terça-feira, 2 de outubro de 2012

Um assunto que nos diz respeito a todos

Aqui há uns três anos fui a uma festa do primeiro aniversário de uma sobrinhita e os pais tiveram a ideia de fazer a tal festa numa garagem. Quando assim é, tudo é mais rústico porque parece que isso é moda, regressar ao tradicional, enfim. O almoço foi servido numa mesa comprida, improvisada, ladeada por uns bancos compridos daqueles, já se sabe, sem espaldar. Bom. Estivemos umas quantas horas ali sentados... Quando resolvi levantar-me, além de ter de pedir licença a umas quantas pessoas para poder sair dali, descobri que não conseguia dar um passo sequer. 

Velhos e novos acercaram-se de mim a oferecer o braço, o sorriso, palavras amigas, solidariedade. Mas eu a todos arredei e preferi que me trouxessem o cabo de uma vassoura que vislumbrei a um canto. Naquele momento, parecia-me que só eu é que poderia calcular o instante exacto em que a minha estrutura óssea me permitiria mexer um músculo. Então, foi um exercício hercúleo entre respirar fundo, concentrar-me e contar, mentalmente, um, dois, três até conseguir dar o primeiro passo e depois outro e mais outro, muito lentamente. Para entrar no carro foi outro Deus nos acuda. 

Quando cheguei a casa, para subir os dois lanços de escada do primeiro andar foi um espectáculo, um pé num degrau e mais o outro pé no mesmo degrau, mais concentração, mais contagens mentais até que consegui chegar à porta, com os familiares atrás de mim com o credo na bocaForam dias em que não podia estar sentada, nem deitada, nem de pé. Tinha uma inflamação na região lombar, felizmente não se tratava de nada de que não me pudesse recuperar, com fisioterapia e muita paciência ficaria boa. 

Mas, a partir daquele dia comecei a prestar atenção às pessoas que me rodeiam, a outras que vejo de quando em quando, ou que encontro pela primeira vez, com o corpo curvado, ou andando de lado, ou coxeando, especialmente pessoas idosas. Destas, muitas desistem de andar porque custa muito, e ficam muito tempo sentadas e não têm ninguém para as incentivar. E assim, com o tempo, o corpo vai ganhando o jeito, a mesma posição para compensar a dor, até que deixa de cumprir as suas funções. 

Ontem, dia 1 de Outubro, algumas associações lembraram o Idoso e a sua realidade, o que é meritório porque serviu para chamar a atenção para esta faixa etária e as suas limitações. São vidas de muitas carências (especialmente afectivas) e de muitas enfermidades. Há pessoas idosas que vivem sozinhas, outras que vivem em lares esquecidos dos familiares e que vêem os dias a passar sem um sorriso ou um sinal de carinho. E ainda outras com a sua capacidade de locomoção muito comprometida e que já não conseguem tratar da sua vida diária.

Eis um assunto que nos diz respeito a todos. Cada um no seu bairro, na sua aldeia, na sua cidade, poderá fazer a diferença colaborando da maneira que melhor entender e lhe for possível.  

15 comentários:

  1. Felizmente sempre vai havendo quem siga o seu conselho!

    Beijinho para si!

    ResponderEliminar
  2. Olinda, sei bem o que isso é. Já tive uma inflamação lombar, devida a uma queda, e é um horror, não se consegue dar um passo.
    Consegui dar a volta, mas como o podem fazer os idosos com dificuldades, por vezes sem energia para tentar melhorar?
    Um problema a merecer reflexão.
    Bjs

    ResponderEliminar
  3. Querida Olinda:
    O meu filho mais novo, com 33 anos, tem muitos problemas de coluna. Um mês atrás, telefonou-me à meio da tarde, do emprego, porque não conseguia mexer-se. Fui ter com ele, foi ao médico, levou injecções, fez exames. Além do que já tinha, tem duas hérnias. Neste momento, está medicado, quase não tem dores. Dia 11 vai ao médico ortopedista. Tenho medo do que este irá dizer. Dói-me mais do que se fosse eu.
    Como vê, não são só os mais velhos que sofrem.
    Abraço grande
    Maria

    ResponderEliminar
    Respostas

    1. Minha querida Maria

      Infelizmente é verdade. Há muitos jovens com graves problemas na coluna. Também eu tenho um caso na família, neste momento está estabilizado mas já passou por momentos bem difíceis.
      Desejo de todo o coração que o seu filho, no próximo dia 11,traga boas notícias e possa fazer um tratamento que o alivie e alcance uma solução definitiva.
      Minha amiga,imagino a sua preocupação e sofrimento porque realmente quando se trata da saúde dos nossos filhos não há nada que nos dê descanso até eles estarem completamente bons.

      Beijinhos.

