domingo, 6 de abril de 2025

Gargalhada

Quando me disseste que não mais me amavas,

e que ias partir,

dura, precisa, bela e inabalável,

com a impassibilidade de um executor,

dilatou-se em mim o pavor das cavernas vazias...

Mas olhei-te bem nos olhos,

belos como o veludo das lagartas verdes,

e porque já houvesse lágrimas nos meus olhos,

tive pena de ti, de mim, de todos,

e me ri

da inutilidade das torturas predestinadas,

guardadas para nós, desde a treva das épocas,

quando a inexperiência dos Deuses

ainda não criara o mundo...

Guimarães Rosa




João Guimarães Rosa (1908-1967) foi um poeta, diplomata, novelista, romancista, contista e médico brasileiro, considerado por muitos o maior escritor brasileiro do século XX e um dos maiores de todos os tempos. ver mais 



Caetano Veloso



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Poema: daqui
imagem: pixabay

19 comentários:

  1. Olá, querida amiga Olinda!
    Bom quando há um aviso prévio, se pode preparar pra a despedida derradeira.
    O duro é quando não há aviso nem despedida.
    A vida acaba por perder o sentido a quem fica ao léu.
    Escolheu bem o poeta a postar.
    Tenha uma nova semana abençoada!
    Beijinhos fraternos

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  2. Olá, amiga Olinda,
    Maravilha de poema aqui partilha. A forma graciosa como o poeta descreve a desilusão de amor é notável! De facto, o amor é por vezes agridoce.
    Gostei bastante deste poema de Guimarães Rosa.

    Deixo os votos de uma feliz semana, com tudo de bom.
    Beijinhos, com carinho e amizade.

    Mário Margaride

    http://poesiaaquiesta.blogspot.com
    https://soltaastuaspalavras.blogspot.com

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  3. Minha querida amiga Olinda,
    "João Guimarães Rosa", este gigante da literatura mundial, que amava diminutivos, fez das suas palavras parte do seu sobrenome, pois, plantou rosas na literatura em um jardim de possibilidades sem fim.
    Um abraço e boa semana!!!

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  4. Bello poema. Te mando un beso.

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  5. Grande Guimarães!
    Bom demais lê-lo aqui! Obrigada pela partilha Olinda!

    Saudades!!!

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  6. Gostei muito! Quero ler este autor que só conheço de ver citado, representado, etc...confesso que nunca peguei num livro seu, uma falha...

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  7. ¡Qué maravilla de poema! En los dos primeros versos me extrañó el título, después entendí su risa. Estupendo, gracias. Besos

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  8. Uma boa escolha poética.
    A poesia de Guimarães Rosa é magnífica.
    Boa semana.
    Um abraço.

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  9. Guimarães Rosa. Gostei de o encontrar aqui. E a gargalhada soou-me a choro...
    Uma boa semana, minha Amiga Olinda.
    Um beijo.

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  10. Uma escrita bem inteligente.

    Boa semana!

    O JOVEM JORNALISTA está no ar cheio de posts novos e novidades! Não deixe de conferir!

    Jovem Jornalista
    Instagram

    Até mais, Emerson Garcia

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  11. Olinda uma excelente escolha de poesia do Guimarães Rosa, boa semana bjs.

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  12. De Guimarães Rosa sobressai o meu amor e graças a ti, encontro um poema dele aqui! Guarda-lo-ei com carinho e afeição! Grata pela publícação! Abraço!

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  13. Passei por aqui para fazer uma vizita.
    Gosto sempre dos textos, qualquer dia arrisco um dos meus.
    boa semana, beijino
    Eugénia

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  14. Boa noite, amiga Olinda
    Passando por aqui, relendo este belo poema que muito gostei, e deixar os votos de um feliz fim de semana, com tudo de bom.
    Beijinhos, com carinho e amizade.

    Mário Margaride

    http://poesiaaquiesta.blogspot.com
    https://soltaastuaspalavras.blogspot.com

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  15. Olá, amiga Olinda
    Passando por aqui, para desejar um feliz fim de semana, com tudo de bom.

    Beijinhos, com carinho e amizade.

    Mário Margaride

    http://poesiaaquiesta.blogspot.com
    https://soltaastuaspalavras.blogspot.com

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  16. A Poesia de Guimarães Rosa é magnífica. Bem nos diz da desilusão no amor e dos caminhos que traça com maestria e vida.
    Adorei ler Guimarães Rosa nesta escolha maravilha.
    Obrigado, Olinda.



    Beijo,
    SOL da Esteva

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  17. Boa tarde Olinda,
    Um poema magnífico deste enorme vulto da cultura e língua Portuguesas.
    Obrigada por partilhar tão belo poema.
    Biejinhos e bom fim de semana.
    Emília

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  18. Bom dia, Olinda !

    Gargalhada, Guimarães Rosa opera o milagre literário de transformar o abandono amoroso em uma epifania existencial. A dor do eu lírico não explode — ela ecoa, cavernosa, ancestral, como se fosse um eco guardado desde "a inexperiência dos Deuses". A amada vai embora com a frieza de um destino já escrito, e o que sobra não é apenas sofrimento: é a lucidez trágica, quase cômica, de perceber o absurdo da dor programada.

    A imagem final da gargalhada não é de escárnio, mas de libertação — uma risada que desafia os roteiros predestinados da tristeza. O texto nos provoca a rir daquilo que deveria nos consumir, como quem entende que o drama é humano, mas o riso… o riso é divino, ou talvez, mais ainda, o riso é humano demais. Já estou te seguindo.

    Abraços fraternos
    Dan
    https://gagopoetico.blogspot.com/2025/04/alma-de-agua.html

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