Queridíssima Olinda, que prazer ler aqui em seu Xaile, o meu poeta maior! João Cabral é para mim o maior dentre todos (repare bem, para mim, questão de escolha e identificação). O poeta que conta o meu Nordeste brasileiro, o Recife, o mangue, os rios que atravessam a cidade ('como a fome atravessa um cão sem plumas' - parte de um outro poema dele, que gosto muito, O Cão sem Plumas), entranhado com influências andaluzas, e elementos catalãs, dado o tempo em que viveu nessas duas regiões de Espanha.
João Cabral é um poeta ácido, cerebral, meticuloso, artífice da palavra, como já pudemos ver nesse excecional A Palavra Seda. Para ele não havia poesia sem transpiração, sem estruturação; a poesia lapidada, burilada, um lirismo carregado de emoção, palavras que correspondem aos sentimentos, aos resultados mais profundos do que há de humano em cada um de nós, e que nem sempre demonstramos ou sabemos como dizê-los, João Cabral, diz. Cabral sabe nos conduzir em seus poemas, como se fôssemos viajantes de primeira viagem, como se o mundo só se descortinasse agora diante de nós.
Inclusive recria para o local, e para o visitante, o Recife tão conhecido de todos, entrecortado por seus quatro principais rios, a vida em suas margens, a morte em suas margens, a miséria de quem vive nas margens, dependurados em palafitas, como se fossem parte natural do cenário; como se nas veias desse homem recifense, nordestino corresse junto com o sangue, a lama e o rio. E sua pele ressecada como a lama que seca quando a estiagem castiga a região, e o leito do rio se torna esquálido, quase vazio...
Por algumas vezes, aventou-se, que um dia a Academia de Oslo iria lhe galardoar com um Nobel de Literatura, em função da importância da sua poesia, infelizmente não aconteceu. A sua poética configura-se entre as maiores do século XX, no Brasil, e também no mundo. Vale a pena dar uma lida em "Morte e Vida Severina", (mais) um grande livro dele, um auto de natal, narra a vida de um retirante, Severino, vindo da Serra da Costela, limites com o estado vizinho, Paraíba. Uma leitura que permite ao leitor, apropriar-se de um Brasil miserável, mas tão real e sofrido como quando da época do seu lançamento. Uma narrativa-denúncia, com um forte cunho social. E eu vou parar de "falar", porque senão eu vou ficar insuportável. É que publicaste um poema do meu nº 01 da poesia, desculpe a minha empolgação, amiga!!
Beijos!
Deixo aqui alguns linkes para a vossa apreciação e apropriação da nossa cultura, para entenderes mais o contexto e o sentido da poética cabralina.
E o auto aqui: http://www.culturabrasil.pro.br/zip/mortevidaseverina.pdf
Canto da Boca
»»»»»
Pensam que este comentário foi produzido agora, na publicação de 'O cão sem plumas'? Não, não, isto vem de trás aquando da publicação de 'A Palavra Seda'. Mas já antes Canto da Boca nos tinha falado de João Cabral de Melo Neto e da sua escrita, quando publiquei 'O Advento', de Jorge Luís Borges, argentino, que, por sinal, ela própria nos indicara. Como vêem neste entrelaçamento a cumplicidade e o intercâmbio se tecem. Ou isto não seria o Xaile de Seda, um xaile que, a cada dia, se vai tecendo...
Obrigada, Canto.
Olinda
João Cabral é um poeta ácido, cerebral, meticuloso, artífice da palavra, como já pudemos ver nesse excecional A Palavra Seda. Para ele não havia poesia sem transpiração, sem estruturação; a poesia lapidada, burilada, um lirismo carregado de emoção, palavras que correspondem aos sentimentos, aos resultados mais profundos do que há de humano em cada um de nós, e que nem sempre demonstramos ou sabemos como dizê-los, João Cabral, diz. Cabral sabe nos conduzir em seus poemas, como se fôssemos viajantes de primeira viagem, como se o mundo só se descortinasse agora diante de nós.
Inclusive recria para o local, e para o visitante, o Recife tão conhecido de todos, entrecortado por seus quatro principais rios, a vida em suas margens, a morte em suas margens, a miséria de quem vive nas margens, dependurados em palafitas, como se fossem parte natural do cenário; como se nas veias desse homem recifense, nordestino corresse junto com o sangue, a lama e o rio. E sua pele ressecada como a lama que seca quando a estiagem castiga a região, e o leito do rio se torna esquálido, quase vazio...
