Deus nos dê boa noite. Boa noite nos dê Deus. Era este o ritual de todos os dias quando o Sol se punha e Manês acendia o candeeiro a petróleo. Tínhamos que estar atentos para não falharmos a resposta.
Manês, mesmo com relógio, regia-se pela luz solar. Levantava-se ainda a estrela d'alva se fazia ver. Então, era aquele cafézinho acabado de torrar, moer e parar, com cachupinha guisada, ovo estrelado, carne assada. O almoço era na altura em que a sombra da casa chegava mais ou menos à porta e o jantar, esse, era servido ainda o Sol ia alto.
Deitava-se cedo e, a partir daí, Manês era dona absoluta da sua chave. Já adultos, quando íamos passar algum tempo com ela, lembro-me que a hora de ir para a cama continuava a ser sagrada. Se pretendêssemos dar uma voltinha ao luar e saborear o fresquinho da noite, Manês não saía da porta enquanto não chegássemos.
Depois de todos acomodados, ela tinha então o seu momento de meditação: ela, o seu rosário e o seu canhóte. Este era a sua pequena fraqueza (não lhe conheci outra) e quase que um segredo, pois só fumava quando já todos estavam a dormir e uma única vez. Mas, quanto ao rosário desfiava-o durante o dia sempre que os seus afazeres o permitiam.
Contudo, Manês ia à Igreja muito raramente. Não sei se por a capela distar um bocado de casa ou porque o relacionamento com o seu Deus fosse harmonioso, tornando-se dispensável a intervenção de terceiros.
continua...
Contudo, Manês ia à Igreja muito raramente. Não sei se por a capela distar um bocado de casa ou porque o relacionamento com o seu Deus fosse harmonioso, tornando-se dispensável a intervenção de terceiros.
continua...
Texto de uma grande amiga:
Dufinha Santos
Manês - Mãe Inês; Parar o café - Fazer o café; Cachupa - Prato típico de Cabo Vede; Canhóte - cachimbo
Imagem:internet
Manês - Mãe Inês; Parar o café - Fazer o café; Cachupa - Prato típico de Cabo Vede; Canhóte - cachimbo
Imagem:internet
Olinda querida:
ResponderEliminarFico à espera de mais, para comentar.
Abraço grande
Maria
Talvez a avó Manês soubesse, porque um anjo lhe tivesse dito, que Deus atende aos pensamentos puros, às orações murmuradas que se soltam do coração, que às palavras inflamadas, ditas sem sentimento, nem reflexão.
ResponderEliminarTalvez...
;)
Existem pessoas cujas características nos marcam e são depois referencias vivas ao longo da nossa vida.
ResponderEliminarConheci algumas Manês
Belo texto...Espectacular....
ResponderEliminarCumprimentos
Oi Olinda.
ResponderEliminarRecordações fazem com que vivamos.
O texto me fez recordar a velha casa dos meus pais numa época distante...
Por isso as tuas janelas (do tempo)são recordações que evocam as minhas também.
Como neste singelo relato, revejo as fantasias, as brincadeiras, o cine Caboclo na Vila Matilde, e o primeiro filme que assisti lá junto com meu pai.
Uma música, um momento, uma saudade...
Beijos.
Continue..gosto de histórias.Quem escreve, relembra com saudade, quandoleio aproximo-me e vivo com o se dela fizer-se parte,
ResponderEliminarAté bnreve
Herminia.
Lindo este texto, Olinda e cá fico à espera da continuação. Conheço a lei Maria da Penha e funciona mesmo. Como sabes vivi muitos anos no Brasil e soube há poucos meses que um conhecido nosso tinha sido preso +por violência contra a 2ª mulher com quem se juntou; parece que tunha sido proibido de voltar à cidade onde ela morava; atreveu-se a isso e prenderam-no, Não me admiro nada, pois já de vez em quando batia na primeira só que esta nunca o acusou. Bem, Olinda, nisso o Brasil está bastante à nossa frente assim como a quem se negar a pagar pensão aos filhos; vai preso também. beijinhos e parabéns pela tua Manés. Voltarei para o próximo capítulo. Fica bem!
ResponderEliminarEmília
Uma descrição tão bela que momentâneamente trouxe uma espécie de nostalgia. O terço nas mãos penduradas de alguém que nos espera e o doce olhar para nos perder. E esse segredo íntimo que se esconde em cada um de nós: o nosso altar com a nossa espiritualidade que se funde com a nossa infância no nosso mundo1
ResponderEliminarGostei tanto de recordar!
Beijinho
OLá Olinda,
ResponderEliminarQue maravilhoso esse texto, um relato cheio de saudades. Aguardo a continuação.
Beijos e ótima semana!
Há mulheres santas
ResponderEliminarsem intermediários
Belíssimo texto
Olinda
ResponderEliminarAmigo tem que ser para sempre.
beijo amiga
Manês vivia sabedorias!
ResponderEliminarUm texto envolvente, explodindo afetos, e a memória renascida, histórias vividas. E nós vamos nos apropriando das tradições, a manutenção das tradições.
Ainda lembro da minha primeira cachupa, comi que passei mal, rs.
Beijos, Olinda, aguardo a continuidade da narrativa!
;)
Boa noite, salvação para as almas que andam perdidas, e Graças a Deus Nosso Senhor. Minha avó sempre dizia isto quando acendia o candeeiro de petróleo e minha mãe também sempre o disse quando ao fim do dia acendia a luz.
ResponderEliminarUm abraço e bom fim de semana
As vivências são o que prolongam sentimentos e lembranças. Queremos-las para rememorar o passado que é individual.
ResponderEliminarBeijos
SOL