      Olinda

      Eliminar
  4. Nosso mundo precisa de muita solidariedade mesmo, só que ainda tem gente que faz de despercebido, não sabendo que um dia pode precisar de um auxilio humanitário.
    Vamos refletir e agir.
    Abraço

    ResponderEliminar
  5. Pois é, Olinda, nem me fale nisso. Sei bem do que fala pois ainda estou a sair de uma dessas, sem poder dar passo, sem poder subir e descer escadas. e agora olho e parece que só vejo gente com canadianas, gente a coxear, gente aflita para andar. E se eu tive apoio para tudo e, enfim, apesar de tudo ainda não estou a 'cair da tripeça'..., imagino bem o que é ter mais uns anos em cima, viver em casas antigas com escadas, não ter família ao pé. Uma aflição, um sofrimento.

    É importante que, de vez em quando, pensemos em quem se vê aflito para viver a vida com qualidade e dignidade. Por isso, este seu texto é muito oportuno.

    Um beijinho, Olinda.

    ResponderEliminar
  6. De folhas de Outono se coroa uma tonta
    Lancei pedras sobre as ondas furiosas
    Teimosamente arde neste peito uma raiva
    E vi muito lixo num covil de raposas

    As coisas que um poeta vê
    As coisas que que invadem uma alma demente
    Num silencio contaminador, estonteante
    Ouvi palavras de amargo presente

    Cheguei finalmente a uma certa praia
    Fiquei encoberto por uma mancha de gaivotas
    Na impressionante fachada da minha alma
    Fecham-se com estrondo todas as portas


    Doce beijo

    ResponderEliminar
  7. Olinda, quando uma sociedade é evoluída, não só os amigos e parentes se prontificam para estender as mãos aos idosos, como também os demais cidadãos.
    Infelizmente neste quesito, temos muito que evoluir, pois mesmo o governo daqui tentando mudar a mentalidade de muitos, esses muitos se fazem de surdos e cegos. Campanhas já forma criadas e veiculadas nos meios de comunicação. Mas a tal mentalidade miserenta, inescrupulosa e preconceituosa não desperta para o bom senso. À elas, o tempo lhes cobrará.
    Lindo post este portanto.
    Um abraço. Beijos.

    ResponderEliminar
  8. Um assunto que nos interessa a todos e que me entristece bastante. Tive cá os meus pais durante 40 dias e a minha tristeza foi grande ao ver que os 84 e 82 já lhes estão a pesar muito, tanto na lucidez, quanto nos movimentos. Para lá caminhamos todos se a vida assim o quiser e por isso devemos cuidar dos nossos idosos com todo o carinho e respeito. Infelizmente muitos são abandonados por aqueles a quem tudo deram e isso é uma coisa difícil de entender e aceitar. Parabéns, Olinda por nos trazeres esta reflexão que é necessária, pois a situação dos nossos idodos é deveras lamentável. Um beijinho, amiga e fica bem
    Emília

    ResponderEliminar
  9. Estou a visitar alguns blogs, e tive o privilégio de encontrar o seu, vi na pagina inicial o que escreveu, e como gostei folheei mais algumas páginas e fiquei maravilhado pelo que vi e li.
    Dou-lhe os parabéns, mas queria deixar um apelo continue assim dando sempre o melhor, boas mensagens, bons temas. Gosto de escrever, mas também gosto de ler bons temas, por isso é que parei aqui.
    Meu nome é: António Batalha.
    Sou um servo de Deus,e deixo aqui a minha bênção,que haja paz,amor na sua vida, muita saúde e felicidade.
    PS. Se desejar seguir o meu humilde blog, Peregrino E Servo, fique á vontade, eu vou retribuir, se encontrar seu blog.

    ResponderEliminar
  10. Pois é.....Ser velho é ...mas desistir da vida
    é bem pior....Há que lutar até ao fim..
    Beijo

    ResponderEliminar
  11. É mesmo assim, Olinda, excepto para meia dúzia de afortunados!
    Beijinhos, bom domingo!
    Madalena

    ResponderEliminar
  12. Olinda, como sempre dando-nos belas lições de solidariedade, o mundo esquece de como deve respeito aos mais velhos, tanto quanto os mais jovens, esses que os esquecem, parecem não lembrar que também envelhecerão, que a vida seguirá seu processo natural, se não houver o imponderável. E quando podemos, todos devemos ter cuidado em praticar alguma atividade física.

    Parabéns pelo poste,querida!

    ResponderEliminar
  13. Tem razão, Olinda, diz-nos respeito a todos, até porque não estamos a ficar mais novos e, se tivermos sorte, tb lá chegaremos, a essas idades avançadas.
    Mas é triste envelhecer, ir perdendo faculdades intelectuais, mobilidade, parece que se perde tb o lugar na vida dos outros, o lugar no mundo.Vi tudo isso acontecer com a minha avó, foi preciso fazer um grande esforço para contrariar essa tendência, esse "apagamento".Bem haja a minha mãe que cuidou tão bem até ao fim...

    ResponderEliminar