Por algumas vezes, aventou-se, que um dia a Academia de Oslo iria lhe galardoar com um Nobel de Literatura, em função da importância da sua poesia, infelizmente não aconteceu. A sua poética configura-se entre as maiores do século XX, no Brasil, e também no mundo. Vale a pena dar uma lida em "Morte e Vida Severina", (mais) um grande livro dele, um auto de natal, narra a vida de um retirante, Severino, vindo da Serra da Costela, limites com o estado vizinho, Paraíba. Uma leitura que permite ao leitor, apropriar-se de um Brasil miserável, mas tão real e sofrido como quando da época do seu lançamento. Uma narrativa-denúncia, com um forte cunho social. E eu vou parar de "falar", porque senão eu vou ficar insuportável. É que publicaste um poema do meu nº 01 da poesia, desculpe a minha empolgação, amiga!!
Beijos!
Deixo aqui alguns linkes para a vossa apreciação e apropriação da nossa cultura, para entenderes mais o contexto e o sentido da poética cabralina.
A letra do Chico Buarque para a encenação do musical: http://letras.mus.br/chico-buarque/90799/
O musical completo você pode ver aqui: http://www.youtube.com/watch?v=u3R3s5XeB-w
E o auto aqui: http://www.culturabrasil.pro.br/zip/mortevidaseverina.pdf
Canto da Boca
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Pensam que este comentário foi produzido agora, na publicação de 'O cão sem plumas'? Não, não, isto vem de trás aquando da publicação de 'A Palavra Seda'. Mas já antes Canto da Boca nos tinha falado de João Cabral de Melo Neto e da sua escrita, quando publiquei 'O Advento', de Jorge Luís Borges, argentino, que, por sinal, ela própria nos indicara. Como vêem neste entrelaçamento a cumplicidade e o intercâmbio se tecem. Ou isto não seria o Xaile de Seda, um xaile que, a cada dia, se vai tecendo...
Obrigada, Canto.
Olinda
Estou sem saber o que dizer, logo eu que falo pelos cotovelos, que saio disparando palavras feito uma metralhadora, mas disparos do bem... Eu já havia vindo aqui, mais de mil vezes, porque não é fácil comentar sobre o João Cabral, e os motivos todos, querida Olinda, tu já os conheces. E agora tu me honras publicando meu comentário, fruto dessa paixão irrefreada, obrigada é pouco, é um nada diante da sua grandeza, desse gesto de propaladora da cultura, da cultura lusófona, ainda que tenham outros sotaques, outros acentos. Eu particularmente acho isso lindo! E que coisa isso tudo é um comentário, como sou prolixa!
ResponderEliminarEntretanto esse meu prolixismo é mínimo diante da grandeza do gesto, o que apenas ratifica em mim a admiração, o carinho, o respeito e a amizade que tenho por ti. Só tenho que agradecer, e ficar feliz por saber que agora és leitora também de João Cabral de Melo Neto. Vale dar uma lida também em "Educação Pela Pedra".
Um beijo, amiga e meu melhor obrigada por tudo!
:))
EliminarCanto da Boca
Minha querida amiga
O comentário que teceste quando postei a 'Palavra Seda', é tão rico que não poderia ficar escondido numa caixa de comentários. Nele nos transmites não só a tua admiração pelo grande poeta João Cabral como também elementos preciosos sobre a sua escrita, os locais onde se desenrola, as suas preocupações sociais e culturais, tudo isso com grande paixão e com o teu cunho tão pessoal e inconfundível.
As informações que nos ofereces levam-nos a amar o poeta antes de o ler e, logo a seguir, a procurá-lo para comungar do sentir e da forma de ver o mundo de um dos maiores poetas da língua portuguesa. Um burilador da palavra, como bem dizes, nesta bela língua que é a de todos nós. Nós, os muitos milhões de falantes do espaço lusófono e o que a torna tão singular é a forma como cada um a torna sua, emprestando-lhe roupagens mágicas de conformidade com as coordenadas geográficas e, mais importante ainda, com a cultura genética das nossas raízes.
Nem sempre o reconhecimento oficial acontece quando devia, infelizmente, como é o caso de João Cabral. Mas em compensação temos pessoas como tu que o lêem e são veículo ideal para a transmissão todos os valores desta arte de escrever, de pensar e de intervir na sociedade.
Minha querida, eu é que te agradeço tudo o que tens trazido ao Xaile de Seda, todo o enriquecimento traduzido em palavras de ouro bordadas com carinho e amizade.
Para ti o meu apreço, amiga.
Beijinhos
Olinda
Gostaria de partilhar contigo a minha postagem extraordinária (a regular é publicada ao dia 14 de cada mês) que publiquei hoje, dia 06/06, no meu blog A CASA DA MARIQUINHAS
ResponderEliminarDesde já o meu bem hajas!
