quinta-feira, 6 de março de 2014

A lua e o teixo






Essa é a luz do espírito, fria e planetária.
As árvores do espírito são negras. A luz é azul.
As ervas descarregam o seu pesar a meus pés como se eu fosse Deus,
picando-me os tornozelos e sussurrando a sua humildade.
Destiladas e fumegantes neblinas povoam este lugar
que uma fila de lápides separa da minha casa.
Só não vejo para onde ir.

A lua não é uma saída. É um rosto de pleno direito,
branco como o nó dos nossos dedos e terrivelmente perturbado.
Arrasta o mar atrás de si como um negro crime; está mudo
com os lábios em O devido a um total desespero. Vivo aqui.
Por duas vezes, ao domingo, os sinos perturbam o céu:
oito línguas, enormes confirmando a Ressurreição.
Por fim, fazem ecoar os seus nomes solenemente.

O teixo aponta para o alto. Tem uma forma gótica.
Os olhos seguem-no e encontram a lua.
A lua é minha mãe. Não é tão doce como Maria.
As suas vestes azuis soltam pequenos morcegos e mochos.
Como gostaria de acreditar na ternura...
O  rosto da efígie, suavizado pelas velas,
É, em particular, para mim que desvia os olhos ternos.

Caí de muito longe. As nuvens florescem,
azuis e místicas sobre o rosto das estrelas.
No interior da igreja, os santos serão azuis,
pairando com os seus pés frágeis sobre os bancos frios,
as mãos e os rostos rígidos de santidade.
A lua nada disto vê. É calva e selvagem.
E a mensagem do teixo é negra: negra e silenciosa.

Sylvia Plath
(1932-1963)

Pela Água
(tradução de Maria de Lurdes Guimarães)
In: Poemário- Assírio e Alvim 2012

Imagem: daqui

9 comentários:

  1. Não conhecia esta poetisa. Obrigada pela partilha.
    Um abraço

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  2. Querida Olinda,
    aqui está um Poeta maior!

    Beijinho

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  3. O poema é bom e eu não conhecia dada dessa poetisa.

    Beijinhos!

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  4. Em suas garimpadas literárias você acerta em todas. Impressiona pelos fortes laços poéticos que as encontram.
    Muito bom mesmo.
    Gosto disso!
    Já de volta do recesso carnavalesco.
    Abraço

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  5. OI OLINDA!
    UM TEXTO COMPLEXO, MAS, DE MUITA BELEZA.
    BOA ESCOLHA.
    ABRÇS
    http://zilanicelia.blogspot.com.br/

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  6. Na cegueira da lua calva e selvagem
    que reflete uma luz que não é sua.
    E na pretensão do teixo que cresce
    para a lua alcançar de forma sombria
    mas também silenciosa...
    surge o Homem, cego e ganancioso
    que faz com que a noite tenebrosa
    ofusque a beleza do dia...

    Bjo*

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  7. Você nos traz poetas de linguagem rica, que nos fazem ler e reler para captar o sentimento que inspirou a escrita. Isso é muito importante. Bjs.

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  8. A lua sempre inspirando poetas/poetisas.Gostei muito.
    Desejo que esteja bem.
    Bom fim de semana.
    Bj.
    Irene Alves

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  9. Olinda, minha querida
    A minha visitinha hoje é forçosamente rápida, porque estou a utilizar um portátil (não estou em casa), e isto não me dá jeito nenhum -:)
    A tua escolha da poetisa Sylvia Plath foi, como já é norma desta casa... muito feliz.
    Deixou-nos uma obra muito boa (não sei se leste o livro dela, que é também muito interessante).

    Um FELIZ DIA DA MULHER, minha querida, e bom fim de semana.
    Beijinhos

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