evocando a marca de subtileza que esta poesia tem, que se trata de "estremecimentos, murmúrios ou mastros de perfume".






NOTA: No citado livro os poemas não vêm numerados. Cada poema ocupa uma página. 

1 comentário:

  1. É um tipo de poesia diferente. Me desculpe a ignorância, mas antes de ler a explicação eu pensava que eram pensamentos.
    Um abraço

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