PS - Desculpa o "copy & paste"
EliminarQuerida Mariazita
Lê o meu o comentário mais abaixo.
Bjs
Olinda
Olinda
ResponderEliminarVenho hoje para lhe desejar um feliz dia, com muita paz, alegria, amor a ti e aos teus, e principalmente à nação portuguesa!
Olinda, sabe o que me dói dentre tantas coisas que me decepcionam?
É saber e ver que tanto Brasil quanto Portugal não se unem no sentido de se darem as mãos, e se ajudarem! Quisera eu ser governo neste país...
Quisera eu ter palavra no sentido de ampliar nossas relações culturais e econômicas! Ah meu Deus... Jamais Portugal estaria se dobrando à troika, pois teria desse lado do oceano, uma nação filha, que estaria estendendo suas mãos para juntos construírem uma sólida estrutura, para que ninguém sofresse... Utopia, utopia...
E Olinda, se nem nós somos contemplados com a riqueza gerada pela não, como deveria, imagine pensar do jeito que eu penso... Seria muita presunção de minha parte?
Quanto ao João Cabral de Melo Neto, resta apreciar suas obras e dizermos com orgulho que esta nação gerou filhos brilhantes, que embora não reconhecido pala Real Academia, fica como ícone de nossa história.
A ti, um beijo grande nesse coração iluminado.
EliminarCaro amigo Antônio
O seu coração é tão grande e generoso como essa terra brasileira cujos filhos ilustres nos dão tantas alegrias. E o meu amigo Antônio é exemplo disso, com a sua escrita aureolada de sentimentos de inestimável valor espiritual e de amor pelo seu semelhante.
E mesmo agora nas suas palavras se vê todo o carinho que tem por nós e por esta terra portuguesa.Já tivemos aqui, noutros momentos, a oportunidade de sentir a magnitude da sua solidariedade e do apreço que tem por nós.
É verdade, tem razão, entre amigos verdadeiros tudo se resolve, nos momentos de aflição eles se revelam; com um aperto de mão, com um abraço se firma um acordo, uma ajuda baseada na palavra dada.
Infelizmente entre Estados as coisas tomam outros cambiantes, têm razões que ultrapassam o nosso entendimento emocional, fundadas antes de tudo no 'deve e haver', com técnicos e teóricos a estudar os prós e os contras, com a magna ciência política a encabeçar tudo. E no meio disto tudo ficamos nós, como bem frisa, na utópica vontade de resolver as coisas com o coração nas mãos.
João Cabral de Melo Neto,um ícone, um homem brilhante que, com as suas obras nos une e nos predispõe a tomar parte neste concerto de que ele é o maestro por excelência.
Caro amigo,
Um grande abraço e muito obrigada.
Olinda
Não gosto de usar “copy & paste”, mas a necessidade a tal me obriga.
ResponderEliminarRecorro a este sistema porque é a única hipótese que tenho de agradecer, atempadamente, a todos que me acompanharam e dispensaram o seu o carinho numa data para mim tão importante. Não tem a mínima importância que alguns de vós não tenham vindo no próprio dia. No dia seguinte ou nos seguintes tem, para mim, igual valor. A vossa amizade é-me preciosa, SEMPRE.
Como se mete agora um fim-de-semana comprido (feriado dia 10 de Junho - «Dia de Portugal»), só na próxima semana começarei a visitar cada um separadamente. Mas não deixarei de o fazer a todos.
Entretanto deixo um GRANDE “Obrigada”!
Beijinhos
EliminarQuerida Mariazita
Quisera ter ido visitar-te logo logo no momento em que aqui vieste. Fui um bocadinho depois do dia 6, mas estive sempre contigo no pensamento.
Fiquei emocionada com a homenagem que prestaste ao teu marido, baseada em doces e inesquecíveis recordações.Desejo que sintas sempre em teu coração essa imensa força.
Muitos beijinhos.
Olinda
Olá Olinda,
ResponderEliminarUm xaile de seda que envolve palavras e afectos. Ou uma casa com mesa posta onde é bom vir dar uns dedos de conversa.
Beijinhos, Olinda!
EliminarQuerida UJM
Essas suas palavras definem bem o que eu sinto. É na verdade assim que eu vos vejo, comigo, em amena cavaqueira ou trocando impressões, recebendo dos vossos corações todo esse manancial de conhecimentos e que me oferecem de forma tão natural e desinteressada.
Como sabe, já lho disse algumas vezes :), os seus blogues são motivo de grande inspiração para mim.
Inteligência e sensibilidade, num jeito só seu.
Beijos
Olinda